Órgãos sociais do Centro Social de Casével demitem-se após queixas de funcionárias
Órgãos sociais do Centro Social de Casével apresentaram renúncia aos cargos depois de funcionárias denunciarem maus-tratos e ameaças por parte da presidente da direcção. Dirigente, que rejeita as acusações, não se demitiu mas perdeu o mandato.
Os órgãos sociais do Centro Social de Apoio à Comunidade de Casével, no concelho de Santarém, apresentaram renúncia aos cargos na assembleia-geral extraordinária realizada a 26 de Janeiro, depois de terem vindo a público queixas de funcionárias denunciando um clima de intimidação, assédio moral e medo por parte da presidente da direcção, que também é trabalhadora na instituição. Um duplo papel que, na opinião das funcionárias que falaram com O MIRANTE, representa “um conflito de interesses que tem levado a situações de abuso de poder”.
O grupo de funcionárias que falou com o nosso jornal salienta que “nada disto teria acontecido se os pedidos de ajuda tivessem sido ouvidos” por aqueles que tinham poder de intervenção e decisão. Por sua vez, a presidente da direcção, Rosália Violante, rejeita as acusações e explica que não se demitiu do cargo porque, em reunião anterior com as funcionárias, tinha ficado “acordado que ia haver mudanças”, admitindo algum “excesso de zelo” que possa ter “causado desconforto”. Embora não se tenha demitido, acabou por perder o mandato com a renúncia dos restantes elementos dos órgãos sociais, dos quais também fazia parte a directora técnica.
Referindo-se à presidente da direcção, as funcionárias alegam que “durante o horário laboral faz o que bem entende e usa o cargo para agir de forma que nos prejudica. Nós, funcionárias, temos sido desrespeitadas e desconsideradas”, referem, ressalvando que não estão, nem nunca estiveram a “atacar a instituição, nem a prejudicar os utentes”, mas a “exigir respeito e condições dignas para continuar a prestar o melhor serviço possível”.
Uma das funcionárias, que pede anonimato por receio de represálias, conta que a presidente da instituição a chegou a perseguir e, também, a uma colega. “Não quer que as pessoas que ali trabalham sejam amigas. Grita-nos e ameaça-nos várias vezes com processos disciplinares e despedimentos”, relata, sublinhando que há trabalhadoras de baixa médica psicológica por não aguentarem a pressão.
“Posso ter-me excedido nalgumas situações mas nunca no sentido em que as funcionárias se queixam”, refere Rosália Violante, que era presidente da direcção desde 2013, ressalvando que haver funcionárias nos órgãos sociais foi devido à falta de outros interessados.
Além do clima de medo em que dizem trabalhar diariamente, com insultos constantes e ameaças de despedimento, as trabalhadoras alertam para as fracas condições laborais na instituição que não cumpre rácios, nem tem actualizadas as tabelas salariais. A situação foi também denunciada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas, que reuniu com trabalhadoras à porta da instituição.
“As tabelas salariais não estão actualizadas, os rácios não estão completos... por exemplo, não têm cozinheira e quem faz essa função agora é a própria presidente da instituição que também é ajudante de acção directa”, diz ao nosso jornal a sindicalista Teresa Costa. Sobre os rácios, Rosália Violante refere que se trata de uma “instituição pequena que lida com dificuldades financeiras”, admitindo que possa ter havido falhas a esse nível devido a baixas médicas e acidentes de trabalho.
Funcionárias queriam mudança de liderança
Segundo a sindicalista, apenas seis trabalhadores estão a assegurar os serviços desta instituição particular de solidariedade social (IPSS) e a acompanhar os 20 utentes do centro de dia e os 24 utentes do apoio domiciliário. Ainda de acordo com Teresa Costa, o apoio domiciliário é prestado apenas por uma funcionária, o que “não é permitido”. As trabalhadoras ponderavam, antes da renúncia dos órgãos sociais, avançar para greve.
Um protesto que, salienta o grupo de funcionárias, “é um pedido de mudança, de uma liderança que inspire e apoie, ao invés de desmotivar, é nesta liderança que acreditamos e é esta liderança que temos por parte da nossa directora técnica, justa e motivadora”. A apresentação de listas para os órgãos sociais do Centro Social de Apoio à Comunidade de Casével pode ser feita até 3 de Fevereiro. A assembleia-geral electiva vai realizar-se a 9 de Fevereiro, a partir das 15h00, na sede da instituição.