Sociedade | 21-02-2025 15:00

Há concelhos na região ribatejana onde não se realizam casamentos entre pessoas do mesmo sexo

Há concelhos na região ribatejana onde não se realizam casamentos entre pessoas do mesmo sexo
No dia da festa do casamento Diana Rama (à esquerda) foi de vestido e Cátia Dias de fato e laço ao pescoço.

Nalguns concelhos da região não se celebra um único casamento entre pessoas do mesmo sexo num ano. Entre eles estão a Chamusca e Rio Maior. No ano em que Cátia Dias e Diana Rama deram o nó apenas mais dois casais o fizeram em Santarém, concelho onde casaram mais de duas centenas de casais heterossexuais.

Diana Rama e Cátia Dias, ambas de 32 anos, casaram-se há um ano e quatro meses em Santarém, concelho onde vivem. Nesse ano foram um dos três casais do mesmo sexo a casar na capital de um distrito onde ainda há concelhos em que nos 365 dias do ano o casamento homossexual não entra na agenda das conservatórias de registo civil. Mas a história deste casal começou a escrever-se em 2019. Faziam parte do mesmo grupo de amigas e iam a jantares juntas, mas não metiam conversa uma com a outra. Até ao dia em que Cátia viu uma fotografia de Diana Rama, numa edição de O MIRANTE, e decidiu meter conversa com a saxofonista de Alpiarça apanhada pela lente da câmara durante as festas de Coruche. Três meses depois estavam a namorar.
“No primeiro encontro perguntou-me se queria casar e ter filhos e disse que sim. O que é que ia dizer? A verdade é que casar nunca tinha sido um objectivo”, conta Cátia Dias que, segundo Diana, tinha “um rótulo” associado de quem tinha relações sem compromisso. “Eu vinha de uma relação longa, com um rapaz, que não correu como esperado, e não tinha vontade de andar a perder tempo. Para mim era fundamental perceber se era para ser sério ou só para passar o tempo”, explica Diana. Acabou por ser Cátia a dar o passo e pedir a alpiarcense em casamento, numa altura em que já moravam juntas e tinham comprado casa. Parecia-lhe, confessa, a ordem natural da relação, o passo seguinte a dar.
Tanto a família como os amigos ficaram entusiasmados com o convite para a festa que reuniu 100 convidados e aconteceu numa quinta em Salvaterra de Magos, um dia depois de se terem casado na conservatória. Para este casal, assumir o relacionamento perante os familiares não foi problema. “O meu pai disse que não ganhava um genro mas passava a ter mais uma filha”, lembra Diana, sublinhando que, apesar de ter havido avanços nestas questões, continua a haver pais e mães a não aceitar que os filhos tenham relações homossexuais. “E quanto mais pequeno for o meio mais difícil é não haver esse receio de contar”, salienta Cátia, natural de Santarém, concelho que considera estar mais amigo da comunidade LGBT.
Mas não é por isso que se pode dizer que o preconceito deixou de existir. Como exemplo lembram o ar de estupefacção da funcionária que as atendeu na conservatória de registo civil quando percebeu que iam casar uma com a outra. “Se estávamos ali as duas, havia de ser com quem?”, questiona Cátia, confessando que se sentiu desconfortável com a situação.

Há concelhos da região onde não há um único casamento gay
A maioria dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, permitidos por lei em Portugal desde 2010, continuam a acontecer onde a densidade populacional é mais elevada e no litoral, havendo, no interior do país, concelhos onde num ano não se realiza um único casamento gay. Em 2023, ano em que Cátia e Diana deram o nó, casaram-se no país 461 casais do sexo feminino e 538 casais do sexo masculino, mais 18,8% e 32,7% do que no ano anterior, respectivamente, segundo os dados disponíveis na Pordata. Balanço muito diferente do que diz respeito ao dos casais de sexos opostos que, no mesmo ano, foi de 35.971 casamentos. Por exemplo em Santarém, onde se registaram três casamentos entre pessoas do mesmo sexo houve 225 casamentos heterossexuais.
Olhando para a região, dos casamentos celebrados em 2023, sete ocorreram em Vila Franca de Xira, três em Santarém, três em Azambuja, dois em Alenquer, dois em Benavente, dois em Alpiarça, dois no Cartaxo, um Torres Novas, um em Tomar e outro em Abrantes. Rio Maior, Vila Nova da Barquinha e Chamusca fazem parte dos concelhos da região onde, no ano de 2023 - o último com estatísticas disponíveis na Pordata -, não houve um único casamento entre casais do mesmo sexo. Números que contrastam com Lisboa onde se casaram, no mesmo ano, 192 pessoas do mesmo sexo.

Casar pela Igreja e querer ter filhos
Casar pela Igreja nunca foi sonho para nenhuma das duas até porque, explicam, não têm ligação à religião Católica. No entanto, entendem como um avanço para a comunidade LGBT o facto de o Vaticano, através do Papa Francisco, ter autorizado bênçãos a casais do mesmo sexo por padres da Igreja Católica. “Percebe-se que a Igreja já não está de costas voltadas e acho que padres mais novos possam ter mais mente aberta, mas acredito que a maioria não seja assim ainda”, refere Cátia. Como bom exemplo, Diana destaca que a celebrante que escolheram para o dia da festa do casamento é casada pela Igreja e é catequista e não hesitou em dizer-lhes que sim.
Relativamente a terem filhos dizem que já pensaram mais e menos nisso, mas que a acontecer será Diana Rama a engravidar. Têm, contudo, a noção de que se o tentarem fazer através do Sistema Nacional de Saúde vão para ao fundo da lista enquanto casal jovem e homossexual. “Sabemos que mulheres perto dos 40 anos e as que estão em relações heterossexuais são priorizadas”; estas últimas porque, “supostamente têm uma taxa de sucesso maior”. Um argumento que não é pela igualdade na opinião de Cátia Dias. “Se estiverem sempre a passar as mulheres em relação homossexual para o fim da lista, então a taxa de sucesso nunca vai aumentar porque a amostra é sempre menor”, argumenta, sublinhando que já “muitas lutas se ganharam e outras ainda estão por vir”.

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