Convívio de funcionários do município da Chamusca em hora de trabalho dá que falar

Despacho assinado pelo presidente da câmara, Paulo Queimado, determinou o encerramento dos serviços ao público na tarde de sexta-feira, 11 de Abril, para um convívio de funcionários no cine-teatro da vila. Medida causou polémica por estarmos em ano de eleições, numa altura em que se fala da candidatura independente da actual vice-presidente Cláudia Moreira.
O presidente da Câmara Municipal da Chamusca, Paulo Queimado (PS), determinou o encerramento dos serviços ao público na tarde de sexta-feira, 11 de Abril, para promover a realização de um convívio entre funcionários. O edital foi publicado a 7 de Abril e foi rapidamente partilhado em várias redes sociais com vários comentários de munícipes sobre o facto da medida ser tomada em ano de eleições, numa altura em que se fala da possibilidade da actual vice-presidente da autarquia, Cláudia Moreira, ser candidata por um movimento independente nas autárquicas de Outubro deste ano.
Segundo O MIRANTE apurou, o convívio promovido pelo presidente da Câmara da Chamusca não é prática comum, pelo contrário, foi realizado nestes moldes pela primeira vez em quase 12 anos de mandato. O convívio realizou-se no cine-teatro da vila e durante algumas horas os funcionários estiveram a apresentar-se e a explicar as funções que desempenham na autarquia, nomeadamente as tarefas que realizam no dia-a-dia. Alguns elementos que participaram na iniciativa confessaram a O MIRANTE alguma surpresa pela forma como foi idealizado o evento, uma vez que, referem, pouco se conviveu, passando quase todo o tempo a olhar para um ecrã gigante onde eram projectados os slides de power point com as descrições das tarefas e das funções.
Na véspera da iniciativa, o município partilhou nas suas redes sociais que o evento se insere no âmbito do Plano Municipal para a Igualdade e Não Discriminação, com especial enfoque nas medidas de conciliação entre a vida pessoal e profissional. A publicação teve vários comentários a criticar a medida. “Se os funcionários precisam tanto destas novas medidas implementadas só o devem ao executivo que causou a todos danos psicológicos. Mas como é ano de eleições oferecem papas e bolos”, lê-se num dos comentários. “A ser feito que o fizessem ao sábado ou ao domingo. Fazer isso a uma 6ªFeira, é transtornar a vida dos munícipes/contribuintes. Questiono-me acerca da legalidade desta situação”, escreveu outro munícipe. “O município adoçou a boca aos funcionários em ano de eleições, mas esqueceu-se de todos os anos a esta parte”, referiu outro utilizador.
Na Câmara da Chamusca há sinais de discriminação
Algumas das críticas que o executivo de maioria socialista da Chamusca tem sido alvo nos 12 anos de mandato prende-se com a falta de empatia e com a tentativa de boicotar o trabalho de alguns funcionários. O MIRANTE tem dado conta de alguns casos, como o do encarregado-geral da autarquia, Fernando Brás, ou o do coveiro Jorge Sequeira, que trabalhou de graça e sem férias durante quase uma década. Fernando Brás foi o funcionário que Paulo Queimado “chutou” para um gabinete das instalações do campo de jogos da Chamusca há mais de sete anos. É o único encarregado geral da autarquia e foi para o campo de jogos gerir umas obras que iam começar naquele espaço, mas até agora as obras não começaram. Aparentemente foi só um pretexto para o retirarem do antigo gabinete onde desempenhava o cargo de encarregado-geral. Desde essa altura que faz a gestão do seu tempo de trabalho sem trabalhar.
A história de Jorge Sequeira podia servir de guião para um filme sobre os casos sociais da região ribatejana. Reformado por doença, Jorge Sequeira trabalhou quase uma década como um dos coveiros do cemitério municipal sem receber ordenado ou qualquer ajuda de custo e sem ter direito a férias. O trabalho, como voluntário, não lhe permitia receber um ordenado, mas o presidente da Câmara da Chamusca, na altura Sérgio Carrinho, ajudava-o pagando-lhe despesas de representação. Desde que Paulo Queimado assumiu a presidência da autarquia, em 2013, isso deixou de acontecer e Jorge Sequeira trabalhou mais de sete anos sem compensações, das 08h00 às 17h00, todos os dias, sem faltas e sem férias, tal como contou O MIRANTE numa reportagem que pode ler numa edição publicada em Dezembro de 2020.

Ex-responsável da Protecção Civil da Chamusca fala em trabalhadores maltratados
Armando Sousa Mira foi durante vários anos responsável pela Protecção Civil na Chamusca, tendo sido Coordenador do órgão durante mais de dois anos. Num comentário publicado na página oficial de Facebook do município, no dia em que foi partilhado o edital a avisar do encerramento dos serviços, Armando Mira deixou palavras duras para a forma como o executivo liderado por Paulo Queimado tem gerido a relação com os funcionários. “Aqui há gato, cão, lebre ou mesmo crocodilo. Quem tão mal trata trabalhadores, digo mesmo, massacra os mesmos com atitudes ao estilo da antiga ‘PIDE’, perseguições, escorraçados, postos de lado, com colaboração de bufos acarinhados por alguém, a levar e a trazer recadinhos, depois os trabalhadores são arrumados para os campos de futebol, motoristas de pesados de passageiros postos de lado, operadores de máquinas afastados a toda a força, animadores e coordenadores de cultura e teatros sem nada para fazer. (…) Eu fui, enquanto estive como Coordenador da Protecção Civil, ‘preso’ num gabinete por mim pensado, desenvolvido, montado e que serviu de referência para montar muitos no Ribatejo e alguns no Alto Alentejo. (…) É tão vergonhoso para esta terra de democratas, que sempre foi contra estas reles atitudes (…) Quero assistir ao 26 de Abril, pelo menos aqui nesta câmara municipal, para se replantar a democracia, a liberdade e a dignidade dos trabalhadores/colaboradores”, lê-se no comentário.
Armando Mira, que é uma referência dos Bombeiros Voluntários da Chamusca, foi a primeira entrevista que O MIRANTE publicou, na sua primeira edição, a 16 de Novembro de 1987. Nessa entrevista, fala no amor à causa, que o Homem é mais perigoso que o fogo e que todos os bombeiros deviam ser remunerados, entre outros assuntos.