Associação de caçadores de Benavente luta pelo futuro da actividade no concelho

Associação de Caçadores Tiro e Queda Benavense tem projecção nacional e tira proveito das condições naturais do Ribatejo para promover diversas actividades cinegéticas. Caçadores admitem que burocracias e perda da tradição afastam jovens da caça e podem colocar futuro da actividade em causa.
A Associação de Caçadores Tiro e Queda Benavense tem vindo a afirmar-se como uma das principais referências cinegéticas não só no concelho de Benavente, mas também no panorama nacional. Com cerca de 250 sócios activos, é através das quotas destes membros que a associação se sustenta, mantendo em funcionamento uma estrutura que ultrapassa a simples prática da caça. A associação nasceu em 2008 por meio de vários caçadores do concelho que começaram a organizar as primeiras saídas e convívios. Alfredo Oliveira, um dos fundadores do movimento, que leva uma vida profissionalizada no ramo da caça, admite que os seus conhecimentos no sector ajudaram a que a colectividade acabasse por atingir um sucesso para lá de Benavente, atraindo caçadores de diversas regiões do país.
Todas as quintas-feiras, domingos e feriados, o grupo sai para o campo, respeitando a época legal de caça, promovendo sempre convívios. O calendário é cumprido religiosamente por caçadores de várias zonas do país, que se deslocam até Benavente para participar nas actividades da associação. “Acaba por ser uma mais-valia para o nosso concelho”, admite Alfredo Oliveira. A Tiro e Queda dispõe de um campo de treino intensivo onde os caçadores treinam diariamente e de seis reservas de caça próprias, distribuídas entre Benavente e Salvaterra de Magos. Nesses espaços, a associação garante não só a preservação das espécies, como o controlo rigoroso da fauna, com particular incidência nas aves, o principal foco da actividade. “Os terrenos e a agricultura do Ribatejo acabam por atrair várias espécies, o que valoriza a nossa actividade”, admite Nuno Policarpo, presidente da mesa da Assembleia-Geral da colectividade. A Tiro e Queda tem também procurado estreitar laços com os agricultores locais. A associação subsidia sementes e reconhece que a agricultura deve estar em primeiro lugar. Essa cooperação traduz-se em práticas que beneficiam ambos os lados, já que os campos cultivados ajudam a alimentar e atrair as espécies cinegéticas. “Os proprietários das reservas onde caçamos não nos cobram nada pela utilização dos espaços. Nós retribuímos guardando os terrenos, controlando a caça e muitas vezes cobrindo o custo das sementes, que acabam por alimentar a caça”.
Apesar da actividade intensa, a associação não ignora os desafios do sector. Consideram que o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas), entidade que regula a caça em Portugal, está demasiado distante da realidade e defendem que a gestão devia estar mais entregue às associações locais. Acrescentam ainda que as taxas exigidas são demasiado elevadas, o que coloca em risco a sustentabilidade de muitas associações.
Burocracias afastam jovens
Além da vertente desportiva, a associação tem procurado reforçar o seu papel pedagógico e comunitário. Um dos projectos em cima da mesa é o acolhimento de visitas escolares aos terrenos agrícolas, numa tentativa de aproximar os mais jovens da realidade rural e cinegética. Os caçadores reconhecem que as diversas burocracias e o difícil acesso à licença de uso e porte de arma têm afastado os mais novos da prática da caça. “A tradição tem-se perdido. Antigamente era mais comum um pai passar a um filho a paixão pela caça e fazê-lo entender o seu propósito”, admite Alfredo Oliveira.
Mesmo com rivalidades reconhecidas entre as associações de caça do concelho, a Associação Tiro e Queda Benavense mantém uma postura de cooperação, emprestando materiais e instalações a outras entidades locais de diferentes âmbitos. Internamente, a associação mantém um controlo rigoroso dos novos sócios e assegura que a sua missão vai além do tiro, pretendendo ser um pilar da vida rural em Benavente e que atrai cada vez mais pessoas ao concelho. Sobre o futuro da caça, os dirigentes afirmam convictos que “nunca irá morrer”, mas que são necessárias medidas que facilitem a actividade e reconheçam justamente o seu papel na natureza.