Sociedade | 21-04-2025 07:00

“Fofas de Mação” resistem ao esquecimento e à perda das tradições

“Fofas de Mação” resistem ao esquecimento e à perda das tradições
Vera Fernandes mantém viva a tradição das Fofas de Mação

Tradição das emblemáticas “Fofas de Mação” corre o risco de desaparecer. Vera Fernandes é a única que ainda mantém viva a confecção tradicional do doce na vila. A jovem maçaense aprendeu com Lucinda Dias, uma das que melhor dominou a arte de confecionar o doce e que, aos 88 anos, diz já não ter forças para continuar a tradição.

Em Mação a tradição das emblemáticas cavacas, mais conhecidas na vila como as “Fofas de Mação”, sobrevive por um fio. Em tempos, o aroma das “Fofas de Mação” sentia-se nas ruas da vila. Com 88 anos, Lucinda Dias diz já não ter forças para continuar a confecção, e resta apenas Vera Fernandes, que aprendeu com a “mestra”, para manter viva a tradição. Vera Fernandes decidiu aprender a confeccionar as Fofas e actualmente tem a sua própria loja, os “Segredos de Mação”, onde vende vários doces e bolos caraterísticos do concelho. “Já quase ninguém as fazia, só a Dona Lucinda, por isso quis aprender. Pressenti que se ninguém o fizesse as Fofas de Mação deixariam de existir”, conta a O MIRANTE Vera Fernandes, enquanto responde a uma das suas clientes se ainda tem fofas para vender. Com um sorriso no rosto, Vera responde que o doce já esgotou, estando de momento a preparar uma nova fornada.
O doce é confeccionado a partir de uma massa com farinha de trigo, azeite, ovos, aguardente e açúcar. Após a massa estar pronta, é colocada às rodelas num tabuleiro para ir ao forno, devendo ser a sua cozedura lenta em forno brando. Depois são cobertas com um creme de claras batidas em castelo com açúcar, estando o segredo da confecção nos mínimos detalhes. “Até mesmo o tamanho dos ovos faz diferença. Se não for tudo perfeito, ficam duras e têm que ser descartadas. É preciso ter muito cuidado e persistência e confesso que demorei muito até acertar na receita. Foi tentativa e erro”, explica Vera Fernandes.
Além das fofas, Vera Fernandes dedica-se a outros doces e bolos tradicionais, como os torrados, broinhas de mel e noz e biscoitos de manteiga e limão, feitos através de receitas antigas que recolheu de mães, avós e pessoas mais velhas da vila. A pasteleira de 41 anos começou como doceira nos tempos livres, ao participar na Feira Mostra de Mação e nos Quintais da Praça, onde deu a conhecer os seus doces e onde foi obtendo a aprovação dos clientes. “Fui ajustando algumas receitas, nomeadamente na quantidade de açúcar, pois muitas das receitas tinham imenso açúcar e confesso que ingressar neste negócio valeu muito a pena e até superou as minhas expectativas”, refere com entusiasmo. Ao longo dos anos o negócio tem crescido, havendo várias lojas que querem conhecer e provar “os segredos de Mação”.

A mestra que adoçava a boca à população
Lucinda Dias recorda com saudade os dias em que as cavacas eram feitas num forno a lenha e onde a cozinha se enchia de calor e movimento. Apesar de actualmente já não ter a energia e saúde para se dedicar à confecção do doce, Lucinda Dias ainda guarda bem viva a receita das cavacas típicas do concelho e diz sentir nostalgia dos tempos em se levantava cedo para amassar a massa. “Fiz cavacas durante mais de 60 anos e apesar de ser um doce que dá trabalho e que requere muita paciência e dedicação, adorava o que fazia e toda a gente gostava das minhas cavacas. Foram bons tempos”, recorda, com um sorriso. A maçaense, que falou a O MIRANTE acompanhada do marido, António João, conta que antigamente, tal como ela, havia muitas pessoas que faziam cavacas e outros doces, uma prática que, mais do que um ofício, era um ritual familiar. “Das pessoas que faziam como eu, já nenhuma está viva e agora é tudo feito nas máquinas. Dessa forma as cavacas não ficam tão bem. Antigamente ia-se à lenha e batia-se tudo à mão até pôr a massa tão fina e tão ‘fofa’ que nem pesava nada antes de vir do forno”, conta Lucinda, afirmando que talvez seja esta a origem do nome.
Se por um lado o tempo afastou Lucinda Dias das cavacas, é a modernização da sociedade e a falta de interesse dos mais jovens que verdadeiramente ameaça a sobrevivência do doce típico de Mação. A antiga pasteleira lamenta que as novas gerações não queiram aprender os costumes e saberes de outrora. No entanto, apesar dos novos hábitos, as Fofas de Mação resistem ao esquecimento e à perda das tradições, seja através da memória de Lucinda Dias ou da persistência de Vera Fernandes.

Pelas mãos de Lucinda Dias, fotografada ao lado do marido, António João, passaram milhares de cavacas de Mação

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