Hospital Vila Franca de Xira tem ao serviço um ginecologista condenado por abusos sexuais

Clínico tem negado os factos e pedido recurso das sentenças. Administração da Unidade Local de Saúde Estuário do Tejo empurra a culpa para a justiça e para a Ordem dos Médicos, que em treze anos nunca impediu o médico de exercer funções.
Um médico do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Vila Franca de Xira continua ao serviço apesar de já ter sido condenado duas vezes em tribunal por abusos sexuais a pacientes. O caso veio a lume na última semana depois de uma das vítimas do clínico Valério Carvalho, de 59 anos, ter vindo a público denunciar o que classificou como abuso sexual, depois do médico alegadamente lhe ter colocado dois dedos na vagina e um outro a estimular o clítoris em movimentos circulares e ritmados durante uma consulta.
O médico foi condenado em 2012 a um ano de pena suspensa por ter importunado sexualmente duas mulheres em tratamento no Hospital São Francisco Xavier, em 2009. Em 2022, surgiu um novo caso por alegada violação de uma mulher chinesa numa clínica privada em Lisboa, de onde resultou uma outra condenação a quatro anos de prisão efectiva com suspensão de funções por igual período, com o Tribunal da Relação a dar como provado que o médico terá colocado a boca na zona genital da vítima. O clínico sempre negou as acusações de que foi alvo e tem recorrido das decisões da justiça, incluindo da última, que ainda está em recurso. Esse expediente legal tem permitido ao médico continuar a exercer a profissão, quer no Serviço Nacional de Saúde em Vila Franca de Xira como numa clínica privada.
A Ordem dos Médicos aplicou-lhe uma suspensão de seis meses aquando do primeiro processo mas a medida nunca terá sido cumprida devido aos sucessivos recursos interpostos na justiça, onde os tribunais sempre validaram as primeiras decisões. Sabe-se que o último acórdão do Tribunal da Relação já chegou à mesa do conselho superior da Ordem dos Médicos, que deverá vir a propor a expulsão do médico, que tem um outro processo disciplinar em fase de inquérito. O MIRANTE questionou a Ordem dos Médicos sobre este assunto mas não obteve resposta.
Já o presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde Estuário do Tejo, que tutela o Hospital Vila Franca de Xira, Carlos Andrade Costa, ouvido à margem de um seminário em Alenquer, diz estar a aguardar por uma decisão dos tribunais e da Ordem dos Médicos. “É um médico que está há muitos anos no hospital e quando cheguei [à administração] ele já cá estava. Acho que a Ordem dos Médicos tem uma palavra a dizer, os tribunais também e a justiça está a decorrer. Temos de aguardar”, declarou a O MIRANTE.