Amamentar na primeira hora de vida reduz mortalidade neonatal até 22%

Amamentar os recém-nascidos durante a primeira hora de vida pode prevenir mortes e salvar vidas. Esta é apenas uma das muitas vantagens do leite materno e um dos vários temas abordados no Primeiro Encontro de Amamentação do Ribatejo, que reuniu perto de duas centenas de profissionais em Samora Correia.
Centenas de profissionais de saúde, algumas das quais mães e a amamentar, juntaram-se nos dias 6 e 7 de Março no Centro Cultural de Samora Correia para ouvir falar sobre amamentação e partilhar experiências, naquele que foi o 1º Encontro de Amamentação do Ribatejo. Combater a desinformação, reflectir sobre as práticas no apoio à amamentação nos serviços de saúde e ajudar a alinhar o pensamento dos profissionais de saúde que trabalham com puérperas e bebés foram alguns dos objectivos do evento que contou com intervenções, entre outros, de pediatras e enfermeiras que são também consultoras de lactação certificadas.
Inês Rodrigues, 32 anos, enfermeira na Pediatria do Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX) e grávida pela segunda vez, foi assistir ao encontro com o intuito de “evoluir para poder dar o melhor aos utentes” e por considerar que “a falta de tempo dos profissionais de saúde na área da obstetrícia e do pós-parto imediato” muitas vezes não permite que os “problemas das puérperas” sejam solucionados, levando a que “vão para casa com dúvidas e falta de apoio na amamentação”. Algo que, lamenta, pode ser determinante para o insucesso da amamentação.
Mãe de um menino de quase quatro anos, a enfermeira que já trabalhou no serviço de obstetrícia, conta a O MIRANTE que o amamentou até há cerca de meio ano e que tem, claro, a expectativa de amamentar a filha que vem a caminho. “Se não conseguir, tenho ao meu redor as melhores profissionais para me ajudarem”, mencionou, defendendo que o ideal seria haver maior rede de apoio profissional à amamentação após as altas da mãe e do recém-nascido.
Acompanhou-a Marta Neves, de 27 anos, também enfermeira no HVFX e grávida, pela primeira vez, de 20 semanas. Foi esse, primeiro que tudo, o motivo que a fez ali estar. No entanto, afirma, durante o tempo em que trabalhou em Neonatologia reparou que entre a equipa há muita troca de ideias que carecem, por vezes, de fundamentos científicos e que leva a que sejam passadas “informações contraditórias” sobre a amamentação. “Por isso é bom termos este tipo de iniciativas, para todos falarmos a mesma língua”, disse, sublinhando que “amamentar tem todas as vantagens, desde o vínculo que se cria entre a mãe e o bebé, aos anticorpos que são passados” através do leite materno.
Prevalência de aleitamento materno até aos seis meses é de 21,8%
Para que a amamentação tenha sucesso há uma sequência de eventos na primeira hora de vida do bebé que podem fazer a diferença. Essa é a chamada ‘Golden Hour’, hora de ouro em português, cujo termo foi introduzido nos anos 60 com o trabalho de Adams Cowley que notou que a adopção de determinadas medidas, nomeadamente a amamentação, “na primeira hora de vida do recém-nascido poderiam melhorar a sua saúde e reduzir a mortalidade”, explicaram as enfermeiras palestrantes Maria João Sopa e Cecília Boavida. As profissionais sublinhando que atrasos na amamentação mais de uma hora após o nascimento estão associados a “menor taxa de amamentação exclusiva até aos seis meses” e que “o início precoce da amamentação reduz até 22% a mortalidade neonatal”.
“Em Portugal não há total conhecimento sobre a prevalência e duração do aleitamento materno. A informação disponível estimou em 21,8% o aleitamento materno exclusivo até aos seis meses, duração recomendada pela Organização Mundial de Saúde”, notaram as enfermeiras do Hospital de Vila Franca de Xira, defendendo que as unidades de saúde devem investir na formação de profissionais para “apoiar eficazmente a amamentação logo após o nascimento, evitando suplementação desnecessária”.
Apesar de amamentar na primeira hora de vida ser importante, as enfermeiras esclareceram que se não acontecer por algum motivo cabe aos “profissionais de saúde ter um papel equilibrado informando sobre os benefícios da Golden Hour sem criar uma carga emocional negativa quando a prática não corre exactamente como previsto”.

Encontro muito participado
Os dois dias do encontro reuniram mais de 170 inscritos, 14 palestrantes e cinco moderadores entre médicos de Medicina Geral e Familiar, enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia, terapeutas da fala, nutricionistas, entre outros. A comissão organizadora, composta por Maria Beatriz Morais, Andreia Nunes, Mariana Ferreira, Inês Ladeira, Irina Barros, Daniela Ramos, Vanessa Albino, Felismina Rodrigues e Catarina Carrusca, já está a preparar o segundo encontro com “o objectivo de reunir mais especialistas e juntar componente prática”.