Moradores da Granja apreensivos com instalação pecuária às portas da aldeia
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Presidente da Junta de Vialonga diz estar frontalmente contra o projecto e juntou a sua voz à de vários moradores da Granja que temem uma degradação da qualidade de vida. Empresário diz que os receios dos residentes são infundados.
A instalação de uma exploração pecuária em regime extensivo, com parcelas de terreno vedadas para criação de vitelas às portas da Granja, aldeia de Vialonga, está a deixar alguns moradores apreensivos e já há quem peça a suspensão do projecto. Os moradores temem que a sua qualidade de vida possa vir a ser afectada pela exploração e por isso aproveitaram a última reunião descentralizada do executivo da junta de freguesia, realizada na Sociedade Recreativa da Granja, para exigir respostas ao presidente, João Tremoço.
“Estão a fazer movimentações e aterros de terras, que têm impacto na ribeira, numa zona conhecida há muito por sofrer inundações e as pessoas estão preocupadas”, lamentou João Niza, morador da aldeia. O presidente da junta confirma já ter recebido várias queixas de moradores e ele próprio foi ver os movimentos de terras que estão a ser feitos. “A junta não concorda com uma exploração naquele local e vai-se opor firmemente a que isso aconteça. Todos sabemos os impactos que uma exploração destas provoca, além dos cheiros é também os impactos hidrográficos”, lamentou o autarca.
A O MIRANTE, a Câmara de Vila Franca de Xira confirma ter dado luz verde a um empresário para avançar com a exploração pecuária, por ser detentor de licença e título de exploração emitido pelo Ministério da Agricultura e Pescas. O local onde nasce o projecto, a Lezíria das Madrugas, está inserida em Reserva Agrícola Nacional (RAN), Reserva Ecológica Nacional (REN) e em zona ameaçada por cheias, explica a câmara, tendo um longo historial. Em 2006, foi feito um aterro sem o respectivo licenciamento municipal, tendo os trabalhos sido embargados. Em Fevereiro de 2024 o novo proprietário do espaço solicitou junto da câmara o cancelamento do embargo, informando que pretendia usar a propriedade para fins agrícolas e comprometendo-se a repor o terreno ao seu estado inicial.
“Nesta altura, o cancelamento do embargo está ainda condicionado à reposição da cota do terreno, sendo que estão a decorrer esses trabalhos, como se verificou numa visita técnica ao local realizada no início de Fevereiro”, explica o município. Actualmente, garante a câmara, a reposição da cota está a ser acompanhada pelo Gabinete de Planeamento e Inteligência Territorial da câmara.
Proprietário fala em receios infundados
O proprietário do espaço, Francisco Clamote, diz a O MIRANTE compreender os receios dos moradores, mas diz que estes são infundados. “Na exploração extensiva os animais rodam entre parcelas e obtêm a sua alimentação principalmente do pasto. Não há cheiros nem estrumes. Verifica-se uma adubação natural pelos animais nas pastagens e é sustentável e ambientalmente recomendado”, explica.
O proprietário garante que não está prevista qualquer construção no terreno e sobre as cheias que acontecem com regularidade na estrada de acesso à Granja, conhecida por Rua 1º de Maio, Francisco Clamote justifica tal facto com a subida das águas do rio Trancão. “A principal ribeira da Granja recebe as águas da plataforma do mercado abastecedor, provocando uma corrente significativa na mesma devido à impermeabilização havida. Esta não foi afectada pelas minhas obras em curso”, garante.
E explica que as movimentações de terras em curso estão enquadradas com os serviços municipais, visando recuperar o solo agrícola destruído há duas décadas. “Não por mim mas por uma empresa detentora do terreno na altura”, vinca. O empresário explica também que não há restrição de águas a montante da estrada, considerando que já foi reposta a vala anteriormente existente que tem elevada capacidade de escoamento. “Todavia, não é possível fugir ao nível do Trancão e ribeiras afluentes. A cota da estrada é de cerca de 4 metros. Está muito próxima das marés vivas. A vala no terreno e a ribeira da Granja são entidades diferentes, sendo que a vala é afluente da ribeira da Granja”, conclui.