População de Arruda dos Pisões e Outeiro da Cortiçada sente-se discriminada por falta de fibra óptica

Três mulheres e o presidente da União de Freguesias de Outeiro da Cortiçada e Arruda dos Pisões, no concelho de Rio Maior, dão a cara pelo problema da falta de fibra óptica neste território.
A União de Freguesias de Outeiro da Cortiçada e Arruda dos Pisões, no concelho de Rio Maior, continua a sua luta por fibra óptica depois de em 2021 ter lançado um abaixo-assinado que reuniu cerca de meio milhar de assinaturas e que foi remetido para a ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicações. Quando há roubo de cabos, a união de freguesias localizada a 20 quilómetros da capital de distrito e a 10 de Rio Maior, chega a estar dias sem comunicações. Lídia Paulino, Tânia Lourenço, Ana Patrícia Abreu e o presidente da junta, Pedro Pereira, deram a cara pela população a O MIRANTE.
Tânia Lourenço deixou de trabalhar por conta de outrem há cerca de seis anos e fundou com o marido uma empresa na área das baterias industriais. Tem quatro funcionários na rua e necessidade de emitir guias de transporte e comunicar constantemente. Além disso, o programa de facturação é online, precisa de consultar preços para orçamentos, os e-mails demoram a entrar na caixa de correio e tem de sair de junto do computador para fazer chamadas. Lídia Paulino mudou-se de Odivelas e comprou casa em 2023 na freguesia. É assistente administrativa em teletrabalho e realizar uploads é para esquecer. Felizmente há compreensão por parte da entidade patronal, mas os dias são mais stressantes e diz mesmo que se sente discriminada por ter visto a fibra óptica chegar a freguesias vizinhas com menos população e tecido empresarial.
Na junta de freguesia, a jovem funcionária Ana Patrícia Abreu não está a conseguir emitir autorizações de queimadas e as chamadas acontecem com cortes. “Muitas pessoas têm comprado aqui casas e vendemos a ideia de que há uma perspectiva de melhoria”, admite o presidente da junta e recandidato Pedro Pereira, que lamenta que, além de estar a ser prejudicado no seu dia-a-dia, está a ser prejudicado politicamente por a população achar que se trata de falta de insistência para com as entidades competentes.
Psicólogo clínico, Pedro Pereira necessita de se deslocar à sua clínica em Rio Maior para dar consultas online e em Arruda dos Pisões tem de sair de casa para fazer chamadas telefónicas. Reforça que existem jovens que estudam em Rio Maior e que necessitam de fazer os seus trabalhos de casa e que a junta de freguesia tem duas turmas a tirar o 9º e o 12º ano que necessitam de acesso à Internet.
Em Dezembro de 2023, o Governo dava conta de um concurso público internacional para a instalação de redes de banda larga nas chamadas zonas brancas - territórios onde não existe cobertura de rede ou esta não revela a qualidade adequada. Um projecto que prevê abranger mais de 400 mil casas, em diversas regiões do interior, resultando na cobertura da totalidade do território continental até 2026/2027. Em causa está um investimento global de 425 milhões de euros, mas até agora a rede não chegou a essas freguesias de Rio Maior.
Problemas por toda a região e até às portas da capital
Os problemas nas redes de telecomunicações são comuns noutros pontos desta região, assim como no país, e acontecem mesmo nas imediações de Lisboa, nomeadamente em Fonte Santa e Santa Eulália, na freguesia de Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira, como O MIRANTE tem noticiado.
Em Virtudes, concelho de Azambuja, os moradores têm de sair à rua para fazer chamadas. Em certas zonas dos concelhos de Mação e de Abrantes (ver outro texto nesta página) as queixas também são frequentes. A pandemia da Covid-19 abriu portas ao teletrabalho, mas o que podia ser uma forma de combater a desertificação do interior é só uma possibilidade para alguns.
O número de pessoas a trabalhar à distância superou a marca de um milhão no ano passado. O concurso para cobertura das zonas brancas arrasta-se desde Novembro de 2023 e não há meio de porem um ponto final neste problema da era digital, que mais parece de terceiro mundo.