Sociedade | 21-04-2025 15:00

Livro alerta para os impactos no território causados por megaprojectos como o do novo aeroporto

Livro alerta para os impactos no território causados por megaprojectos como o do novo aeroporto
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Investigadoras apresentaram livro que alerta para os impactos no território causados por megaprojectos como o do novo aeroporto

No Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, quatro investigadoras apresentaram um livro que cruza literatura e paisagem. Entre ficções e diagnósticos reais, a obra emite alertas sobre o impacto de decisões que moldam, ou desfiguram, o ambiente e a forma de vida na região atravessada pelo rio Tejo.

O avanço desordenado do urbanismo no litoral e na lezíria ribatejana e o anúncio de megaprojectos como o novo aeroporto e de novas pontes sobre o Tejo são sinais de um território em transformação acelerada e, para algumas investigadoras, em desequilíbrio crescente. Esta foi uma das questões colocadas a investigadoras à margem da apresentação do livro “Ribatejo e Estremadura – Imagens do ambiente natural e humano na literatura de ficção”, que decorreu no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.
A investigadora Maria da Graça Saraiva, coautora do livro e especialista em paisagem e ordenamento do território, alerta para os riscos ecológicos e sociais provocados pelo avanço de culturas agrícolas intensivas no Alentejo e pela ocupação urbana desregulada em zonas rurais, como a lezíria ribatejana. A construção do novo aeroporto na freguesia de Samora Correia, em plena lezíria ribatejana, levanta-lhe preocupações, bem como os impactos de outros grandes investimentos. “As infraestruturas são necessárias, mas têm de ser articuladas com o território. Não podem ser dominadas apenas pelos interesses económicos dos terrenos. É preciso planeamento”, defende.
Ana Cristina Carvalho, também autora do livro, aponta igualmente o novo aeroporto previsto para a freguesia de Samora Correia como um ponto de tensão no equilíbrio do território, referindo que estão em causa alterações no uso do solo e prevê-se o aparecimento de megacidades à volta desse investimento.
Em declarações a O MIRANTE, a investigadora Maria da Graça Saraiva defende um modelo de desenvolvimento que articule produção, protecção ambiental e sustentabilidade, criticando a lógica puramente económica que tem orientado o uso do solo em várias regiões do país. Como adverte, a agricultura está em constante evolução e sujeita a pressões económicas significativas, nomeadamente no sentido de garantir alimento para mais pessoas. Mas há limites que o território impõe, como a disponibilidade de água e a qualidade dos solos.
A especialista critica ainda as alterações legislativas, com a nova lei dos solos, que facilitam a expansão urbana em territórios agrícolas ou naturais, uma tendência que considera preocupante. Refere que há solo urbano disponível, fundamental para a construção, porém, não faz sentido intervir numa paisagem rural que tem a sua continuidade, a sua lógica e o seu papel, quer de produção, quer de protecção. Acrescenta que, no Ribatejo, a proliferação de culturas industriais levanta novos desafios, nomeadamente em zonas como as margens do Tejo, propensas a cheias. Era fundamental voltar a haver o tratamento das margens, das marachas do Tejo, defende.
Maria da Graça Saraiva aponta ainda o caso dos projectos de energia solar, que por vezes obrigam ao abate de milhares de sobreiros, espécie com papel essencial no sequestro de carbono e no combate às alterações climáticas. Promete-se que os vão plantar daqui a 40 ou 50 anos, mas o impacto imediato é a destruição de um recurso valioso. O território é a nossa base de conhecimento. Os antigos sabiam e respeitavam isso. Temos de assegurar sustentabilidade, conhecendo os limiares do que é possível fazer.

Um livro e quatro autoras

O livro apresentado a 5 de Abril em Vila Franca de Xira parte da literatura para pensar o território e os modos de vida do Ribatejo e da Estremadura, cruzando ficção, memória, paisagem e identidade. A sessão contou com a presença das autoras – Ana Cristina Carvalho, Natália Constâncio, Maria da Graça Saraiva e Ana Lavrador-Silva – e com a apresentação da professora da Universidade de Coimbra, Fátima Velez de Castro. Marcaram também presença representantes da memória neo-realista, como António Mota Redol, filho do escritor Alves Redol. O livro pretende mostrar como os escritores de ficção retrataram a paisagem, o rio, a charneca, a lezíria, e a relação do ser humano com a natureza. Ao mesmo tempo, é uma proposta para ler o território através da literatura”, explicou Ana Cristina Carvalho.
São 266 páginas de Ribatejo e Estremadura. Territórios que o eixo natural e paisagístico do rio Tejo simultaneamente une e separa, são um fértil exemplo do dom inspirador de algumas regiões para nutrir o imaginário dos escritores. O livro está disponível gratuitamente online e pode ser adquirido no site da editora By The Book, nas livrarias e nos locais habituais.

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