Morte de enfermeira alerta para estado da saúde mental dos profissionais de saúde

Enfermeira no Hospital de Tomar pôs termo à própria vida aos 33 anos. Residente em Assentiz, no concelho de Torres Novas, enfrentava uma depressão. Unidade Local de Saúde do Médio Tejo lembra que os profissionais de saúde também precisam de ser cuidados. Em 2024, 30% dos enfermeiros relatava sintomas de depressão grave.
Joana Bento, enfermeira no bloco operatório do Hospital de Tomar, morreu no dia 23 de Fevereiro, aos 33 anos. Casada e residente em Assentiz, concelho de Torres Novas, sofria de depressão e decidiu pôr termo à própria vida. Esta morte pode, no entender da Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo, ser uma chamada de alerta para lembrar que os profissionais de saúde também precisam de ser cuidados. “Desejamos que o legado da enfermeira Joana Bento nos inspire a oferecer apoio e conforto a quem sofre, e nos recorde que a compaixão é um elo que nos caracteriza e fortalece”, refere em comunicado a ULS presidida por Casimiro Ramos que recorda a enfermeira como alguém que “dedicou a vida ao acto de cuidar” e como uma “profissional exemplar, querida por todos no bloco operatório do Hospital de Tomar”.
Joana Bento estava casada com Rui Pereira, proprietário do Restaurante O Barril, situado em Fungalvaz, na freguesia de Assentiz, onde o casal residia. Após ter conhecimento do falecimento da jovem, a Casa Recreativa e Cultural de Fungalvaz, responsável pela organização do Carnaval naquela aldeia, cancelou os festejos dessa quadra festiva.
30% dos enfermeiros relata sintomas de depressão grave
Cerca de 30% dos enfermeiros inquiridos numa avaliação sobre a percepção daqueles profissionais sobre saúde mental em 2024 relataram sintomas de depressão grave, segundo o estudo denominado “NursesMH#Survey2024: A saúde mental dos enfermeiros portugueses”, divulgado em Janeiro último. No estudo, no qual participaram 1.894 enfermeiros, é verificado um aumento da percepção negativa sobre a saúde mental nos enfermeiros, face à primeira análise realizada em 2017, em que participaram 1.264. As conclusões indicam que 28,8% dos enfermeiros têm a percepção de sintomatologia de depressão grave, mais 6,4% do que os registados há sete anos.
“Na comparação entre os estudos, verifica-se que os enfermeiros passaram a ter uma maior carga de trabalho, a dormir pior quando trabalham por turnos e a consumir mais psicofármacos. Agravou-se também significativamente a percepção sobre a sua saúde física e mental em todas as dimensões estudadas: saúde mental em geral; disfunção social; ansiedade e insónia; sintomatologia somática; sintomatologia de depressão grave”, lê-se num comunicado.