População do Chouto protesta contra instalação de parque eólico à volta das povoações

Parque Eólico de Aranhas está a cargo da empresa Endesa e prevê a criação de 38 ventoinhas, duas linhas eléctricas e uma subestação que permite a ligação à rede.
Para a instalação será sacrificada uma grande área florestal do Chouto e de outras freguesias do concelho da Chamusca, situação que está a preocupar a população.
A população do Chouto realizou uma reunião no salão de convívio da aldeia para discutir a instalação de um parque eólico, que irá rodear não só o Chouto, mas também outras localidades do concelho da Chamusca. A reunião realizou-se no dia 1 de Fevereiro e teve como objectivo ouvir as preocupações de todos e informar melhor a população sobre a situação. Para além dos riscos ambientais que um projecto como este acarreta, os habitantes do Chouto demonstraram a sua preocupação com a proximidade do parque eólico das povoações, estando planeado as eólicas ficarem a menos de um quilómetro da aldeia, o que pode constituir um risco para a saúde pública, referem.
Helena Faria Leal organizou o encontro e, em conversa com O MIRANTE, que marcou presença na iniciativa, explicou que, apesar de ser importante investir em energia verde, esta não deve estar “em cima das aldeias” e prejudicar a saúde das pessoas e o bem-estar da biodiversidade. A popular critica o facto das empresas construírem os parques eólicos e fotovoltaicos em cima das povoações para “poupar dinheiro”, sem se realmente preocuparem com as consequências a “longo prazo” que o funcionamento dos mesmos podem ter na população e no meio ambiente.
Ao longo do encontro foram partilhadas diferentes opiniões sobre o impacto que o projecto poderá ter no Chouto. Rui Cruz, que trabalha no parque eólico de Serra de Aire, deu informações específicas sobre o modo como estes projectos são desenvolvidos; Isabel Ramos e Maria da Graça Fonseca, do Observatório da Paisagem da Charneca, já têm alguma experiência com este tipo de situações e ajudaram a organizar a discussão. Uma das populares mais interventivas foi a professora universitária Isabel Dias, que partilhou a sua apreensão com o impacto que o parque eólico pode ter na fauna e flora do Chouto e também na própria imagem negativa que este empreendimento poderá ter na freguesia. “O Chouto já é uma aldeia pequena e com este parque tão perto das casas e da povoação, muitas pessoas com certeza irão pensar duas vezes em adquirir aqui casa e construir aqui a sua vida, então o impacto negativo que este projecto pode ter é preocupante”, alertou.
À medida que foram discutidas possíveis soluções de como lidar com a situação e também o que os habitantes poderiam fazer para que a Endesa ouça as suas consternações, foi combinado entre todos os habitantes redigir uma lista de exigências e contra-partidas à Endesa, como o maior afastamento das eólicas da aldeia ou a diminuição do número de ventoinhas instaladas. Entretanto já reuniram com a empresa, mas as suas reivindicações não foram tidas em conta, referiu Helena Faria a O MIRANTE.
Gavião contra Parque Eólico das Aranhas
A Câmara de Gavião, no distrito de Portalegre, pronunciou-se desfavoravelmente à atribuição do estatuto de Potencial Interesse Nacional (PIN) ao projecto “Transição Justa da Central do Pego”, em Abrantes. Em comunicado, assinado pelo presidente do município, José Pio, é explicado que em reunião de câmara foi deliberado “por unanimidade” pronunciarem-se desfavoravelmente relativamente à candidatura ao reconhecimento do estatuto PIN do projecto “Transição Justa da Central do Pego”. “A decisão do executivo teve em consideração as infraestruturas que este projecto contempla para o concelho, mas, também, as centrais e restantes infraestruturas associadas que se encontram em desenvolvimento e que já ocupam cerca de 2% da área territorial do concelho de Gavião”, lê-se no documento.
Apesar de reconhecer a importância das energias renováveis, o executivo municipal de Gavião realça que o panorama geral apresentado neste projecto “põe em causa” o património natural e o bem-estar da população. “Marca negativamente um território que muito tem trabalhado e investido na promoção de infraestruturas verdes que valorizem a paisagem, o património e o usufruto sustentável da natureza”, acrescentam. Para o executivo, o concelho de Gavião iria passar a ser “um dos mais sacrificados” com este projecto, em termos de área de implementação, tendo sido considerado que este tipo de intervenções deverá “sempre prezar pelo equilíbrio”, não só em termos de ordenamento do território, mas também ambiental.