Alunos do distrito de Santarém têm uma palavra a dizer sobre a educação e o seu futuro

Foram várias dezenas de alunos que estiveram a representar escolas do distrito no Parlamento dos Jovens, que se realizou na Casa do Campino em Santarém. Estudantes discutiram os desafios que as novas tecnologias implicam na comunidade escolar.
O tema a debate para o ano lectivo 2024/25 no projecto Parlamento dos Jovens é “Novas tecnologias: oportunidades e desafios para os jovens”. Os alunos do ensino secundário do distrito estão alerta para as implicações do tema na sua educação e têm várias ideias sobre os passos que devem ser seguidos no futuro. Madalena Domingos e Manuel Roque, de 17 anos, são alunos do 12.º ano da Escola Secundária Sá da Bandeira de Santarém e frequentam o curso de Ciências Socioeconómicas. André Santos estuda Ciências e Tecnologia e os três jovens foram os representantes da sua escola na Sessão Distrital do Parlamento dos Jovens.
Partilham com O MIRANTE que tiveram infâncias e adolescências repletas de actividades ao ar livre e de desporto e que, por isso, nunca se interessaram especialmente pelos videojogos ou pelos ecrãs. “Sempre fiz muitas caminhadas, portanto andava com um telemóvel para estar contactável. Era um meio para um fim. Não utilizava senão para fazer telefonemas”, revela Manuel Roque. Actualmente usam internet para ouvir música, ver séries ou para aprender sobre um tema que lhes interesse através de podcasts, documentários e vídeos no Youtube. Madalena Domingos confessa que “preferia mil vezes ter crescido sem redes sociais” e que gostava de passar menos tempo nessas plataformas. A porta-voz de Santarém para a Sessão Nacional do Parlamento dos Jovens defende a intervenção estatal no que diz respeito ao conhecimento acerca de ferramentas de Inteligência Artificial (IA). “Acho que a regulação seria importante. Uma das nossas propostas é uma formação para a compreensão destas tecnologias e de tudo o que nos podem oferecer e como nos podem prejudicar”, considera a aluna.
Alunos de Samora vêem tecnologia como complemento
Francisco Ambrósio e Maria Leonor Louçã, ambos com 17 anos, são alunos da Escola Básica e Secundária Professor João Fernandes Pratas, em Samora Correia. Os dois estudantes acreditam que a tecnologia e inteligência artificial na educação devem ser vistas como um complemento e não como uma ameaça. “Da mesma forma que escolhemos o nosso meio de transporte consoante o destino, devemos escolher como adaptar a IA a cada necessidade”, referem. Uma das propostas apresentadas pelos alunos defende a modernização das escolas com uma rede digital que seja igual para todos, de forma a evitar disparidades entre estabelecimentos de ensino. “Decidimos começar pela base, pois assim que as escolas tiverem essa rede moderna será possível introduzir a inteligência artificial”, acrescentam. A revogação dos manuais escolares digitais e das provas finais online foram as outras propostas apresentadas pela dupla.
Os estudantes acreditam que as próximas gerações, crescendo num meio cada vez mais digital, irão perder algumas tradições e brincadeiras comuns noutros tempos, algo que consideram ser também um tema a debater no futuro, especialmente a polémica questão da proibição dos telemóveis em alguns estabelecimentos de ensino. Esta será a segunda vez que os alunos vão marcar presença na Sessão Nacional do Parlamento dos Jovens, esperando desta vez um reconhecimento por parte da Câmara Municipal de Benavente, algo que não aconteceu em 2023, quando foram também eleitos.
Mais legislação, mais confiança no futuro
Eva Rodrigues e José Ferreira Neves, estudantes do Centro de Estudos de Fátima, querem seguir Direito. Acham que a falta de legislação é o grande problema da Inteligência Artificial e das novas tecnologias. Eva Rodrigues, 16 anos, assume o perigo da facilidade com que se criam imagens e vídeos perfeitos, mas falsos, através de IA. A jovem disse a O MIRANTE sentir-se capacitada, mas receosa na utilização diária das novas tecnologias. Não tem duvidas de que temos todos de ser mais críticos e responsáveis para poder ser feito um grande trabalho na mudança da legislação. José Ferreira Neves defende que a boa utilização das tecnologias é responsabilidade individual de cada um. Para o aluno existe ainda muito pouca legislação sobre este tema. “Se queremos realmente fazer a diferença na vida da população e queremos estar prontos para os desafios dos portugueses, temos de nos sentir capacitados para os desafios da Inteligência Artificial,” afirma.
Uma visita à Assembleia da República
A Sessão Distrital do Parlamento dos Jovens de Santarém realizou-se no dia 25 de Fevereiro. O projecto juntou mais de 60 alunos do ensino secundária de 19 escolas do distrito para partilharem e debaterem ideias sob o mote “Novas Tecnologias: Oportunidades e Desafios para os Jovens”. Nesta sessão foram escolhidas cinco medidas que vão ser levadas à Sessão Nacional do Parlamento dos Jovens, na Assembleia da República. Paula Costa, técnica do Instituto Português do Desporto e Juventude sublinha o carácter pedagógico da iniciativa. “Aqui não há vencedores, o Parlamento dos Jovens não é uma competição. A sua função é servir de espaço para a apresentação e debate de ideias por parte dos alunos deputados. Os vencedores devem ser todos”, afirmou a O MIRANTE.