Sociedade | 24-03-2025 07:00

Mulheres são um quarto dos bombeiros no distrito de Santarém

Mulheres são um quarto dos bombeiros no distrito de Santarém

“Ser mulher nos bombeiros” juntou à mesa uma bombeira, uma comandante e uma presidente de uma associação humanitária de bombeiros voluntários. Número de bombeiras no concelho de Benavente é superior à média nacional, em que as mulheres não chegam a um quarto dos bombeiros recenseados (24%).

Marlene Parracho, bombeira há 32 anos nos Bombeiros Voluntários de Samora Correia, e formadora; Thays Freixo, comandante dos Bombeiros Voluntários de Azambuja; e Irina Batista, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Samora Correia, foram convidadas pela Associação Social Amigos de Samora Correia a dar o seu testemunho no Dia Internacional da Mulher. O colóquio “Ser mulher nos bombeiros”, inserido nos 50 anos dos Bombeiros de Samora Correia, decorreu no Palácio do Infantado, numa altura em que as mulheres não chegam a um quarto dos bombeiros recenseados a nível nacional (7.400 mulheres num universo de 30.433 bombeiros) e são pouco mais de um quarto no distrito de Santarém, 437 mulheres em 1710 bombeiros (25,56%).
Marlene Parracho tinha 17 anos quando abraçou a profissão e foi um choque para a mãe quando disse que ia ser bombeira. A mãe acabou por se revelar o seu maior suporte ao cuidar das suas duas filhas, agora bombeiras, das quais engravidou aos 22 e 24 anos, para poder frequentar os cursos e ir para os incêndios. A vontade de ser bombeira nasceu de um acidente de viação com que se deparou, da “magia” de ver a ambulância chegar e os bombeiros a actuar, conta. “Houve grandes homens na altura que me ensinaram no terreno a ser bombeira. Se queria, tinha de ir e fazer melhor do que eles. Nunca tive ajuda para subir umas escadas. Já não era a Marlene, era um amigo no meio de tantos homens!”, refere. Lembra-se dos primeiros incêndios, em que era a única mulher no teatro de operações e garante que nunca houve uma falta de respeito. Retirou-se dos incêndios porque prometeu que ia ser mãe de Leonor, de 9 anos, porque não sente que tenha sido mãe das outras duas filhas. “As pessoas precisam da minha inteligência e foco e não dos meus sentimentos. Senão deixava de ser aquilo que era, trazia os problemas para casa e não era capaz de ir trabalhar amanhã”, conclui.
Thays Freixo nasceu no Brasil e mudou-se para Portugal aos 17 anos, quando os pais, que viviam desde 2000 em Vila Franca de Xira, a foram buscar ao país natal. Viveu e trabalhou em Vila Franca e, em 2008, casou-se e comprou casa em Castanheira do Ribatejo. Quis frequentar um curso de primeiros socorros e desafiada por uma pessoa amiga realizou a formação inicial para bombeiro, mesmo com a barreira linguística. Apaixonou-se pelo mundo dos bombeiros e desde 2015 que é profissional da corporação. Era adjunta do comandante Ricardo Correia desde 2018 e foi um choque quando ele saiu. “Não estava à espera de ser comandante, fui apanhada de surpresa. Quando falaram comigo a primeira vez não quis, só ao fim de alguns dias. Fiquei triste por ele ter saído, pela pessoa que é e pelo que fez por Azambuja. Era inteligente, dinâmico e com quem aprendi muito. Ainda hoje temos boa ligação e tiramos dúvidas um com o outro”, afirmou em entrevista a O MIRANTE em Setembro de 2024. Com o voto de confiança dos colegas assumiu o cargo e sublinha que nunca se sentiu discriminada por ser mulher. Os Bombeiros de Azambuja têm 15 mulheres no activo e oito são profissionais.
“O que manda nesta área
é a competência”
Thays Freixo renovou a comissão de adjunta sem saber que teria um convite para comandante. A sua intenção era terminar a licenciatura na área da Protecção Civil e Bombeiros. Aceitou por espírito de missão, continuar a desenvolver a casa que a acolheu e onde se formou como bombeira. “Tive a sorte e a felicidade de encontrar no corpo de bombeiros de Azambuja homens com uma mentalidade muito aberta. Nós não temos de querer estar no mesmo patamar. Se quiséssemos, estaríamos a colocar-nos num patamar inferior. O que queremos é objectivos de vida, sonhos, profissionalismo, e isso não é disputa. O que manda nesta área é a competência, a habilidade, o dia-a-dia”, refere, acrescentando que os antigos comandantes lhe bateram à porta a disponibilizar ajuda.
Mãe de três filhos, de nove, cinco e três anos, Thays Freixo afirma que tenta contornar a situação quando vai para as ocorrências e que o filho mais velho não pode ouvir sirenes. O filho do meio já percebe e em 2017 quando voltou a casa dos incêndios em Góis, e depois de ter visto um carro dos bombeiros de Azambuja na televisão, pediu para não voltar aos bombeiros. “Vêem-nos como exemplo e como heróis, mas estão a sofrer. Sofrem porque chegamos atrasados à festa da escola ou não fomos. Ligamos à pressa ao pai ou à avó para não estar lá o vazio”, confessa.

Uma direcção com as mulheres em maioria
No caso de Irina Batista, educadora de infância, foi o pai e o companheiro que a incentivaram a assumir o cargo de presidente da associação humanitária, a título gratuito. Numa direcção com um homem, por só mulheres terem aceitado o convite, explica, foram bem acolhidas e não há distinção. Para si faz sentido continuar a assinalar o Dia da Mulher, por considerar que a mulher tem uma essência especial. “Além de querer ser independente, também é mãe, também tem o seu trabalho, as suas dificuldades enquanto ser individual e procura sempre um lugar na nossa sociedade de forma igual ao homem. Faz muito sentido este Dia da Mulher para valorizar a nossa pessoa, o nosso ser, as nossas capacidades e competências, porque ser mulher não é ser menor”, afirmou.
Ana Assunção Cardoso Rocha foi uma das sete fundadoras da Associação de Assistência de Samora Correia. A colectividade vai recuperar a primeira ambulância da associação. Uma Peugeot 504 adquirida, em Março de 1975 por subscrição pública pelo valor de 205 contos (pouco mais de mil euros). O viúvo da fundadora, João Rocha, 80 anos, recordou que a esposa integrou o grupo para desempatar as votações e colocar ordem na comissão de seis homens.
Já o vereador da Câmara de Benavente, Luís Feitor, afirmou na sua intervenção que o papel da mulher está ameaçado pela muçulmanização da Europa e reconheceu as mulheres como “o pilar da vida e da família”.

Concelho de Benavente é exemplo de equidade

No concelho de Benavente há mais mulheres nos corpos de bombeiros do que a média nacional de 24% (33 mulheres em 103 bombeiros, ou seja, 32%), segundo informou o presidente da Escola Nacional de Bombeiros, Lídio Lopes, anunciando que vai haver formação para dirigentes, paga pela Liga dos Bombeiros Portugueses. Paulo Cardoso, eleito na Assembleia Municipal de Benavente, revelou que está em consulta pública até 14 de Abril um documento que prevê uma série de apoios sociais e regalias sociais para os bombeiros. “Quem está nos bombeiros não trabalha por dinheiro, porque se assim fosse não havia vagas que chegassem para todos”, vincou a comandante Thays Freixo.

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