Sociedade | 11-05-2025 07:00

Produtores da região defendem mais valorização para o que é nacional

Produtores da região defendem mais valorização para o que é nacional
Manuel Agostinho, Agostinho José e Maria João Mendes lideram a empresa Agri-Mendes fundada em 1989. Nuno Falcão Rodrigues, responsável pela adega Casal da Coelheira, marca de vinhos que cresce no mercado nacional e estrangeiro. Carlos Coelho, director-geral da empresa Diamantino Coelho & Filho, SA. Manuel Francisco, administrador da Francicampo, empresa agrícola sediada em Salvaterra de Magos

A propósito do Dia da Produção Nacional, O MIRANTE conversou com produtores da região das fileira do azeite, vinho, rações e da agricultura. Empresários dizem que os portugueses valorizam o que é produzido por cá mas faltam políticas públicas de incentivo aos produtores e abertura para entrar nas grandes superfícies comerciais.

Para Nuno Falcão Rodrigues, responsável pela adega Casal da Coelheira, no Tramagal, concelho de Abrantes, ser produtor nacional é, acima de tudo, uma questão de respeito pela tradição e de adaptação às exigências de um mercado “mais competitivo e exigente”. No que toca a vinhos, afirma, o consumidor português valoriza e dá preferência ao que é nacional, sendo 30% da produção da adega vendida em Portugal. A restante produção, cerca de 70%, é exportada para mais de 20 países, destacando-se o Brasil, Japão e Reino Unido, Suíça. “A produção nacional enfrenta desafios, mas continua a ser um pilar fundamental da economia e da identidade cultural do país”, destaca.
No que diz respeito aos desafios do mercado, Nuno Rodrigues afirma que a importação de vinho a granel em Portugal é problemática, contribuindo para essa realidade a falta de fiscalização rigorosa à presença de vinhos estrangeiros a preços baixos, o que prejudica os produtores nacionais pequenos, que têm dificuldades em competir com esses preços. O produtor acrescenta ainda que Portugal deve reforçar o controlo sobre a rotulagem dos vinhos para garantir que o consumidor sabe o que está a comprar, evitando a confusão entre vinhos nacionais e importados.

Mercado nacional é o principal destino do azeite da Agri-Mendes
A campanha de azeitona de 2025 na Agri-Mendes já vai ser feita no novo lagar, com capacidade para 500 toneladas por dia de azeitona, que representa um grande passo para a empresa de São Vicente do Paul, Santarém. Liderada pelos irmãos Agostinho José, Manuel Agostinho e Maria João, e fundada em 1989, a empresa trabalha com pequenos e médios vendedores como restaurantes e minimercados, além de ter uma loja online. Vender nas grandes cadeias de supermercados nunca foi objectivo da empresa, que distribui o seu produto um pouco por todo o país mas tem presença mais marcada nos distritos de Santarém e Lisboa.
“Há cada vez mais pessoas a saber reconhecer um bom azeite e a procurá-lo e esse é o nosso mercado”, aponta João Mendes. Para fora vendem sobretudo a granel, mas é um mercado que podia ser mais explorado. “Devia haver mais iniciativa estatal para promover o azeite português lá fora”, considera Manuel Agostinho Mendes, referindo o Instituto da Vinha e do Vinho como um exemplo daquilo que podia ser feito na indústria do azeite, de forma a tornar o azeite português numa referência.

Produtores também dependem da importação de produtos
O MIRANTE esteve na empresa Diamantino Coelho & Filho, SA, localizada na zona industrial de Tomar, onde conversou com o director-geral, Carlos Coelho. A empresa, que se dedica à produção de rações para animais, foi criada em 1989. Com duas fábricas, produz maioritariamente para o sector pecuário nacional e importa matérias-primas, principalmente cereais, da Ucrânia e Estados Unidos da América.
O director-geral considera que o consumidor está sensibilizado para consumir o que é nacional. Explica que a empresa está muito dependente da importação de cereais, apontando como razão o facto de Portugal não ter capacidade de produção em grandes quantidades. “Sempre que há produto nacional, privilegiamos, mas acabamos por ter que ir sempre buscar fora”, assume. Relativamente à exportação de produtos da empresa para outros países, admite que não é fácil. “Só com algum produto diferenciado é que se consegue exportar, mandar rações para França ou para Espanha não faz sentido porque já existe lá”, menciona. A empresa tem, no entanto, a ambição de exportar mais, estando neste momento a estudar a diversificação do produto em forma de mistura, em que foi pioneira, exportando actualmente algum desse produto para Espanha.

A pressão das grandes superfícies aos pequenos produtores
Manuel Francisco, administrador da Francicampo, empresa agrícola sediada em Salvaterra de Magos, defende a necessidade de políticas públicas que incentivem a produção nacional e alerta para a pressão imposta pelas grandes superfícies comerciais sobre os produtores. “Temos um Ministério da Agricultura que não funciona e é um descalabro. Faltam políticas públicas para que Portugal seja menos dependente da importação”, afirma o responsável da empresa que se dedica há várias décadas à produção de batata e que é também poeta popular.
Fundada no início dos anos 90, a Francicampo nasceu com o objectivo de exportar batata, tendo fornecido exclusivamente o mercado francês até 2002. Actualmente, cerca de um terço da produção ainda é exportada, mas o foco passou para o mercado nacional, com uma aposta contínua na batata fresca. Além da batata, produz, de forma ocasional, chicória e alho francês. O modelo de produção assenta numa ligação directa ao cliente final e, no caso da batata, com fornecimento de semente, escolha de variedades e calibres, acompanhamento técnico e venda.
Para Manuel Francisco, o consumidor português já perdeu a mania de achar que o que vem de fora é que bom. Admite que olha essencialmente ao aspecto do produto e ao preço, no entanto, tem vindo a ganhar consciência sobre a origem e o uso dos produtos, nomeadamente no caso da batata. “Já vamos tendo casos de pessoas que são exigentes com o paladar e, por isso, cada vez mais há diferenciação no produto final: se é para puré, se é para cozer ou assar”, explica, lamentando que persistam desequilíbrios na cadeia de distribuição.
O produtor ribatejano, que no passado abasteceu supermercados com chicória e alho francês, deixou de trabalhar com grandes superfícies devido à forma como são impostas as promoções. Vendem o produto a metade do preço, mas essa metade do preço sai do bolso dos produtores, critica o produtor de Salvaterra de Magos, zona que continua a ser, diz, o principal pólo de produção de batata do Ribatejo.

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