Sociedade | 17-04-2025 17:52

Morreu João Cravinho: um político que foi exemplo no combate à corrupção

Morreu João Cravinho: um político que foi exemplo no combate à corrupção

João Cravinho, ex -ministro do Partido Socialista, morreu na passada segunda-feira 16 de Abril com 88 anos. O antigo ministro socialista foi uma das vozes mais ativas no combate à corrupção, mesmo quando encontrou resistência do próprio partido, que rejeitou a sua intenção de criminalizar o enriquecimento ilícito.

Nascido em Angola, em 1936, João Cravinho foi ministro da Indústria e Tecnologia do IV Governo Provisório, liderado por Vasco Gonçalves. No ano seguinte entrou no Partido Socialista, que representou em sete legislaturas, entre 1976 e 2005, e voltou a assumir funções governativas no XIII Governo Constitucional, chefiado por António Guterres, enquanto ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território.

Ao longo do seu percurso político, foi voz ativa em defesa da transparência da vida pública e, em 2006, enquanto deputado, apresentou um pacote anti-corrupção em que propunha a criminalização do enriquecimento ilícito. A intenção foi rejeitada pela sua bancada parlamentar, numa altura em que o líder do PS e primeiro-ministro era José Sócrates.

Em 2001, João Cravinho foi testemunha no processo que julgou o então presidente da Junta Autónoma de Estradas (JAE) Garcia dos Santos por desobediência qualificada, depois de ter recusado revelar ao parlamento quem lhe disse haver situações de corrupção em empreitadas daquele organismo público tutelado pelo Governo. O caso remonta a 1998, quando Garcia dos Santos denunciou casos de corrupção na Junta Autónoma de Estrada ( JAE), estrutura que deixou no mesmo ano em ruptura com o então ministro das Obras Públicas. No ano seguinte, João Cravinho extinguiu a JAE.

João Cravinho em discurso directo: “Deus ajude os portugueses”


O MIRANTE recupera um texto sobre uma iniciativa de 2022 realizada no Museu do Oriente onde João Cravinho foi mais uma vez a voz discordante quanto à localização do novo aeroporto de Lisboa. Um debate onde Cravinho aproveitou para criticar José Sócrates e pedir a Deus que ajude os portugueses depois de ouvir Rui Moreira, actual presidente da câmara do Porto.


Em Dezembro de 2022 João Cravinho participou num debate sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, onde defendeu com todos os seus argumentos que a nova infraestrutura devia ficar a norte do rio Tejo. João Cravinho quer o novo aeroporto a norte de Lisboa. Carlos Moedas e Rui Moreira são pelo Montijo. O debate sobre a localização do futuro aeroporto de Lisboa teve lugar no Museu do Oriente, foi animado e chegou a ser polémico.

João Cravinho acusou os governantes de seguirem as estratégias do tempo de Marcelo Caetano, criticou de forma veemente a possibilidade de o aeroporto vir a ser localizado do lado sul do Tejo, Alcochete ou Montijo, e disse ficar com pena dos portugueses se tiverem que ficar sujeitos a este tipo de solução para o futuro aeroporto de Lisboa. Pelo meio João Cravinho deu algumas ferroadas no ex-primeiro ministro José Sócrates, que acusou de irresponsável e de tomar decisões ao pequeno-almoço, assim como os responsáveis do Laboratório Nacional de Engenharia Civil que na altura em que foi preciso não tomaram as decisões certas e assim colaboraram para o atraso na decisão e na escolha de um local para a construção da nova estrutura aeroportuária.

Matias Ramos, o ex-bastonário dos engenheiros, que é a favor do futuro aeroporto em Alcochete, ainda tentou ripostar da plateia, mas João Cravinho avivou-lhe a memória, remeteu-o para o que ele tentou ignorar e disse que respeitava muito o LNEC mas o que estava em causa era um estudo mal conduzido e não a instituição ( : ) Enquanto Rui Moreira foi criticando a possibilidade do aeroporto ficar a cerca de 80 quilómetros de Lisboa, encostado a Santarém, e defendia o Montijo como única solução, João Cravinho exclamou um “Deus proteja os portugueses”, “ainda vamos ouvir dizer que o céu pode ser uma boa alternativa para o novo aeroporto de Lisboa”, recordando, agora mais a sério, que todos os planos para as grandes obras para o país obrigam a servir os interesses de todos os portugueses e não de uma minoria dos seus habitantes.

Algarve vai ser a Catalunha de Portugal

No final do debate, João Cravinho foi bastante interpelado por várias das pessoas presentes. Embora com algumas dificuldades de locomoção, o ex -ministro foi-se livrando de elogios e críticas, subindo vagarosamente as escadas do auditório, trocando conversa à direita e à esquerda, conforme as solicitações. Um dos presentes foi toda a escadaria a provocar João Cravinho, acusando-o de desprezar a região do Algarve, e ameaçando que um dia o Algarve será a futura Catalunha de Portugal. Cravinho respondeu de forma serena à provocação respondendo que “ainda falta muito tempo para isso”.

O MIRANTE apanhou ainda Matias Ramos, o antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros, a beber café em grupo, vingando-se do facto de não ter tido oportunidade de rebater as questões do debate, chamando nomes feios a João Cravinho, entre eles o de mentiroso.

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