Sociedade | 03-03-2025 12:18

Animais deixados a morrer à fome na Herdade da Torre Bela

Animais deixados a morrer à fome na Herdade da Torre Bela
Animais, sobretudo veados e gamos, ficam presos enquanto se estão a alimentar e há ordens para não os soltarem fotoDR

Veados ficam presos em mantas orgânicas e são deixados para morrer na Torre Bela, herdade murada no concelho de Azambuja convertida num mega parque fotovoltaico. Funcionários têm ordem expressa para não os soltarem, sendo punidos se o fizerem. Estudo de Impacte Ambiental previa a protecção e permanência dos animais.

Na Herdade da Torre Bela, convertida num mega parque solar com mais de 600 mil painéis fotovoltaicos, no concelho de Azambuja, há animais amarrados, a morrer à fome e sede. A denúncia chegou a O MIRANTE através de uma fonte que pede o anonimato por receio de represálias e que faz acompanhar a informação com fotografias que demonstram o “massacre” que está a ocorrer naquela herdade murada.
“Os animais estão presos, a morrer à fome e à sede. É uma tortura. As ordens dadas são para deixarem morrer os animais”, revela a mesma fonte, sublinhando que além de “triste e revoltante” trata-se de um “crime ambiental” que há muito vinha sendo anunciado. Além das imagens de um veado amarrado e em aparente estado de desnutrição e sofrimento chegou à nossa redacção uma outra de parte de uma carcaça de um animal da mesma espécie.
Segundo conta ao nosso jornal uma outra fonte ligada à herdade, o que acontece é que os animais, sobretudo veados e gamos, ficam presos nas mantas orgânicas de coco que estão a ser colocadas no solo por causa das linhas de escoamento de águas que estão a ser feitas. “Os animais vão comer e ficam presos naquilo, mas o problema foi as instruções que vieram para não os soltarem”, conta.
Numa das vezes, refere, “um veado ficou preso e chamaram um encarregado para o soltar. Quando partilharam fotografias num grupo [de trabalhadores] do animal solto chamaram tudo ao escritório para punir quem soltou os animais”. As ordens em causa, afirma, estão a vir de responsáveis da empresa espanhola ACISA - responsável pela obra para a empresa francesa produtora de energia renovável e detentora do parque solar, a Neoen -, que não tem interesse que haja animais no terreno já que, refere a mesma fonte, estão obrigados pelo caderno de encargos a criar espaços verdes, “mas os animais vão lá e comem” o que é plantado.
O MIRANTE contactou a ACISA mas não obteve resposta até ao fecho desta edição. O nosso jornal também questionou a GNR sobre se o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) tem conhecimento da situação e se vai tomar diligências, mas não também não obteve resposta.

Número de animais continua a aumentar em área confinada
Na altura em que começaram a ser instalados os painéis fotovoltaicos, em Outubro de 2023, o presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio, alertava que o que restava das espécies cinegéticas, nomeadamente javalis, veados e gamos depois da matança de 540 animais ocorrida em 2020 e amplamente noticiada, estava em risco de desaparecer por falta de alimento, uma vez que as os animais continuavam a reproduzir-se e estavam confinados numa determinada área. Na altura, o autarca socialista disse ter informado o então ministro do Ambiente da situação. Agora, sabe O MIRANTE, o número de animais nessa área verde restrita andará perto do milhar.
Por sua vez, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), questionado pelo nosso jornal, disse desconhecer que estivesse a haver falta de alimento devido ao aumento do número de animais e que tinha sido autorizado o controlo de densidade. À época, a actividade cinegética na Zona de Caça da Torre Bela encontrava-se suspensa por esta entidade.

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