Problemas na Valorsul voltam a causar acumulação de lixo em Vila Franca de Xira e na região ribatejana

Situação está a afectar todos os municípios da Área Metropolitana de Lisboa e da Região Oeste. Central de Valorização Energética da Valorsul, em Loures, está outra vez a funcionar a meio gás e a causar acumulação de lixo nas ruas. Retoma da operação só está prevista para Maio.
A Valorsul, a empresa responsável pelo tratamento e valorização dos resíduos da região de Lisboa e Oeste, está outra vez com limitações na operação da sua Central de Valorização Energética (CVE) de São João da Talha, em Loures, e isso está a prejudicar a vida de milhares de habitantes, incluindo do concelho de Vila Franca de Xira. Isto apenas um ano depois da central ter voltado ao funcionamento pleno depois de vários meses de paragem para reparação de uma turbina. Nessa altura, a empresa auto-elogiou-se durante uma reportagem de O MIRANTE, garantindo que esses trabalhos de reparação permitiriam dar estabilidade à operação durante mais uns anos, o que agora deixou de se verificar.
A Câmara de Vila Franca de Xira já veio criticar a situação por causa dos problemas que se estão a viver naquele equipamento da Valorsul, acusando a empresa de estar a causar com esta situação “atrasos consideráveis” na normal recepção de resíduos no concelho ribatejano, afectando dessa forma a recolha nas ruas “de forma significativa” e assim comprometendo o serviço prestado pela câmara. “Dispomos de informação de que a Valorsul está a diligenciar para solucionar a questão”, diz a autarquia, embora não totalmente satisfeita com as promessas. O município garante estar a desenvolver todos os esforços ao seu alcance para que os impactos nos moradores não se agudizem.
Questionada por O MIRANTE sobre o assunto, a Valorsul confirma que está a decorrer outra paragem na CVE, “realizada de forma faseada nas três caldeiras”, mas que isso permite na mesma a recepção contínua de resíduos. Confirma, no entanto, que em alguns casos os resíduos estão também a ser encaminhados directamente para o aterro sanitário de Mato da Cruz, em Arcena, Alverca, sobrecarregando ainda mais uma estrutura que só tem licença ambiental válida para funcionar até 2026.
Segundo a Valorsul, a retoma total da operação na central - que já tem 24 anos de vida - está prevista para 1 de Maio. A central trata os lixos produzidos na zona da Grande Lisboa e Oeste e nela trabalham 75 pessoas. Por dia deveria receber e queimar duas mil toneladas de lixo produzidas por 1,5 milhões de habitantes. Tal como O MIRANTE noticiou em Janeiro de 2024, durante uma reportagem no local, não fosse queimar-se ali o lixo de 1,5 milhões de pessoas e o aterro sanitário de Mato da Cruz há muito estaria esgotado.
Como funciona a central
O lixo chega em camiões que são pesados à entrada para que se saiba quanto lixo cada concelho está a entregar. Daí os camiões seguem para uma estrutura com três pisos de altura, de um tamanho semelhante a um campo e meio de futebol, onde duas garras gigantes operadas por duas pessoas passam 24 horas a colocar lixo em três fornos gigantes que o queimam a 900 graus. O calor produzido por essa queima transforma a água das caldeiras em vapor que, por sua vez, movimenta uma turbina que tem capacidade para produzir até 600 Gigawatts por ano, energia que é vendida à Rede Eléctrica Nacional. É o suficiente para alimentar uma cidade com 150 mil habitantes. Os poluentes nocivos são retirados e misturados com cimento sendo enviados para uma área especial em aterro dedicada a resíduos perigosos. A queima produz as chamadas escórias, que são encaminhadas para Mato da Cruz e separadas.