Sociedade | 29-01-2025 13:27

Teatro Sá da Bandeira e Câmara de Santarém cancelam espectáculo e são acusados de censura

Teatro Sá da Bandeira e Câmara de Santarém cancelam espectáculo e são acusados de censura

O Teatro Sá da Bandeira, gerido pelo município de Santarém, cancelou a performance “El Universo no se asemeja a nada”, prevista para 5 de Março, o que levou a associação Parasita e o jornal Coreia a falarem de censura. Os visados rejeitam a acusação e alegam que o espectáculo não se enquadra na tipologia da sala de espectáculos.

A associação Parasita e o jornal Coreia acusaram a Câmara Municipal de Santarém e o Teatro Sá da Bandeira por cancelarem a performance “El Universo no se asemeja a nada”, acusando-os de censura e de tomarem uma decisão “arbitrária” e “moralista”. A apresentação estava programada para acompanhar o lançamento da edição número 12 do jornal Coreia, marcado para o próximo dia 5 de Março. A peça foi criada em 2019 e explora “um corpo não binário, que se apresenta nu e com o sexo escondido” que vive à margem da sociedade “que se desdobra numa jornada sonora escato-sexual”.
A decisão de cancelamento foi justificada pela direcção artística do teatro e pela Câmara de Santarém com base na “não identificação com a proposta”. Contactada pela agência Lusa, a câmara disse que não censura nada nem ninguém, considerando que "a performance não era a mais adequada para o Teatro Sá da Bandeira". A direcção artística do teatro, por seu lado, considerou a performance “artisticamente fraca”. No entanto, as entidades organizadoras consideram a medida uma forma de “censura” e uma tentativa de controlar a expressão artística.
“O jornal Coreia e a Associação Parasita condenam com veemência a censura da performance de Bruno Brandolino, interpretando-a como uma decisão moral por a direcção do Teatro Sá da Bandeira e a vereação da cultura da Câmara Municipal de Santarém 'não se identificarem' com a expressão coreográfica e corporal do artista”, referiram no dia 28 de Janeiro em comunicado. A associação interpreta a “não identificação” com a performance como uma tentativa “de silenciar corpos não normativos e divergentes”, especialmente pela natureza da obra, que explora temas “como a nudez, a sexualidade e a abjecção”.
“Um corpo nu, sexualizado, em questionamento, é um corpo historicamente censurado, não apenas em tempo de ditadura, mas também na história recente. Basta relembrar que em 2018 a então vereadora da Cultura da CMS 'denunciou uma actriz nua em palco a dizer asneiras, como um comportamento não digno para o teatro municipal' numa peça encenada por Pedro Barreiro”, lê-se no comunicado.

“Nós não censuramos nada, nem ninguém”

Em declarações à Lusa, o vereador com o pelouro da cultura, Nuno Domingos (PS), que é também actor amador, negou que a decisão seja uma forma de censura. “Nós não censuramos nada, nem ninguém. As pessoas são livres de fazer o que querem, mas também não prescindimos de ter uma palavra sobre aquilo que é apresentado num equipamento municipal pelo qual temos a responsabilidade”, declarou.
O vereador afirmou que a câmara concluiu que a performance não era a mais adequada para o Teatro Sá da Bandeira (TSB), embora reconheça que possa ser apresentada em outros locais. “Nós não temos condições para apresentar aquele tipo de proposta num teatro com a tipologia do Sá da Bandeira” disse Nuno Domingos, enfatizando que a decisão não está relacionada com a nudez, mas sim com a qualidade artística da proposta.
Nuno Domingos disse ainda que a decisão foi tomada em conjunto com o TSB, visando os interesses do município e do público, enfatizando que a autarquia respeita a liberdade artística, mas também tem a responsabilidade de avaliar o que é apresentado nos seus equipamentos culturais.
Já o director artístico do Teatro Sá da Bandeira, João Aidos, considerou a performance “artisticamente fraca”. “Nós olhamos para aquilo são os públicos, e considerámos que aquela proposta não era a mais indicada. Artisticamente, o espectáculo não acrescenta nada Se fosse outro programador, escolheria outros projectos. Numa perspectiva de relação com o território, em termos artísticos não me revia com a performance”, referiu.


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