Sociedade | 25-04-2025 21:00

A tradição cumpriu-se debaixo de chuva nas Festas da Nossa Senhora da Boa Viagem em Constância

A tradição cumpriu-se debaixo de chuva nas Festas da Nossa Senhora da Boa Viagem em Constância
João Parracho participa no cortejo fluvial há 12 anos consecutivos. O Grupo Etnográfico de Danças e Cantares de Alpiarça esteve em Constância a recriar antigas tradições

Muitos barcos subiram o rio Tejo para receberem a bênção de Nossa Senhora da Boa Viagem nas festas de Constância. Na segunda-feira, 21 de Abril, o tradicional cortejo fluvial com barcos vindos de várias localidades ribeirinhas foi abençoado pela chuva que caiu boa parte do dia.

Mais de uma centena de pessoas e muita chuva receberam em Constância as embarcações engalanadas que participaram na segunda-feira, 21 de Abril, na bênção dos barcos durante as festas de Nossa Senhora da Boa Viagem. Como vem sendo habitual, o percurso teve início em Tancos e seguiu Tejo acima até à foz do Zêzere, repetindo-se uma tradição com muitos anos. Apesar das condições climatéricas adversas, este foi mais um ano de festejos carregados de simbolismo.
João Domingos Parracho tem 70 anos e participa há doze no cortejo fluvial, altura em que voltou para a localidade vizinha de Praia do Ribatejo depois de ter estado emigrado. O seu barco colorido e enfeitado com bandeirinhas é uma herança de família que tem feito questão de preservar. Vestido a rigor, com trajes piscatórios de outros tempos, João Parracho foi o primeiro a atracar na praia fluvial de Constância na manhã chuvosa de 21 de Abril.
Com O MIRANTE partilha memórias da sua infância, quando a pesca era o sustento da sua família e o rio Tejo tinha peixe para todos os gostos. João Parracho lembra-se de pescar com redes que podiam ter 100 metros por dois, que eram largadas ao rio e puxadas de novo cheias de peixe. Agora já não é assim, afirma. “O rio não está limpo e tem cada vez mais espécies invasoras que comem os cardumes de peixe, como a lampreia e o sável”, aponta.
João Parracho acredita que a pouca tradição piscatória que ainda existe tem os dias contados. “Já não há pesca, é só negócio. Agora é tudo criação de viveiro”, lamenta. Quanto ao açude no Tejo que está previsto para a zona da sua terra natal, a Praia do Ribatejo, o pescador ribatejano revela uma posição neutra, admitindo que a intervenção pode trazer benefícios em termos de controlo do caudal da água. Mas perante a possibilidade de a intervenção no rio poder acabar com o cortejo fluvial como hoje existe, atira peremptório: “sou totalmente contra”.

Dar a conhecer a tradição
À volta da fogueira, uns assam chouriço e toucinho para acompanhar com as migas que arrefecem no tacho. Abrigados debaixo do estrado, outros cantam e dançam músicas típicas do Ribatejo e animam todos os que chegam encolhidos debaixo dos chapéus de chuva. Os animadores são do Grupo Etnográfico de Danças e Cantares de Alpiarça, que marca presença nas celebrações de Nossa Senhora da Boa Viagem desde 2010. Todos os anos recriam o cenário da “meia laranja”, o nome dado ao espaço onde antigamente os trabalhadores do campo cozinhavam e comiam quando paravam a meio da jornada.
Os espectadores mais curiosos pedem fotografias e fazem perguntas sobre o que está a ser representado. “O nosso papel é mostrar a tradição a quem não a conhece e temos todo o gosto em fazê-lo”, afirma Miguel Moita, de 35 anos, que encarna os hábitos antigos de corpo e alma e caminha descalço durante todo o dia. “Se houver procissão hoje, vou carregar o andor descalço também”, garante.
O grupo de Alpiarça composto por miúdos e graúdos é uma prova da força da tradição, que passa de geração em geração. “Ali o jovem Afonso já quer ser o ensaiador do grupo”, afirma sorridente Miguel Moita enquanto aplaude mais uma música que finaliza com o característico acordeão.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1713
    23-04-2025
    Capa Médio Tejo
    Edição nº 1713
    23-04-2025
    Capa Lezíria Tejo
    Edição nº 1713
    23-04-2025
    Capa Vale Tejo