Sociedade | 29-03-2025 18:00

Há vida no Pego para lá do fim da produção da energia a carvão

Há vida no Pego para lá do fim da produção da energia a carvão
Sérgio Guerreiro, Maria Salgueiro, Sónia Alagoa, Rui Ruivo e Jorge Niny

Em Novembro de 2021 foi oficializada o fim da produção de energia a partir do carvão na Central Termoelétrica do Pego, no concelho de Abrantes. O encerramento da central teve impacto em vários estabelecimentos mas os comerciantes têm resistido às adversidades.

A aldeia do Pego, em Abrantes, tem cerca de dois mil habitantes e durante várias décadas acolheu uma central termoeléctrica a carvão que empregava perto de duas centenas de trabalhadores e desenvolvia a economia local. Em 2021 a central fechou e muitos comerciantes afirmam ter sentido o impacto do encerramento, mas têm resistido às adversidades. Sérgio Guerreiro, natural do Pego, é dono de uma barbearia há 34 anos e explica que não olha para o presente com negativismo. ”Tinha mais clientes porque com o funcionamento da central viviam aqui mais umas centenas de pessoas. No entanto, ainda tenho muitos clientes fidelizados. Podia ter sido pior”, refere a O MIRANTE.
Sónia Alagoa, de 51 anos, diz que só sentiu o impacto nas primeiras semanas. Proprietária de uma mercearia local, diz que a grande diferença sente-se na quantidade de pessoas que circulam nas ruas da aldeia. “As crises económicas dos últimos anos têm afectado mais do que propriamente o fecho da central. Mas é verdade que sinto falta da convivência com os trabalhadores, que ao final do dia vinham aqui bater à porta perguntar se ainda estávamos abertos e tínhamos o cuidado de ficar mais uns minutos abertos por causa deles. Mas a vida continua”, garante.
Quem circula na aldeia percebe que alguns restaurantes e cafés foram fechando com o passar dos anos devido à falta de clientes. No entanto, a presidente da Junta de Freguesia do Pego, Maria Florindo Salgueiro, diz que a localidade vai recuperando aos poucos do fecho da central. “Não posso dizer que é a mesma coisa, mas ainda há muita população no Pego. Nota-se que há menos consumo, mas o poder de compra das pessoas também não é o mesmo de há uns anos por causa da inflação”, refere.

Incerteza do passado e segurança do presente
A Endesa tem vários projectos delineados para a reconversão energética da central, onde serão integrados ex-trabalhadores de forma faseada. Alguns já estão integrados em diferentes vertentes, como Rui Ruivo, de 56 anos, e Jorge Niny, de 61 anos, que estão no escritório da Endesa em Abrantes. Rui Ruivo trabalhou quase 30 anos na central do Pego e sentiu o seu mundo desabar quando o equipamento fechou. No entanto, afirma que há males que vêm por bem. “Estou muito feliz actualmente. Nunca tinha estado desempregado. Senti um vazio enorme, foi muito duro. Posso dizer que até tive que recorrer a alguma medicação para conseguir gerir a angústia e incerteza que senti”, confessa ao nosso jornal.
Jorge Niny também compartilha dos mesmos sentimentos, afirmando que, embora a questão financeira estivesse salvaguardada pelo fundo ambiental, havia muita apreensão e ansiedade. O engenheiro salienta que sentiu mágoa ao ser despedido e que esse sentimento só foi amenizado com o alívio de receber a notícia que ia sair do desemprego. “Foram 30 anos de trabalho reduzidos a 15 minutos de conversa. Não foi nada agradável”, vinca. Jorge Niny diz que, ao falar com os seus ex-colegas, percebe a ansiedade que sentem por sair do desemprego. “Sempre que entro em contacto com ex-colegas da central transmito-lhes esperança, pois também serão integrados e poderão experienciar o óptimo acolhimento que tive”, sublinha.

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