Jovens de Azambuja lançam plataforma que informa onde a cerveja é mais barata
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Saber em que hipermercados fica mais barato comprar as principais marcas de cerveja e sidra é possível graças ao Preço da Jola, que faz uma actualização diária dos preços. O projecto é de um grupo de estudantes universitários do qual fazem parte os azambujenses João Gaspar, David Gaspar e Salvador Ventaneira.
O Preço da Jola é o nome da plataforma que pesquisa em várias cadeias de hipermercados os preços mais baixos da cerveja e da sidra, tendo em conta a marca e o preço por litro. Lançada em Janeiro de 2024, a ideia partiu de um grupo de estudantes universitários do qual fazem parte David Gaspar, João Gaspar e Salvador Ventaneira. Três azambujenses das áreas das engenharias aeroespacial, electrotécnica e biomédica, respectivamente, que consideraram a ideia útil sobretudo para os estudantes de ensino superior que, “muitas vezes, andam com o dinheiro contado até ao fim do mês”.
O projecto sem fins lucrativos, que vem substituir um outro que tinha o mesmo propósito mas que teve o seu fim em 2022, permite aos utilizadores ficarem a saber sempre o preço actual da cerveja das marcas Super Bock e Sagres e da sidra Somersby e Bandida do Pomar nas várias cadeias de hipermercados. Para isso, explicam, têm um mini-computador (raspberry pi) automatizado que vai aos websites captar os dados necessários através de um algoritmo, publicando-os na base de dados.
Começaram por comparar os preços de grades de cerveja e, com o tempo, foram incluindo ‘litrosas’ e latas no website que também foi sendo modificado para ficar mais apelativo. “De Janeiro a Dezembro de 2024 tivemos a visita de 12 mil utilizadores únicos no site e, no Instagram, um alcance entre 20 a 30 mil pessoas quando lançámos o mapa”, refere David Gaspar, de 20 anos. No mapa, explica o irmão João Gaspar, de 23, “as pessoas podem meter os preços dos produtos - cerveja e cidra - de cafés, bares e restaurantes onde vão”, para que outros possam saber onde se bebe mais em conta.
Para já o projecto subsiste à base de donativos que têm sido aplicados no pagamento do domínio do website. “Mas não chegou para pagar tudo sequer”, conta David Gaspar, sublinhando que se envolveram neste desafio “por gosto” e para “aprender o que não se ensina na faculdade”. Além disso, acrescenta João Gaspar, que está a estagiar na Suíça, “é bom para o currículo”.
Apreciadores de cerveja, contam que tanto os seus familiares como amigos apoiaram o projecto, vendo nele uma mais-valia para a carteira. “Para as pessoas mais velhas é uma novidade incrível e uma maneira de conseguirem poupar. Temos amigos que nos dizem que o Preço da Jola chega a ser tema de conversa em almoços e jantares”, conta Salvador Ventaneira, responsável pela gestão da página de Instagram do Preço da Jola.
Através dos dados que são recolhidos ao longo do último ano, conseguiram apurar que “os supermercados tendem a baixar o preço da cerveja à medida que nos aproximamos do Natal e da Passagem de Ano e, quando o ano começa, sobem os preços, o que se traduz numa subida média de 15 cêntimos por litro”. Também é possível perceber que há um hipermercado que tem sempre o preço mais baixo e cuja diferença para o mais caro é de “10 cêntimos por litro”.
No futuro, a equipa do Preço da Jola, da qual também fazem parte Duarte Fernandes e José Parro, quer abrir a plataforma a mais marcas de cerveja e, através de publicidade e parcerias com festas universitárias, conseguir mais verba para atribuir novas funcionalidades ao website e “levar mais longe o projecto”, nomeadamente através da inscrição de mais cafés, bares e restaurantes na plataforma. “Não temos ideia de parar agora”, remata David Gaspar.
“O nosso país está a deixar-nos ir para fora muito facilmente”
Sentados numa esplanada no centro de Azambuja, um dos espaços onde se reúnem habitualmente para pôr a conversa em dia, os jovens universitários lamentam que seja elevada a probabilidade de terem de deixar Azambuja num futuro próximo para poderem trabalhar nas suas áreas. “Na minha área, nesta zona, não acredito que haja muita oferta de trabalho. Mas pode acontecer continuar a viver cá e trabalhar em Lisboa”, atira Salvador Ventaneira, de 20 anos, a frequentar a licenciatura de Engenharia Biomédica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
No caso de João Gaspar, essa probabilidade já se confirmou. Há dois anos a estagiar na Suíça, o estudante de mestrado em Engenharia Electrotécnica, diz que sente uma “saudade enorme” das suas raízes. “O nosso país está a apostar pouco em nós e a deixar-nos ir para fora muito facilmente”, diz. O irmão admite ir pelo mesmo caminho, já que lhe parece “difícil” conseguir um bom trabalho, em termos de remuneração e relevância na área da engenharia aeroespacial em Portugal.