Projecto Tejo já tem verba afectada e há esperança que possa avançar em 2027

O projecto para aproveitamento da água do Tejo de Abrantes a Vila Franca de Xira, incluindo a zona do Oeste, com vertentes de desenvolvimento agrícola, lazer e turismo, abastecimento urbano e industrial e preocupações ambientais e de navegabilidade, teve um grande avanço com a previsão de uma verba proveniente da estratégia “Água que Une”. Os promotores do Projecto Tejo dizem que esta é a primeira vez em meio século, pelo menos, que alguém se preocupa com o rio e a necessidade de criar reservas de água.
O Projecto Tejo que partiu do contributo privado dos irmãos Manuel e Miguel Campilho, administradores da Sociedade Agrícola da Quinta da Lagoalva de Cima, em Alpiarça, a dois passos do rio, já conseguiu um grande avanço ao ser-lhe afectado mil trezentos e cinquenta milhões de euros. Este montante provém do plano “Água que Une”, que tem previsto um investimento de cinco mil milhões em cinco anos, o que leva os promotores do projecto, que inclui o agrónomo Jorge Avelar Froes, especialista em hidráulica agrícola, a acreditarem que em 2027 já deve começar a ser aplicado o investimento.
Os três dirigentes da Associação para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável do Tejo, empenhada no seu aproveitamento hidráulico de fins múltiplos, gostariam que a primeira obra prevista no plano fosse a construção de um açude na zona de Azambuja, que terá um papel determinante no combate da subida da água salgada. Manuel Campilho, em acordo com o seu irmão Miguel Campilho, e Jorge Froes, propõem que o projecto que iniciaram e que está na ordem do dia devido às alterações climáticas e à possibilidade de ocorrência de secas severas, seja gerido pela EDIA, a empresa que tem dado provas na gestão do Alqueva, ou, por exemplo, pelas Águas de Portugal. Uma forma de evitar que o projecto fique refém dos ciclos e das crises políticas.
Os promotores realçam que esta é a primeira vez em pelo menos meio século que um Governo se interessa a sério por uma ideia estruturante para o Ribatejo, salientando que está dependente do que preconizam a produção de alimentos, a fruta do Oeste, bem como o abastecimento às populações e às empresas. Bem como, sublinham, a criação de mais-valias e desenvolvimento turístico e económico das comunidades através da existência de espelhos de água e outros melhoramentos. Destacando a importância ecológica e económica da água, Manuel Campilho lembra que na década de 1950 já se falava na necessidade de se aproveitar o potencial do rio e que nas décadas seguintes, até 1990, foram feitos estudos nesse sentido, com uma componente virada para as cheias. “Agarrámos no que havia, juntámos o Oeste e demos uma dimensão de utilização múltipla”, realça.
Os açudes e a importância da agricultura
Os promotores do projecto sublinham que este paga-se no tempo, bastando olhar para a rentabilidade do Alqueva, sobretudo na agricultura. Com uma diferença: “Aqui, no Ribatejo, sabemos regar, porque aqui sempre foi uma zona de regadio”, diz Manuel Campilho. Chamando a atenção para a necessidade de garantir alimentos às populações, realçam a importância da água para o sector agro-alimentar, que representa 5% do PIB (produto interno bruto), 12% das exportações e 8% do emprego. Se forem feitos em pouco tempo os açudes insufláveis de Azambuja e do Almourol já seria muito bom, sendo que o mais caro será fazer a rede de rega. Os açudes, salientam, estarão em baixo na altura em que os peixes têm de subir o rio.
O açude do Almourol não é o que os ambientalistas têm feito passar em termos de imagem, realça Jorge Froes, explicando que quando dizem que a infraestrutura fica à quota 20 isso não significa que tem 20 metros de altura, sendo que se fica por cinco ou seis metros, uma vez que o Tejo está à quota 14. Manuel e Miguel Campilho e Jorge Froes salientam também a importância das barragens, como a do Cabril, que origina uma das maiores reservas de água doce e a do Castelo do Bode, nos concelhos de Tomar e Abrantes, que vê terminar o contrato de concessão de produção de electricidade em 2032.
Resolver um problema ambiental com mais de quatro décadas
O Projecto Tejo é entendido também como um meio para minimizar problemas ambientais que se agravam com o desaparecimento dos guarda-rios, que levou “ao abandono das infraestruturas do Tejo”, refere Miguel Campilho. A fauna e a flora foram afectadas pela falta de manutenção das marachas, das margens, dos diques de protecção das cheias, da fiscalização. Para Miguel Campilho, vogal da Associação Projecto Tejo, o que está previsto fazer promove a recuperação da fauna e da flora, porque, realça, “queremos viver do rio e que as populações vivam do rio”.
Manuel Campilho realça que a maior preocupação que se deve ter com os peixes no Tejo é a que já não há peixes e “quem quer que o rio volte a ter peixes tem de perceber que é com o Projecto Tejo que isso vai acontecer”. O presidente da associação realça que as pessoas não querem ver o rio abandonado e que não se pode continuar a deixar as coisas como estão. “Tem-se vivido de costas para o Tejo. É preciso devolver o rio às pessoas, para que estas possam usufruir dele e para se criar riqueza para o país”, sublinha Miguel Campilho.
Os elementos do projecto dão um exemplo do abandono a que o Tejo chegou. O dique de Alpiarça, perto da Quinta da Lagoalva, não tem manutenção há 50 anos. Está cheio de vegetação que cresce descontrolada, tem fissuras, e, dizem, a responsabilidade é da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que devia pelo menos ir ver o estado em que se encontra esta e outras estruturas hidráulicas do Tejo, que protegem as populações contra cheias.
Este não é um projecto megalómano: é um projecto para responder aos problemas
Um dos vários benefícios do Projecto Tejo é o de ser possível usar a água para situações de incêndios florestais, que podem ser cada vez mais e mais violentos com as alterações climáticas. A zona do distrito de Santarém é uma zona de alto risco de incêndios florestais e a retenção de água permite o abastecimento aos bombeiros e aos meios aéreos. “Este projecto não é megalómano, é um projecto para responder a problemas, a preocupações, com o objectivo de recuperar um rio abandonado”, salienta Manuel Campilho, presidente da Associação para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável do Tejo, promotora do Projecto Tejo. Para o responsável, é preciso avançar rápido “porque nada nos diz que não vamos ter seca extrema anos seguidos daqui a pouco tempo”.
O projecto tem uma vertente de fins múltiplos e um desejo de tornar o Tejo navegável desde Vila Franca de Xira até Abrantes. Estima-se que sejam necessários 4,5 mil milhões de euros. É um projecto destemido, mas os seus promotores têm a consciência que não é possível fazer tudo como seria desejável e têm consciência que a sua conclusão pode demorar 30 a 40 anos. Tem a ambição de desenvolver o turismo, a piscicultura, manter e expandir a área de regadio, controlo da intrusão salina, drenagem e redução dos danos das cheias, navegabilidade e o desejo de constituir-se como fonte de abastecimento urbano e industrial.