Sociedade | 19-05-2025 12:00

Associação islâmica quer sede nacional em Samora Correia e apela à tolerância

Associação islâmica quer sede nacional em Samora Correia e apela à tolerância
Fazal Ahmad, presidente da Associação Ahmadia do Islão em Portugal. fotoDR

A Associação Ahmadia espera viver na cidade ribatejana com amor, paz e respeito. Depois da compra do terreno na Avenida O Século, associação pretende ali instalar a nova sede nacional, que deve contemplar uma mesquita.

A Associação Ahmadia do Islão em Portugal, estabelecida no país desde 1987, pretende erguer a sua nova sede nacional no terreno que adquiriu em Samora Correia, no concelho de Benavente. A decisão, segundo o presidente da associação, Fazal Ahmad, resulta da necessidade de um espaço mais adequado para as actividades religiosas e culturais da comunidade, que cresceu nos últimos anos.
Actualmente sediada num edifício arrendado na Pontinha, concelho de Odivelas, a associação considera o espaço insuficiente. “Procurávamos um terreno adequado onde se pudesse construir a sede nacional, que fosse suficiente para as suas funções, tendo em conta não só as necessidades da Ahmadia, mas também da comunidade local”, explica Fazal Ahmad. O projecto prevê a construção de um complexo que, sendo sede nacional, incluirá sempre uma mesquita, escritórios, biblioteca, sala de reuniões, alojamento para visitantes, cozinha, sala desportiva e a residência do imã que gere o espaço, mas sem qualquer escola religiosa.
Samora Correia foi escolhida, entre vários concelhos, por já acolher várias famílias da comunidade Ahmadia, por estar próxima da capital e, sobretudo, pela natureza pacífica e acolhedora das suas gentes, salientou o responsável.
Apesar de o terreno não estar no centro da cidade não está igualmente distante, por exemplo, da Junta de Freguesia de Samora Correia, localizada a 850 metros. Fazal Ahmad rejeita preocupações quanto à proximidade da mesquita com a população. “Se igrejas, templos e sinagogas podem ser construídos junto das pessoas, então a construção de uma mesquita não deve ser motivo de preocupação para os residentes”, sublinha.
Antes da compra do terreno - que se encontrava à venda há bastante tempo - a associação islâmica garante ter estabelecidos contactos formais com a Câmara Municipal de Benavente. Realizaram-se reuniões com os responsáveis, nas quais a Ahmadia apresentou o seu trabalho social, educativo e de saúde desenvolvido noutros países, e respondeu a todas as questões levantadas. “Continuaremos a dialogar com a câmara e com outras instituições no futuro”, garante o presidente.

Projecto a apresentar depois das autárquicas
Em respeito pelo contexto político, a associação decidiu apresentar, só depois das eleições autárquicas, o projecto detalhado ao executivo municipal que sairá do sufrágio do próximo Outono, “evitando que nenhum partido político criticasse o outro ou usasse isto como um slogan político”.
Segundo Fazal Ahmad, não houve da parte das autoridades qualquer indicação de que o terreno estivesse reservado para outros fins, como um parque urbano, uma creche ou um lar de idosos. “A compra foi feita cumprindo todos os requisitos legais”, afirma, acrescentando que a obra respeitará integralmente os regulamentos em vigor.
Para o líder da comunidade, o projecto trará benefícios a Samora Correia. “Vai embelezar a cidade, atrair mais turistas e contribuir para o desenvolvimento económico”, acredita. Fazal Ahmad apela à serenidade: “viveremos nesta cidade com amor, paz e respeito e serviremos também o povo desta cidade”.
Reconhecendo que há cidadãos com dúvidas manifestadas sobretudo nas redes sociais, atribui essas reacções à falta de conhecimento e de informação sobre a Associação Ahmadia. A concluir, deixa um apelo aos líderes políticos, religiosos e sociais para que promovam a tranquilidade e não utilizem o tema para fins eleitorais. “O ódio gera ódio, não amor. Um verdadeiro político é aquele que pensa no futuro e trabalha pelo bem comum. Onde reina o rancor, não há progresso”, remata.

Terreno custou 300 mil euros

A escritura da venda do terreno em Samora Correia revela que o espaço, com 33 metros quadrados de área coberta e 4.376 metros quadrados de área descoberta, foi adquirido por 300 mil euros pela associação Ahmadia do Islão em Portugal.
O negócio foi concretizado, primeiramente, com o pagamento de 15 mil euros a título de sinal no dia 2 de Maio de 2024, enquanto os restantes 280 mil euros foram concretizados a 31 de Janeiro de 2025. A associação efectuou a compra a um particular com mediação imobiliária. Até ao momento não deu entrada nos serviços da Câmara de Benavente qualquer projecto relativo ao complexo religioso ou sequer um pedido de licenciamento.

Ahmadis defendem educação, paz e solidariedade

A Comunidade Ahmadia, fundada na Índia em 1889 por Mirza Ghulam Ahmad, acredita ser a continuação reformadora do Islão profetizada pelo Profeta Maomé. Com presença em mais de 200 países e marcada por uma história de perseguição, a comunidade afirma-se como promotora da paz, da educação e da solidariedade humana.
A origem da Comunidade Ahmadia remonta a finais do século XIX, quando, a 23 de Março de 1889, o indiano Mirza Ghulam Ahmad fundou o movimento religioso em Qadiã, alegando ser o Messias e Mahdi prometido pelo Profeta Maomé. Segundo a tradição islâmica, Maomé terá profetizado o aparecimento de um reformador nos últimos dias, destinado a reconduzir os muçulmanos aos ensinamentos originais do Islão, tal como Jesus foi enviado para reformar o povo de Moisés.
A educação ocupa um lugar central na vida dos Ahmadis. O Islão, defendem, ordena que o saber seja constante desde a infância até à velhice, tanto por homens como por mulheres. Entre os exemplos mais célebres está o físico teórico Dr. Abdus Salam, prémio Nobel da Física em 1979, o primeiro cidadão paquistanês e muçulmano a receber o galardão, e o jurista Sir Muhammad Zafarullah Khan, que presidiu à Assembleia Geral das Nações Unidas e ao Tribunal Internacional de Justiça. Ambos pertenciam à Comunidade Ahmadia.

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