Mais um golpe nos serviços de saúde em Coruche
A decisão de encerramento do Serviço de Atendimento Complementar de Coruche durante os dias úteis reacendeu o debate em torno da saúde no concelho. Todos os partidos políticos com eleitos no município exigem a reposição urgente do antigo Serviço de Atendimento Permanente a funcionar 24 horas por dia.
A polémica em torno da prestação de cuidados de saúde no concelho de Coruche ganhou um novo episódio com a contestação da câmara municipal à decisão da Unidade Local de Saúde (ULS) Lezíria de limitar o funcionamento do Serviço de Atendimento Complementar (SAC) aos fins-de-semana e feriados, entre as 09h00 e as 19h00. A medida, tomada “sem auscultação prévia”, segundo a autarquia, é vista como mais um golpe na já fragilizada rede de saúde em Coruche.
Em moção aprovada por unanimidade na reunião do executivo de 7 de Maio, a autarquia liderada por Francisco Oliveira classificou o encerramento do SAC durante a semana como inadmissível e reiterou a exigência da reposição do Serviço de Atendimento Permanente (SAP), encerrado em 2020. A Câmara de Coruche lembra que o concelho, com mais de 1.115 quilómetros quadrados, tem zonas distantes mais de 70 quilómetros do hospital de referência, em Santarém, o que torna imprescindíveis os serviços de proximidade, sobretudo para uma população envelhecida e isolada.
A autarquia liderada por Francisco Oliveira (PS) exige ainda esclarecimentos ao Governo, o reforço urgente de médicos de família, referindo existirem 6.844 utentes sem médico atribuído na Unidade de Saúde Familiar (USF) do Vale do Sorraia, incentivos à fixação de clínicos em zonas carenciadas e a criação de um Serviço de Urgência Básica no concelho, conforme já esteve previsto.
Também a CDU e o PSD de Coruche se manifestaram sobre o tema, declarando solidariedade com a população e exigindo o regresso do SAP a funcionar 24 horas por dia. Os sociais-democratas traçam uma cronologia dos encerramentos progressivos que, dizem, têm vindo a esvaziar o Centro de Saúde de Coruche. A CDU quer a colocação de mais médicos de família no concelho e dá conta que muitos utentes têm de se deslocar ao Hospital de Santarém, em situações que antes eram resolvidas localmente.
ULS promete medidas para mitigar problema
Em resposta às críticas, a ULS da Lezíria assegurou estar “empenhada na resposta aos desafios da saúde em Coruche” e rejeitou que a situação actual resulte de uma decisão recente ou isolada. Segundo a administração, em resposta a questões colocadas por O MIRANTE, trata-se de um problema estrutural agravado pela generalização do modelo USF-B, promovido pelo anterior Governo, que eliminou a vantagem competitiva que Coruche detinha na captação de profissionais.
“O modelo organizativo em vigor desde Janeiro de 2024 esbateu a diferenciação de Coruche face a outros concelhos. Se agora todas as unidades oferecem incentivos semelhantes, a atractividade perdeu-se”, lamenta a ULS, que garante estar a aplicar medidas para mitigar o impacto da reorganização.
Entre as medidas já em curso, a ULS destaca a presença de um médico adicional aos fins-de-semana e feriados entre as 09h00 e as 14h00, o reforço da capacidade da USF durante a semana para situações de doença aguda e o recurso à telemedicina para utentes sem médico de família. A entidade sublinha que o SAC foi mantido precisamente para garantir a permanência de médicos em Coruche, mesmo perante limitações em recursos humanos.