Municípios do Médio Tejo tentam fixar médicos com apoios financeiros e oferta de habitação
Faltam cerca de duas dezenas de médicos de família para garantir a cobertura total dos cerca de 181 mil utentes com cuidados de saúde primários no território do Médio Tejo.
Apoios financeiros extraordinários, benefícios fiscais e oferta de habitação são os principais argumentos dos 11 municípios abrangidos pela Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo para tentar captar e fixar médicos de família nos seus territórios. Os apoios diferem muito de concelho para concelho, com alguns municípios a conseguirem resultados positivos e outros a ficarem aquém das expectativas, sendo a escassez de médicos de família um problema generalizado no território do Médio Tejo.
À Lusa, o presidente do concelho de administração da ULS Médio Tejo indicou faltarem 19 médicos de família para garantir a cobertura total dos cerca de 181 mil utentes com cuidados de saúde primários, num território que apresenta uma taxa de 92,5% de pessoas com acesso a médico de família ou equivalente, por via da contratação de médicos tarefeiros e no âmbito do programa ‘Bata Branca’, tendo Casimiro Ramos feito notar que “o incentivo dado por um município pode ser determinante [para captar um clínico], mas também não significa que seja garantido”.
É o caso de Mação, um concelho na fronteira do distrito de Santarém com a Beira Baixa, onde 75% da população, muito envelhecida e dispersa por um território com 400 km2 e mais de 120 aldeias, tem apenas um médico e onde o município acena com 2.500 euros/mês extra ordenado a quem queira prestar ali cuidados de saúde, mas mesmo assim não tem o problema resolvido. A presidente da Câmara de Mação, Margarida Lopes, disse à Lusa que está “em contacto com mais médicos” para aderirem ao programa de incentivos, tendo defendido que seria “fulcral” que estes profissionais “pudessem ir às extensões de saúde para fazerem uma maior cobertura do território”, o que não sucede actualmente.
Em Abrantes, também há falta de médicos de família, mas o panorama é menos grave, estando o município a apoiar financeiramente 12 médicos, com cerca de mil euros/mês. Esses médicos assumiram a gestão de duas Unidades de Saúde Familiar (USF) que cobrem mais de metade do concelho, assegurando cuidados de saúde primários regulares a cerca de metade dos 30 mil utentes. Uma terceira USF está em fase de constituição e, quando abrir, permitirá cobrir todo o território.
Para a Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT), “o ideal seria haver médicos de família e especialistas hospitalares suficientes para, devidamente compensados profissional e salarialmente, trabalharem nas zonas onde realmente são precisos, quer por períodos previamente contratados, quer definitivamente agregados a projetos locais de prestação de cuidados de saúde”. Para Manuel Soares, da CUSMT, “a situação real é muito heterogénea na definição de incentivos” e “seja nos incentivos com origem nas estruturas do SNS seja nos atribuídos pelas autarquias, os resultados têm sido escassos” face às necessidades.