Sociedade | 09-05-2025 10:00

Advogado João Cardador, temido e odiado no Bairro 1º de Maio, quer ser presidente da assembleia municipal da Chamusca

Advogado João Cardador, temido e odiado no Bairro 1º de Maio, quer ser presidente da assembleia municipal da Chamusca
Luta dos moradores da Casa do Povo da Chamusca junto ao tribunal da Golegã num dia de julgamento numa foto com cerca de 25 anos

João Cardador é o advogado que tem ajudado a despejar e a levar a tribunal os moradores das Casas do Povo da Chamusca; agora diz que tem paixão pelas gentes da sua terra e anunciou a sua candidatura nas próximas eleições autárquicas por um movimento independente.

O caso das casas do Bairro 1º de Maio, na Chamusca, antigamente designado por casas do Bairro da Casa do Povo, voltou à ordem do dia porque o advogado da direcção vai ser candidato às próximas eleições autárquicas. O MIRANTE recebeu alguns telefonemas a solicitar notícias sobre o facto, já que João Cardador, o advogado da direcção, é quem, quase literalmente, faz a gestão das vendas e das rendas e de tudo o que se relaciona com a actividade da associação, segundo um dos moradores relatou a O MIRANTE.
O MIRANTE falou ainda com algumas pessoas que nos últimos anos tentaram negociar casas, saber os seus valores de venda ou o valor das rendas, e todas dizem que a resposta da actual presidente da direcção, Maria José, é que se dirijam ao escritório do advogado João Cardador, que recentemente foi anunciado como candidato em primeiro lugar na lista à assembleia municipal da Chamusca pelo Movimento liderado por Rui Martinho, actual presidente da junta de freguesia da Chamusca e Pinheiro Grande.
João Cardador não é novato nestas andanças da política, tendo sido vereador da cultura no primeiro executivo do Partido Socialista eleito logo após o normal funcionamento das instituições democráticas a seguir à revolução do 25 de Abril de 1974. Agora vem dizer num texto publicado na sua página pessoal do Facebook que “é tempo de mudança” na Chamusca e que concorre às eleições por “paixão pelo concelho e pelas suas gentes”.
Para muitos dos moradores do antigo bairro das Casas do Povo, “João Cardador devia ter cuidado ao apresentar-se como um defensor do povo da Chamusca e do concelho, já que a sua actividade como advogado ao serviço da Casa do Povo é considerado, pela quase unanimidade dos moradores, uma afronta e um acto de desprezo pelos direitos de todos, nomeadamente os que têm menos rendimentos e vivem nas casas quase desde que foram inauguradas”, ou seja, antes do 25 de Abril. Na maioria dos casos as casas eram, e muitas ainda são, habitadas por familiares dos primeiros arrendatários.
Segundo O MIRANTE apurou, há uma casa ainda em obras, adquirida por um empresário da Chamusca, que deverá ser posta à venda dentro de pouco tempo por valores a rondar os 100 mil euros (ver caixa). Mas há ainda mais casas que foram adquiridas recentemente por pessoas que resolveram comprar para investirem, e que também em breve deverão aparecer no mercado de arrendamento. Entretanto, uma das últimas casas vendida por cerca de cinquenta mil euros, foi a uma pessoa que comprou para depois voltar a vender a quem lá morava, e tinha sido despejada por ordem do tribunal.
Os casos de acções de despejo em tribunal, são, entre outras, as armas que a direcção da Casa do Povo tem usado para despejar os moradores que, ou não compram as casas ou não aceitaram a actualização das rendas. Nem sempre a Casa do Povo tem ganho. Há moradores que conseguiram em tribunal ganhar as acções de despejo, e a actualização das rendas, por serem pessoas de fracas posses e em situação de reformados.
Mas “o cerco que a direcção da Casa do Povo, através do seu advogado João Cardador, vai fazendo aos moradores que ainda resistem a comprar ou a cederem aos valores de actualização das rendas, vai continuar injustamente”, defendem alguns moradores com quem O MIRANTE conversou e obteve informações.
