Sociedade | 28-01-2025 21:00

Um promotor que faz figura de papalvo e um autarca que lhe dá colo

Fernando Freire ficou indignado com a reportagem de O MIRANTE sobre o projecto do Biopark e o promotor fechou-se em copas.

Fernando Freire reagiu com indignação à notícia de O MIRANTE sobre o descrédito que o projecto de Biopark já ganhou, e também não gostou de ser escrutinado sobre as várias declarações contraditórias que proferiu sobre o mesmo assunto. Fernando Freire sabe que em democracia a informação é uma mercadoria com muito valor, e que o seu dever era colaborar e não comportar-se como um velho do Restelo. As suas palavras, em vez de terem um efeito inibidor, como ele queria, só nos deram mais alento para prosseguirmos o nosso trabalho, ainda com mais vontade de mostrar serviço.
* * *
O MIRANTE recebeu um direito de resposta de João Paulo Rodrigues relativamente a uma carta de um leitor que punha o dedo na ferida na edição do jornal de 28 de Maio de 2023. Na altura, em conversa por telefone com O MIRANTE, João Paulo Rodrigues prometeu conceder uma entrevista logo que tivesse informações de relevância que pudessem contrariar a ideia, que é pública e notória, que o projecto não tem pernas para andar, e que alguém o anda a segurar com pinças.
Na página do Facebook do Biopark na “Apresentação”, o leitor depara-se com a seguinte mensagem: O BARK - Biopark Barquinha está em trabalhos, lentos, mas está em trabalhos”. Desde 2022 que a página não era actualizada; Tem um texto recente, do dia 9 de Janeiro de 2025 que reza o seguinte: “Caros seguidores, somos hoje obrigados a reagir a uma notícia negativa contra a nossa empresa e projecto. O seu conteúdo é lamentável (...). Não iremos comentar mais sobre este assunto de momento.”
O texto tem alguns erros de ortografia e gralhas. A conclusão sobre os bons argumentos do promotor, da organização da sua equipa e da imagem pública do projecto, fica para avaliação de quem nos está a ler e, quem sabe, dos autarcas da Barquinha que ainda acreditam em bruxas. O texto que deu origem na altura à indignação do empresário que se tem feito de “morto”, e agora à indignação de Fernando Freire, vai aqui ao lado em caixa para que tanto os autarcas como os empresários que não dão a cara, percebam que vivemos numa democracia, e que não há nada de pessoal na publicação destes textos: estamos só a dar visibilidade a negócios que devem ser do conhecimento público e a declarações dos políticos que ao longo do tempo se dizem e contradizem, o que merece escrutínio apertado ainda que isso lhes cause enjoos.

Biopark na Barquinha continua uma novela entre promotor e autarcas

O MIRANTE volta ao caso do Biopark da Barquinha que vai conhecer novos desenvolvimentos nos próximos dias. Para já, tanto o promotor como o presidente da câmara, Fernando Freire, ficaram aziados com as nossas notícias e responderam à boa maneira de quem se sente acossado.

