Fundação da Associação de Municípios do Vinho foi para dar trabalho a José Arruda
O presidente da Câmara do Cartaxo, município que esteve na origem da criação da Associação de Municípios Portugueses do Vinho, considera que esta entidade não acrescenta valor ao sector e que não dá resposta a questões como o que é feito para promover o vinho e os produtores. Após João Heitor ganhar as eleições para o PSD, acabando com a hegemonia socialista, a sede mudou-se para Santarém e o Cartaxo perdeu a presidência. Para o autarca a associação, que desde a fundação em 2007 é gerida por José Arruda, como secretário-geral, serve para dar emprego e fazer umas viagens.
O presidente da Câmara do Cartaxo já perguntou várias vezes para que serve a Associação de Municípios Portugueses do Vinho (AMPV), fundada no município, que durante muitos anos suportou os custos, revelando que nunca obteve respostas e duvida que venha a tê-las. João Heitor considera que a mudança da sede da associação do Cartaxo para Santarém e a retirada do município da presidência do conselho directivo teve a ver com a mudança política no concelho do PS para o PSD. O autarca diz que apenas foi informado das duas situações e que não houve qualquer conversa prévia sobre o assunto por parte do secretário-geral da organização, José Arruda, que está nessas funções desde a fundação em 2007.
Nos órgãos sociais 2021-2025, o Cartaxo tem a vice-presidência da mesa da assembleia intermunicipal, sendo aliás o único município do distrito de Santarém nos órgãos sociais. João Heitor sublinha que foi disponibilizado este cargo para o Cartaxo só para não se eliminar logo a presença do município na associação, realçando que está a ponderar a continuidade da câmara na AMPV. O autarca questiona o que é que a associação acrescenta de valor ao sector, aos produtores, onde é que promove os vinhos e os associados e em que é que ajuda os produtores a venderem mais vinho, sublinhando que não encontra essas respostas.
João Heitor não tem pejo em dizer que a associação foi criada para José Arruda, que serve para dar emprego a algumas pessoas e para fazer umas viagens, diz que está subentendido que a presidência da AMPV vá para câmaras de partidos que tenham a maioria dos municípios, neste caso o PS. Não para os que possam ter o melhor perfil para fazer essa gestão, ressalvando que com isto não quer dizer que tenha de ser o Cartaxo. “O que nos interessa é defender um produto e um sector”, realça. Para os órgãos sociais eleitos em 2021 foi atribuída a presidência à Câmara de Lagoa (Algarve).
O presidente da Câmara do Cartaxo sugere que a AMPV devia trabalhar de forma mais próxima com outras associações e entidades do sector, a começar pelas comissões vitivinícolas regionais, o que não acontece. A associação foi criada devido à iniciativa do município do Cartaxo, na altura presidido por Paulo Caldas (PS), e foi a câmara que suportou durante muitos anos o secretariado e os custos de funcionamento. Na perspectiva de João Heitor, a associação foi um projecto criado para o desde sempre secretário-geral José Arruda.
Vinhos do Tejo têm uma fraca comunicação
O presidente da Câmara do Cartaxo considera que a questão da mudança do nome de vinhos do Ribatejo para vinhos do Tejo está sanada e consolidada. Mas considera que é preciso fazer mais pela valorização dos vinhos desta região, realçando que a região do Tejo, através da Comissão Vitivinícola Regional (CVR) tem uma fraca comunicação, comparada com outras regiões como o Alentejo, o Douro ou o Dão. “Temos que valorizar mais os nossos produtos e comunicar melhor os nossos produtores”, sugere João Heitor.
O autarca não vê a designação de carrascão, atribuída aos vinhos do Cartaxo, como uma imagem de marca e considera que deve recuperar-se o plantio de vinhas nas zonas de bairro. Explica que as vinhas nestes terrenos de pequenas parcelas são o que diferencia o Cartaxo e que é destas terras que surgem os melhores vinhos do concelho. João Heitor considera ainda que o aumento em grande escala de grandes zonas de plantio de vinha, como no Alentejo, vai originar grandes produções que terão impacto no mercado global, enfraquecendo o preço do produto.
À Margem
José Arruda ganhou asas
No início do seu mandato, políticos próximos de João Heitor não deixaram passar a oportunidade de dar conta que José Arruda mudou a sede da Associação dos Municípios Portugueses com vinho do Cartaxo para Santarém. Curiosamente, a associação nasceu no Cartaxo e foi sempre a autarquia que financiou a associação. Quando o PS perdeu a câmara para o PSD, José Arruda, que foi sempre um homem do PS que trabalhou com os socialistas da terra, apressou-se a sair do Cartaxo com a associação sem dizer "água vai". A mudança acontece numa altura em que a associação já tinha crescido e José Arruda já considerava o seu lugar assegurado. Entretanto, a associação já quer ser também a representante dos territórios olivícolas e corticeiros de Portugal, embora nesta altura seja só para editar uma revista, daquelas feitas à medida de cada concelho, e certamente para a associação facturar e dar dinheiro a ganhar.
José Arruda, entretanto, ganhou asas não por viajar muito, mas por ter sido convidado a assumir a presidência da SEDES de Santarém, cargo que tomou posse esta semana.