O pedido de extinção da Casa do Povo da Chamusca teve três decisões em três tribunais e a última foi fatal para os moradores. Depois de conseguirem que o tribunal do Entroncamento e da Relação de Évora decidissem pela extinção, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) revogou a decisão sem apelo nem agravo. Mas nem tudo está perdido para os moradores se conseguirem desta vez um advogado que saiba ler a sentença do STJ, uma vez que os juízes não julgaram a má gestão, as acusações de arbitrariedade e sonegação de informações, mas só, e simplesmente, recorrendo a um acórdão de 2017, que faz jurisprudência, consideraram que se está apenas perante “uma situação de inércia na prossecução do fim estatutário, de inactividade. E isso não é causa de extinção”.
Tal como O MIRANTE já noticiou, "os juízes pronunciaram-se também sobre as irregularidades no funcionamento dos órgãos sociais “susceptíveis de gerarem invalidade dos respectivos actos e de a gestão por eles levada a cabo redundar na dissipação ou apropriação ilegítima do património” da Casa do Povo, salientando que essa também é circunstância que não é imputável à instituição, mas aos titulares dos cargos. “A responsabilidade pela ilegalidade desses comportamentos e actos só pode, assim, ser imputada aos seus praticantes”, diz o acórdão.
Na próxima edição falaremos das decisões e da luta em tribunal que só não continua, aparentemente, por falta de verbas e de entendimento entre moradores para voltarem a contratar um advogado que os defenda. Os moradores continuam a dizer que a direcção da Casa do Povo não reúne, vive na clandestinidade, não há informação acessível sobre as suas reuniões ou assembleias gerais e muito menos qualquer possibilidade de qualquer interessado poder entrar para associado. Todos os moradores com quem falamos ao longo dos anos mostram incredulidade com a forma como até agora perderam esta luta. "Muita gente já morreu com o medo de perder a casa atravessado na garganta, outros viveram dramas que ninguém quer para os seus piores inimigos, e outros ainda estão a lutar para não serem despejados ou perderem o direito à sua habitação" confessou um dos moradores que ligou para a redacção do jornal a pedir que O MIRANTE denuncie o caso do advogado que acusam de ser odiado e temido, e que agora quer ir a votos para ser eleito num cargo que lhe dá ainda mais poder para os fins que todos contestam e querem continuar a contestar.
Recorde-se que Leonor Nalha, a anterior presidente da direcção da Casa do Povo da Chamusca, foi condenada em tribunal por ter desviado cerca de 120 mil euros da instituição. Perdeu o lugar mas rapidamente foi substituída por uma pessoa das suas relações, que ainda hoje é a presidente da direcção.

Foto de João Cardador, advogado da Casa do Povo da Chamusca que ilustra a notícia da sua apresentação como candidato

Casas do Bairro 1º de Maio na Chamusca já valem cerca de 100 mil euros

Moradores dizem que é preciso continuar a lutar contra a direcção da Casa do Povo para que a Chamusca não fique conhecida como uma terra de cobardes

Há uma casa em obras no bairro 1º de Maio, na Chamusca, que poderá ser posta à venda por verbas que, dizem, pode chegar aos 100 mil euros. O Bairro das Casas do Povo, como é mais conhecido, volta à ordem do dia depois do advogado da direcção, João Cardador, ter sido apresentado como candidato à Assembleia Municipal pelo movimento liderado por Rui Martinho, actual presidente da junta de freguesia de Chamusca e Pinheiro Grande, que vai concorrer pela primeira vez à presidência da câmara municipal.
O MIRANTE vai continuar a acompanhar este notícia, e a luta dos moradores, que estão a estudar a possibilidade de voltarem a tribunal uma vez que, segundo afirmam: “a actividade da direcção da Casa do Povo continua a ser um segredo bem guardado e é preciso continuar a lutar para que a Chamusca não fique na história como uma terra de cobardes”.

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