Os autarcas da Barquinha, executivo e assembleia municipal, vão voltar a pronunciar-se sobre a cedência de cerca de 40 hectares de terreno para um projecto de construção de um hotel e de um designado Biopark destinado à preservação de animais, alguns deles em extinção. Será a 15ª vez que a Assembleia Municipal da Barquinha se pronunciará, desta vez numa situação incomum, tendo em conta que o presidente da câmara municipal, Fernando Freire, já anunciou diversas vezes que o terreno seria para aumentar a Zona Industrial. A decisão terá sido tomada depois das várias promessas falhadas do promotor, que tem feito figura de morto, e nunca mais apresentou garantias bancárias para a concretização do projecto, que não pusesse em causa a cedência do terreno. Segundo o autarca, em conversa com o jornal Entroncamento Online, a novela com o Barão Vermelho em Abrantes, que lesou o município abrantino em mais de um milhão de euros, graças ao facilitismo do então autarca Nelson Carvalho, nunca acontecerá na Barquinha. Questionado pelo jornalista do Entroncamento Online sobre o que estava a falhar nas promessas do promotor, Fernando Freire disse que não podia confessar, por razões éticas, mas foi claro na afirmação de que o empresário tinha falhado todos os prazos na apresentação das evidências financeiras para o projecto.
Tendo em conta que o empresário João Paulo Rodrigues resolveu sair da sua condição de “morto” ou “desaparecido” em combate, por alturas do último Natal, e terá apresentado documentos que dão alguma esperança de que o Biopark tem pernas para andar, Fernando Freire terá convencido o presidente da assembleia municipal a agendar o assunto para a próxima reunião. A sua esperança é que o empresário possa comprovar que os valores dos depósitos bancários que apresentou ao executivo sejam verdadeiros e destinam-se à execução do mesmo.
No texto que O MIRANTE publicou sobre este assunto, na edição do dia 9 de Janeiro, fazemos referência a uma contribuição do engenheiro agrónomo, Pedro Coelho, aquando da consulta pública do Biopark. As questões levantadas deitam por terra aquilo que, na sua opinião, parece ser “um projecto de um tipo excêntrico e endinheirado”, que se está a propor, sem apresentar qualquer estudo sério, “promover a conservação de elefantes na “recta da Atalaia”, adiantando ainda que o projecto é um “mega Zoológico”.
Tão pertinente como a opinião do engenheiro Pedro Coelho, é a intervenção de Henrique Garcia de Sousa, que termina o seu texto sobre a viabilidade do Biopark com a seguinte questão: “Se o objectivo do projecto é a construção de um bioparque por que motivo as infra-estruturas hoteleiras e de restauração, à excepção do restaurante dos Orangotangos, são construídas na primeira fase e as espécies vão sendo introduzidas em fases diferentes com largo intervalo temporal entre si? O projecto pretende a construção de um bioparque ou é um projecto hoteleiro?”
Importante ainda é a contribuição da FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, que também em tempo de consulta pública pede ao promotor que dê mais informações sobre que espécies de animais em vias de extinção é que os promotores pretendem trazer para o bioparque, assim como pedem demonstrações em como o aumento da “biodiversidade do local”, não seja à custa de animais de cativeiro nem de plantas usadas para ajardinamentos”.
A consulta pública, que teve 12 participações, tem ainda uma outra de grande pertinência, assinada José António Reis Costa, que pergunta: “tendo em conta que o projecto tem cinco fases distintas de construção, se for abandonado numa dessas fases, já com obras no terreno, quem é a entidade que fará o seu desmantelamento e suportará os custos?”

Autarquia quer evidências materiais fidedignas até 31 de Janeiro
O projecto do Biopark tem o estatuto de interesse municipal desde o dia 24 de Abril de 2019, concedido por unanimidade pelos autarcas da Barquinha. Quase seis anos depois, quando a câmara já se preparava para dar outros destinos aos terrenos, o promotor apresentou provas de um depósito bancário, com data de 19 de Dezembro de 2024, que, a juntar ao que já tinha sido indicado, totaliza cerca de 10 milhões de euros, tanto quanto vale o terreno. Juntou ainda documentos de um fundo estrangeiro, no valor de 45 mil dólares em tranches. No entanto, as verbas alegadamente depositadas não significam que o promotor está em condições de prosseguir com o projecto, tendo em conta que a autarquia não pode conferir a veracidade destes depósitos por razões do sigilo bancário. Entretanto, foi dado um prazo até 31 de Janeiro de 2025 para que a autarquia receba da parte do promotor evidências materiais fidedignas.

Bioparque evaporou-se e o presidente da Barquinha vai de fracasso em fracasso

O Bark, que em inglês significa latido de cão, foi apresentado em Fevereiro de 2019, em Vila Nova da Barquinha, como o primeiro bioparque que iria ser construído em Portugal por um tal João Paulo Rodrigues, que se apresentava, entre muitas outras coisas, como um empreendedor e apaixonado por animais. O investimento seria de 70 milhões de euros e a câmara municipal, através do seu presidente, Fernando Freire, chegou-se logo à frente disponibilizando-se para ceder uma área de 37 hectares para a implantação mesmo.
Três anos depois, em Janeiro de 2022, como o Bark, ainda não dera sinal de si, para além das ervas que continuavam a crescer a eito no local, o promotor prometia que até ao final desse ano iria haver muito parque e, provavelmente, algumas das mais de 120 espécies animais vindas de todos os cantos do Mundo.
Agora, com o promotor do Bark em parte incerta e incontactável, o presidente da câmara diz que não há problema porque o município não gastou nenhum dinheiro com aquilo e anunciou que o terreno vai ser a zona 2 da expansão do centro de negócios do concelho.
Mas a verdade é que há um problema. E o problema é o da falta de capacidade de Fernando Freire, que se despede da presidência da câmara no final do actual mandato sem ter acertado uma. E a sensação que se tem é que tanto ele, como o seu antecessor, Miguel Pombeiro, chegaram ao cargo porque tinha mesmo que se eleger alguém.

Rui Ricardo
O MIRANTE dos Leitores / 28-05-2023

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