Sociedade | 03-02-2025 10:00

Centro de recuperação de feridos de guerra em Ourém sem dinheiro volta-se para a comunidade

Centro de recuperação de feridos de guerra em Ourém sem dinheiro volta-se para a comunidade
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Dia aberto no centro de reabilitação de feridos contou com a presença de várias pessoas da comunidade que aproveitaram para fazer tratamentos. fotoDR

Sem apoios para dar continuidade ao tratamento de feridos na guerra da Ucrânia, propósito para o qual foi criado, o centro Fénix disponibiliza-se para tratar utentes sem acesso a cuidados de fisioterapia. Pedido de apoio à Câmara de Ourém vai partir da comunidade.

Com gabinetes médicos vazios, camas por ocupar e equipamentos de fisioterapia de última geração parados. É assim que se encontra o antigo seminário dominicano na Aldeia Nova, em Ourém, transformado num centro de reabilitação de feridos na guerra da Ucrânia. Desde Junho de 2024 que o espaço não recebe militares por falta de dinheiro e agora, numa tentativa de salvar o projecto que chegou a ser visto como um exemplo para a Europa, quer abrir portas à comunidade e tratar pessoas que precisem de cuidados de fisioterapia e psicologia.
Foi o que aconteceu no sábado, 25 de Janeiro, com vários utentes de lar e população local a beneficiar de massagens, iniciação a equipamentos de exercício físico, tratamentos de magnetoterapia, entre outros. “Há pessoas que estão 16 meses à espera de tratamentos de fisioterapia e nós aqui com máquinas do mais moderno que há...”, diz a O MIRANTE o responsável pelo centro Fénix, Ângelo Neto. Sublinha que também estão disponíveis para acolher pessoas com alta hospitalar, mas que “por falta de apoio familiar” permanecem nas unidades de saúde em internamento social, custando ao Estado 68 milhões de euros por ano, segundo o Barómetro de Internamentos Sociais.
Embora o propósito se tenha alterado, a associação Help UAPT- Ucranian Refugees continua a precisar de apoios para que a comunidade possa beneficiar dos tratamentos que contam com a acção voluntária de vários fisioterapeutas e psicólogos. “A população local vai fazer um pedido à Câmara de Ourém para que apoie o centro, para que nós possamos ajudar quem precisa”, anuncia Ângelo Neto ao mesmo tempo que lamenta os dois mil pedidos pendentes de feridos ucranianos a necessitar de tratamento. “É difícil, não os conseguimos trazer. Os nossos mecenas também têm as suas dificuldades, não podem estar sempre a ajudar. Sem outro tipo de apoios é impossível”, justifica.
Ângelo Neto diz não compreender como é que Portugal, mesmo tendo o centro Fénix disponível, não quis beneficiar de uma rubrica de fundos comunitários de cerca de 221 milhões de euros para o tratamento de feridos de guerra. “Temos tentado de tudo, inclusive disponibilizámos 20 vagas para veteranos de guerra do Ultramar, mas não tivemos qualquer resposta”, diz.

Centro serve de casa de acolhimento a refugiados
Os 15 militares ucranianos que o Fénix recebeu em Junho de 2024, muitos dos quais amputados e todos com feridas psicológicas, regressaram à Ucrânia após duas semanas de tratamento que, sublinha Ângelo Neto, “equivaleram a 90 dias de tratamento” se ocorressem no seu país de origem, em guerra com a Rússia desde 2022. “Alguns, inclusive, já regressaram ao campo de batalha”, afirma o responsável que já foi mais de uma dezena de vezes à Ucrânia desde que a guerra começou e se juntou à Help UAPT.
Sem mais feridos para tratar por falta de apoios, apesar dos muitos “pedidos de apoio ao Governo”, o Fénix está a ser casa de acolhimento para um grupo de cinco refugiados que não conseguiram integrar-se na sociedade portuguesa. Entre eles está uma idosa com leucemia e o seu filho, com doença mental. A este grupo juntam-se os mais de 10 voluntários que vão fazendo a manutenção do edifício, que foi cedido à associação pelos seus proprietários depois de anos sem qualquer utilização, para que não volte a ficar votado ao abandono.

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