Familiar denuncia falta de comunicação e tratamento indigno a idosa no Hospital VFX
Ana Caldeira acusa o Hospital Vila Franca de Xira de falhas na comunicação e tratamento da sua avó, Júlia Rodrigues, que faleceu no dia 5 de Fevereiro. A neta exige mais transparência, respeito e dignidade pelos idosos internados nesse e noutros hospitais do país.
Ana Caldeira denunciou publicamente o que considera ter sido um tratamento indigno à sua avó, Júlia Rodrigues, que faleceu aos 85 anos no Hospital Vila Franca de Xira, no dia 5 de Fevereiro, após ter dado entrada nas urgências reencaminhada pelo INEM, no dia 28 de Janeiro. Em carta aberta, também dada a conhecer ao hospital, a neta relata a falta de comunicação da equipa médica, a impossibilidade de obter informações sobre o estado de saúde da idosa e a ausência de visitas durante vários dias.
Júlia Rodrigues deu entrada na Sala de Observações (SO), após triagem, pouco depois das 23h00. Às 00h45, Ana Caldeira ainda não tinha informação sobre o estado de saúde da familiar e questionou a recepção. Pouco depois é chamada ao SO para falar com a médica. “A médica, muito arrogante, disse que já me tinha chamado várias vezes desde que a minha avó tinha dado entrada. Eu aumentei o tom de voz porque a médica estava a chamar-me mentirosa. Eu disse que ou a médica estava a mentir ou na recepção não tinham feito o trabalho deles. Perdi as estribeiras e fui ter à recepção e mandei dois murros no balcão, os polícias identificaram-me. Pedi desculpa na recepção, porque percebi que a mentira tinha vindo da equipa médica”, relata.
Um quarto de hora depois conta que foi chamada ao SO para ver a avó. Recebeu informação de que a idosa tinha de ficar internada e por isso podia ir embora. Recusou sair do hospital sem informação clínica sobre o estado de saúde da familiar e às 03h00 recebeu, pelas mãos da médica, o relatório da TAC que dizia que Júlia não tinha tido um AVC mas que ia ficar de vigilância.
“É desumano deixar um idoso sem visitas”
Nos dias seguintes, quarta, quinta e sexta-feira foi informada que não havia visitas. Pediu informação clínica mas sem sucesso e ao final do dia de sexta-feira dirigiu-se ao hospital e pediu para falar com o médico. Após insistência na recepção do hospital, e intervenção de uma médica da medicina interna, foi possível visitar a idosa. “A minha avó não estava ligada a nenhuma máquina de tensão arterial e tinha arritmias, não tinha um copo para beber água e não lhe tinham dito que não podia ter visitas. Sábado não havia visitas e no domingo quando a vimos disse que não lhe tinham dado banho e que não a ajudavam a comer”, refere a familiar.
Ana Caldeira disse que segunda e terça-feira, uma semana após o internamento, não pôde visitar a avó e que não foi informada do seu estado clínico. No dia 5 de Fevereiro recebeu uma chamada telefónica do médico e dirigiu-se ao hospital logo de manhã. Recebeu pessoalmente a notícia de que a avó tinha falecido, possivelmente de morte súbita, AVC ou embolia. “É desumano deixar um idoso sem visitas, ainda para mais quando está habituado a ter as netas e a família ao lado todos os dias. Percebo o cansaço e os limites dos médicos mas não aceito que não dêem informação aos familiares. A única coisa que quero é que quem entre naquele hospital ou outro mereça um mínimo de dignidade. Os idosos são tratados como estorvo, há falta de sensibilidade”, sublinha.
O MIRANTE solicitou esclarecimentos ao Hospital Vila Franca de Xira mas até à data sem resposta.