Santarém é um dos distritos com menos enfermeiros do país

Rosa Dias, Catarina Mota e Guilherme Pereira são alunos da licenciatura de Enfermagem na Escola Superior de Saúde de Santarém. O MIRANTE conversou com os estudantes sobre o ensino politécnico e as perspectivas de futuro numa profissão que, no distrito de Santarém, tem várias lacunas.
Segundo a Ordem dos Enfermeiros, em Portugal, há mais de 85 mil enfermeiros e mais de 26 mil especialistas em Enfermagem, segundo dados de 2024. No distrito de Santarém os números registam a presença de cerca de três mil enfermeiros, o que perfaz um total de menos de oito enfermeiros por cada mil habitantes, um dos piores rácios do país, estando à frente apenas de Leiria, Faro e Aveiro. A média nacional é de 8,8 enfermeiros por cada mil habitantes.
A propósito destes dados, fomos conversar com três alunos da licenciatura de Enfermagem da Escola Superior de Saúde de Santarém para saber mais sobre o ensino politécnico e as suas perspectivas de futuro. Catarina Mota, 24 anos, está no último dos quatro anos da licenciatura em Enfermagem e actualmente está a estagiar no Hospital Distrital de Santarém. Madeirense, escolheu o Politécnico de Santarém por indicação de ex-estudantes e por ter família na cidade. Catarina Mota foi cuidadora informal da mãe, diagnosticada com uma doença neurodegenerativa durante três anos. Foi nesse período em que acompanhou a mãe nas consultas de enfermagem e na fisioterapia que o interesse pela área da saúde e da enfermagem surgiu.
Rosa Dias também vem da Madeira, onde queria ter ficado a estudar, mas as poucas vagas para a elevada procura levaram-na até Santarém. No ensino secundário tirou o curso de assistente operacional e trabalhou dois anos como auxiliar de saúde, experiência que diz ter sido fundamental para escolher enfermagem. Diz só ter coisas boas a dizer sobre a licenciatura em Enfermagem do Politécnico de Santarém, onde os alunos realizam estágios em todos os anos do curso. Desde estágios de observação aos de integração, Rosa Dias já fez nove estágios em nove instituições de saúde diferentes.
Guilherme Pereira, 21 anos, está no segundo ano da licenciatura e foram alguns utentes que acompanhou durante e depois do estágio no curso de Auxiliar de Saúde que o fizeram perceber que queria seguir Enfermagem. O jovem da Póvoa de Santa Iria sofre de défice de atenção e já foi aconselhado a abandonar esta área. Não pensa em desistir e diz ter métodos de trabalho específicos para ultrapassar a sua condição e cumprir a sua função eficazmente. Escolheu o Politécnico de Santarém por ter um programa mais prático. Guilherme Pereira está indeciso entre a especialização em enfermagem de reabilitação ou enfermagem médico-cirúrgica e gostaria também de trabalhar na área da investigação.
Pouco dinheiro e muito desgaste
Enfermeiros sem folgas e a cumprir turnos duplos para colmatar a falta de pessoal no serviço é demasiado comum em qualquer serviço, conta Catarina Mota, que diz não haver uma escapatória para estes profissionais. “Não podemos largar o trabalho e acabar amanhã. Estamos a falar de pessoas que estão debilitadas e que precisam de nós”, salienta. “Acho que o que mais revolta os enfermeiros em Portugal não é tanto os baixos vencimentos, mas sim o desgaste da profissão”, acrescenta Guilherme Pereira. Catarina Mota não entende a gestão dos recursos dos hospitais, que diz gastarem três vezes mais dinheiro em enfermeiros tarefeiros contratados à hora do que se contratarem mais pessoal para o quadro.
Catarina Mota quer exercer enfermagem, no sector público ou privado, mas afirma que não vai aceitar uma oferta de trabalho qualquer. Rosa Dias não quer emigrar, mas os relatos que ouve da sua irmã, enfermeira em Inglaterra, levam-na a não colocar de lado essa hipótese, ainda que o seu objectivo seja regressar à Madeira. “A situação dos enfermeiros em Portugal não é boa, muitos jovens não seguem a profissão por pressão da família. Quem segue é porque gosta mesmo,” vinca a O MIRANTE.