Comerciantes contestam colocação de pilaretes na Portela das Padeiras
Comerciantes da Portela das Padeiras, na periferia de Santarém, temem que a colocação de barreiras e pilaretes nos locais que eram usados para os seus clientes pararem os carros lhes mate o negócio. Num deles já se regista quebra na facturação. Câmara de Santarém e junta de freguesia dizem que está em causa a segurança dos moradores.
“Abri a lavandaria em 2021 e sobrevivi à pandemia mas a isto não sei se sobrevivo. Ninguém vai andar a acartar cestos de roupa a pé”. O desabafo sai da boca de Diana Gonçalves, proprietária da lavandaria Dona Lavadeira, na Portela das Padeiras, Santarém, que teme que a decisão da colocação de pilaretes e barreiras nas bermas daquele movimentado troço da Estrada Nacional (EN) 3, lhe acabem com o negócio. A decisão partiu da Câmara de Santarém depois de uma reunião com moradores que se queixam da falta de visibilidade para entrar na EN3, mas não agradou aos comerciantes que ali têm os seus estabelecimentos que empregam um total de 17 pessoas.
“Há postos de trabalho em jogo”, sublinha Diana Gonçalves, realçando que quem ali estaciona é apenas durante alguns minutos, para ir às lojas ou ao café. “As pessoas param o carro, fazem o que têm a fazer e vão embora”, vinca, lamentando que depois de reclamar lhe tenham apenas dito que “não se pode agradar a toda a gente”. Ao lado, Ana Girão, costureira, diz que apoia a sua parceira de negócio.
“As pessoas têm de ter paciência e compreender”
No início do mês os comerciantes foram surpreendidos com a colocação de barreiras e pilaretes que encurtaram o número de espaços na berma da estrada onde os clientes costumavam estacionar. Uma decisão assumida pelo vereador com o pelouro do Trânsito na Câmara de Santarém, Manuel Afonso (PS), “em nome da segurança” e tomada após reunião com os moradores que se queixavam da falta de visibilidade para entrarem com os seus veículos na EN3.
“É óbvio que toda a gente tem direito ao negócio, mas tendo verificado no local que o risco é grave e pode provocar acidentes, as pessoas têm de ter paciência e compreender”, diz o vereador a O MIRANTE, acrescentando que há muitos anos, naquele local, morreu um jovem atropelado e que lá foram colocadas barreiras precisamente para impedir o estacionamento.
“Em 1994 existiam lá barreiras mas ao longo do tempo as pessoas foram-nas arrancando”, destaca ao nosso jornal o presidente da Junta da Cidade de Santarém, Diamantino Duarte (PS), esclarecendo que a sua autarquia voltou agora a colocar lá as barreiras e pilaretes por indicação da câmara municipal. Uma medida com a qual concorda, tendo em conta que “as pessoas que querem sair de casa têm quase de entrar na via para ter visibilidade”, o que pode provocar acidentes.
O café A Padeira da Portela tem sido até agora o negócio mais prejudicado, com a alteração ao estacionamento a reflectir-se financeiramente. “Temos notado muita diferença no número de clientes que vinham todos os dias e que já não vêm porque não têm onde parar o carro”, conta a funcionária, Andrezza Csaky. Há ainda, vinca, a venda de botijas de gás que sai prejudicada já que “os clientes desistem porque não conseguem parar o carro perto”.
Abaixo-assinado acentua protesto
A colocação das barreiras e pilaretes fixos acabou com pelo menos sete espaços para estacionamento e já levou mais de duas centenas de clientes a subscrever um abaixo-assinado que está a circular nos vários estabelecimentos. O documento está também disponível na Florista Sizal, negócio que Débora Bernardino abriu há cerca de meio ano. “Quem é que vai andar a carregar sacos de terra e vasos com plantas? E as pessoas mais idosas com pouca mobilidade?”, questiona, considerando que a decisão foi má para o negócio mas também para aqueles que ali estavam habituados a fazer as suas compras, inclusive no supermercado Aqui é Bom.
Garantindo que não vão ser colocados mais pilaretes ou barreiras, o vereador Manuel Afonso adiantou ainda que está prevista para aquele troço da EN3 uma intervenção que vai incluir a criação de passeios. “Aquele não é um local de estacionamento”, rematou.