Sociedade | 25-02-2025 15:00

Ex-soldados da Guerra Colonial deram testemunho emocionado na aldeia do Boquilobo

Ex-soldados da Guerra Colonial deram testemunho emocionado na aldeia do Boquilobo
“Roda de Conversa” é uma iniciativa promovida pelo CHUDE – Centro Humberto Delgado

Para o jornalista e investigador Carlos Lopes Pereira os movimentos de libertação foram empurrados para luta armada pela ditadura salazarista. Testemunhos de ex-combatentes foram partilhados na “Roda de Conversa”, uma iniciativa promovida pelo Centro Humberto Delgado que se realizou na aldeia do Boquilobo, em Torres Novas.

O jornalista e investigador Carlos Lopes Pereira, nascido em Bissau, defendeu em Torres Novas que os movimentos de libertação foram empurrados para a luta armada pela ditadura salazarista, que recusou a proposta de uma negociação pacífica. Numa sessão da “Roda de Conversa”, promovida pelo CHUDE – Centro Humberto Delgado, na aldeia do Boquilobo, sobre “A Guerra Colonial e as lutas de libertação nacional nas ex-colónias portuguesas em África”, Carlos Lopes Pereira e o médico ex-combatente José Vaz Teixeira, foram os “espivatadores” de um debate marcado pelo testemunho emocionado de ex-soldados portugueses.
No debate, em que se multiplicaram os depoimentos de antigos combatentes portugueses enviados aos 20 anos para uma guerra que, na maioria, não queriam nem compreendiam, ficou claro que “as pessoas têm necessidade de falar”. Mota Pereira contou como esteve entre 1961 e 1965 numa das piores zonas de guerra em Angola, nos Dembos, onde assistiu “a coisas inacreditáveis”. “Matámos, destruímos aldeias, acampamentos, porque fomos obrigados”, disse, com lágrimas nos olhos e voz embargada, pedindo que se fale, que se conte o que se passou, em sessões como esta, mas também em escolas, relatando como tem juntado documentos para “tentar compreender”. Mota Pereira lembrou que a maior parte dos jovens enviados para o então Ultramar eram na maior parte analfabetos e “não havia consciência”, recordando que, ao entrar nos caminhos dos Dembos (actual província do Bengo), a ordem que recebeu foi: “daqui para a frente, tudo o que mexer é para matar”. “Inimigos? Nós é que estávamos a mais. Eles estavam a defender o que era deles”, rematou.
“Não há dúvida que a responsabilidade política das guerras foi da ditadura fascista”, pois “recusou-se negociar a independência com os movimentos de libertação de forma pacífica”, declarou Carlos Lopes Pereira, também responsável pela publicação “Textos da luta / Amílcar Cabral”, lembrando que o “pai” da independência da Guiné-Bissau escreveu, em 1960, uma carta ao Governo português, na qual pedia que os portugueses fossem poupados a uma guerra que Portugal inevitavelmente iria perder, a qual ficou sem resposta.
Carlos Lopes Pereira recordou que “a ditadura não quis falar”, pelo que lhe cabe “a responsabilidade da guerra colonial de 13 anos”. Na sua intervenção, o ex-militante do Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC) e actual director de informação da Rádio Voz da Planície, em Beja, alertou para a “deturpação da História”, pedindo o reforço da “vigilância contra a falsificação” e a que se mantenha “viva a verdade histórica”. “Ao fim de 50 anos da independência das antigas colónias [é natural] que a História seja feita e refeita […], mas é necessário ter grande cuidado para combater a manipulação, a falsificação que também acontece, não de maneira ingénua, não por acaso, mas que está associada a determinadas forças políticas que foram sempre contra a independência das colónias e que ainda hoje continuam com um discurso colonialista em relação ao que se passou”, declarou.

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