Cresce contestação ao fecho de urgências pediátricas no Hospital VFX à noite e fins de semana

Seis mil pessoas assinaram uma petição contra o encerramento de urgências pediátricas no Hospital Vila Franca de Xira à noite e fins de semana, medida que também motivou uma manifestação à porta da unidade de saúde. Para mitigar a situação, foi criado um Centro de Atendimento Juvenil e Infantil, solução de recurso para casos não urgentes, que também só funciona no período diurno de segunda a sexta-feira.
Abre portas a 15 de Março, à semelhança do que já acontece no norte do país, o Centro de Atendimento Juvenil e Infantil (CAJI) de Vila Franca de Xira, apresentado como uma solução de recurso para os casos pediátricos não urgentes. O anúncio da abertura surge depois da onda de contestação popular nos cinco concelhos da área de abrangência da Unidade Local de Saúde (ULS) Estuário do Tejo, motivada pela recente decisão de encerrar as urgências pediátricas do Hospital Vila Franca de Xira à noite e fins-de-semana. Situação que, inclusive, levou os autarcas a emitir uma carta conjunta criticando a decisão anunciada pela administração da ULS, liderada por Carlos Andrade Costa.
Refira-se que o hospital registou, em 2024, 49.509 episódios de urgência pediátrica. O novo CAJI só irá funcionar, por agora, no horário normal de expediente, durante a semana, e atenderá crianças dos cinco concelhos da ULS Estuário do Tejo: Alenquer, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Benavente e Vila Franca de Xira. O acesso será feito por referenciação da triagem da urgência pediátrica e, posteriormente, pelo SNS24.
A decisão de encerramento das urgências pediátricas no Hospital Vila Franca de Xira à noite e fins de semana levou à criação de um abaixo-assinado lançado numa plataforma online de petições na última semana a que já aderiram mais de seis mil pessoas. O texto refere que a saúde das crianças não é negociável e que essa medida compromete gravemente a segurança e o bem-estar das famílias da região. O grupo de cidadãos “preocupados e solidários” manifesta a sua total oposição, considerando que o acesso rápido e eficaz a cuidados médicos de emergência para as crianças é um direito fundamental e um pilar essencial de qualquer sistema de saúde.
À data de fecho desta edição de O MIRANTE, mais de seis mil pessoas tinham assinado o documento dirigido à ministra da Saúde. Para os subscritores, o fecho das urgências pediátricas obriga a deslocações longas colocando em risco a vida e a saúde das crianças. “O fecho das urgências pediátricas não só afecta directamente milhares de famílias, como também sobrecarrega os hospitais vizinhos, agravando tempos de espera e reduzindo a eficácia do atendimento médico”, criticam os subscritores, que exigem que sejam tomadas medidas urgentes para garantir a manutenção do serviço.
O Movimento de Utentes dos Serviços Públicos (MUSP) de Vila Franca de Xira também já convocou as comissões de utentes do Estuário do Tejo para uma manifestação dia 22 de Março, a partir das 10h00, entre o Largo da Estação de Vila Franca de Xira e a Rua Almirante Cândido dos Reis.
Partidos exigem reversão da medida
Vários partidos também reagiram à situação. A CDU de Vila Franca de Xira convocou uma acção de protesto à porta da unidade. Estiveram presentes na iniciativa, que decorreu dia 7 de Março, várias comissões de utentes dos concelhos servidos pelo hospital, nomeadamente Alenquer e Azambuja.
“O hospital abarca cinco concelhos e estamos a falar de milhares de crianças que ficam sem este serviço e que são obrigadas a deslocar-se 30 km até ao hospital de referência, que é a Estefânia, já de si sobrecarregado”, sublinhou Cláudia Martins, eleita da CDU na Assembleia de Freguesia de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz e candidata às próximas autárquicas.
A coligação Nova Geração (PSD/PPM/MPT) diz não compreender a decisão e não a aceitar de ânimo leve. “Instamos a ministra da Saúde, o director executivo do Serviço Nacional de Saúde e o presidente do conselho de administração da ULS Estuário do Tejo (Carlos Andrade Costa) a darem o devido esclarecimento sobre toda esta situação e a repor com carácter imediato a urgência pediátrica no hospital”, assinam os vereadores David Pato Ferreira e Ana Afonso.
Também Barreira Soares, vereador do Chega na Câmara de VFX, escreveu uma carta aberta à ministra da Saúde onde expressa um sentimento profundo de revolta e preocupação face à situação, considerando o fecho incompreensível e inaceitável. “Nos últimos tempos temos assistido à exaustão dos serviços de urgência, à falta de profissionais e à incapacidade das unidades hospitalares de responderem de forma eficaz e eficiente aos elevados números de atendimento”, critica.
A concelhia de Benavente do PCP também expressou profunda preocupação com o encerramento das urgências pediátricas em VFX, criticando o desinvestimento no SNS, o agravamento das condições de trabalho dos profissionais de saúde e favorecimento dos grupos privados.
Perto de 120 mil utentes do Estuário do Tejo sem médico de família
Ramiro Bom, dirigente do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos de Vila Franca de Xira e porta-voz da Comissão de Utentes de Alverca do Ribatejo referiu que em Dezembro de 2024 estavam 119.327 utentes sem médico de família na área da ULS Estuário do Tejo, o que corresponde a mais de 50% dos inscritos nos centros de saúde dos concelhos de Vila Franca de Xira, Alenquer, Azambuja e Benavente.
A Comissão de Utentes da Saúde de Alenquer também esteve presente no protesto em Vila Franca de Xira. De acordo com Mário Mendonça, um dos elementos da comissão, mais de 70% da população do concelho de Alenquer não tem médico de família. “O Carregado é a zona mais problemática, porque aglomera mais de uma dezena de milhar de utentes sem médico. Vai funcionando a vídeo-consulta e o Bata Branca nas freguesias, mas são pensos e não soluções”, considerou.