55 crianças do terceiro ano das escolas de Almeirim têm problemas de visão

Um rastreio ao daltonismo e acuidade visual que abrangeu todas as crianças na casa dos 8 a 9 anos de idade que frequentam o terceiro ano de escolaridade de todas as escolas do concelho de Almeirim, num total de 187 alunos, revela números preocupantes para o presidente da câmara, que culpa a excessiva exposição aos ecrãs.
Quase um terço dos alunos das escolas de Almeirim com 8 a 9 anos de idade estão a revelar problemas de visão, que podem ter várias causas, em que a principal está relacionada com o tempo excessivo que as crianças estão expostas a ecrãs. Em Janeiro, por iniciativa do município, voltou a realizar-se, pelo segundo ano, um rastreio do daltonismo e avaliação da acuidade visual através da ColorADD Social, uma associação sem fins lucrativos que desenvolve um programa nas escolas do primeiro ciclo em 2157 escolas do país, das quais 203 em oito municípios da Região de Lisboa e Vale do Tejo.
Os resultados dos testes que abrangeram 187 alunos do terceiro ano de escolaridade, com o objectivo de detectar casos de daltonismo (dificuldade de distinguir as cores) que têm influência no desempenho escolar. Encontraram-se quatro alunos daltónicos, mas o número mais expressivo foi o de 51 crianças com dificuldades na acuidade visual, relacionada com a nitidez com que o olho humano consegue ver os objectos. Ou seja, 29 por cento das crianças abrangidas pelos testes revelam problemas de visão.
Segundo o oftalmologista de Santarém, Eduardo Lopes, as dificuldades de visão têm causas relacionadas com a genética, mas também com outros factores como a utilização de dispositivos electrónicos como computadores, telemóveis, ou ver televisão. O médico explica que uma das situações frequentes relacionadas com uma acuidade visual abaixo do parâmetro 10/10 é as crianças queixarem-se de dores de cabeça. Sintoma que pode estar relacionado dificuldades de visão ao perto, o que afecta a sua atenção e desempenho nas aulas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) quando existe uma acuidade visual inferior a 3/10 está-se perante uma situação de baixa visão.
Eduardo Lopes refere que as dificuldades de acuidade visual podem estar relacionadas com situações de miopia ou astigmatismo. O oftalmologista considera que situações como a que se assiste a Almeirim é uma tendência dos tempos modernos e que não se deve pensar que a miopia é apenas uma doença genética ou hereditária, porque a exposição aos ecrãs pode desenvolver esta patologia.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que crianças até aos 2 anos de idade não devem ter qualquer exposição a telemóveis, tablets, computadores ou televisões e a partir dessa idade, até aos 4 anos o tempo a olhar para ecrãs não deve ultrapassar uma hora por dia. Diogo Cavalheiro, coordenador de Oftalmologia no Hospital CUF Santarém, num artigo publicado em Outubro num especial Regresso às Aulas editado por O MIRANTE, chama a atenção para “estudos que apontam que aumentar o tempo passado ao ar livre (com luz solar) pode diminuir a progressão da miopia”.
Para o presidente da Câmara de Almeirim, a aposta nos rastreios de daltonismo e avaliação da acuidade visual é “algo simples, mas que pode ser determinante para o futuro escolar dos jovens. Quem não vê bem, quem não consegue perceber as cores e não sabe destes problemas acaba por não aprender da mesma forma e isso pode influenciar o seu futuro escolar”. Pedro Ribeiro realça que os pais ao não saberem que os seus filhos podem ter daltonismo ou dificuldades de acuidade visual, não podem intervir. O autarca, que promoveu a proibição de telemóveis pelos alunos das escolas do concelho, refere que a taxa de 27% de alunos só com dificuldades na avaliação da acuidade visual “é altamente preocupante” apontando que a origem está em ecrãs a mais, telefones a mais, TV a mais.
A Associação de Profissionais Licenciados de Optometria alerta, com base em estudos, que “três de cada quatro fracassos escolares podem dever-se a problemas de visão”. A organização realça que “se tivermos em conta que 80% da informação sobre tudo o que nos rodeia chega através da visão, podemos deduzir a sua importância no processo de aprendizagem”, salientando que as dificuldades de visão nas crianças podem “constituir como uma barreira ao seu desenvolvimento intelectual”.