Sociedade | 20-05-2025 07:00

Vinte anos depois proprietários não desistem de construir em urbanização do Forte da Casa

Vinte anos depois proprietários não desistem de construir em urbanização do Forte da Casa
Proprietários dos lotes da 3ª e 4ª fase do Forte da Casa mantêm intenção de construir habitação

Apesar de terem passado duas décadas desde a compra dos terrenos, os proprietários da terceira e quarta fase de uma urbanização no Forte da Casa continuam a lutar pelo direito de construir.

A urbanização prometida nunca avançou devido a erros técnicos e legais, mas o sonho de ver as moradias concretizadas permanece vivo. Os proprietários não desistem e esperam que a situação seja resolvida.

Os proprietários de lotes na terceira e quarta fase de uma urbanização no Forte da Casa sentem-se abandonados mas não esquecem os projectos que têm desde que adquiriram os terrenos, há mais de duas décadas. As histórias têm um denominador comum: a compra de terrenos para construir moradias ou prédios para habitação e/ou comercialização — algo que nunca se chegou a concretizar. Em 2008, recorde-se, o município decidiu por unanimidade declarar a nulidade do alvará de loteamento da terceira e quarta fases do Forte da Casa, que emitira em 2002, inviabilizando assim a possibilidade de construção.
Depois de O MIRANTE ter dado a conhecer o caso de Humberto Ramos, dono do lote 145, falámos com mais proprietários que ainda não perderam a esperança de construir no local onde compraram terrenos. Há duas décadas, José Pinheiro e António Lemos, construtores, adquiriram o lote 100 e assinaram um contrato de compra e venda referente a um prédio com 14 inquilinos e 16 garagens. Nunca foi assinada a escritura e José Pinheiro conta que, oficialmente, nunca soube o que se passou.
Ivo Abreu, representante de António Lemos, não percebe como não é possível construir, tendo em conta a crise de falta de habitação que se vive — ainda para mais numa urbanização que tem uma parte pavimentada, com caixa de esgoto e ramais. “Ninguém se atravessa para tentar resolver o problema, que está a ser varrido para debaixo do tapete. São pessoas que depositaram as poupanças de uma vida e ninguém quer saber. Sentem-se abandonadas. Há aqui outros interesses. Estes terrenos estão parados, mas a autarquia continua com um problema entre mãos”, vinca ao jornal.
A morar num apartamento no Forte da Casa, Anabela Carvalho comprou os lotes 146 e 147, à época com o ex-marido. Tem escritura assinada e planta de urbanização, e por isso nunca desconfiou de qualquer tipo de ilegalidade. Dirigiu-se várias vezes à Câmara de Vila Franca de Xira, mas as respostas foram sempre vagas. O ex-marido, Paulo Martins, também proprietário, conta que chegou a pagar o Imposto Municipal sobre Imóveis, mas os valores foram devolvidos pela câmara quando a autarquia perdeu um processo em tribunal.
Já o lote 148 foi comprado por José Campelo, construtor, com a intenção de o comercializar. “Não sei o que se passou. Só me apercebi que o terreno era urbano e passou a rústico em 2006 ou 2007, e desvalorizou. Continuo com intenção de construir e vender”, explica.

Alvará nulo e erros graves no projecto
Apesar dos 22 anos que já passaram, os proprietários não querem desfazer-se dos lotes e continuam com intenção de construir. Já passou um mês desde que O MIRANTE questionou a Câmara de Vila Franca de Xira sobre o ponto de situação da urbanização, mas até ao fecho desta edição continuávamos sem resposta.
O loteamento previa 158 lotes com 1.800 fogos mas a Câmara de Vila Franca de Xira não detectou, por alegados erros de leitura de cartas com escalas reduzidas, várias condicionantes e deu luz verde ao projecto no final de 2001, aprovando o loteamento em 2002. A urbanização nunca pôde avançar porque a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo detectou erros graves na apreciação camarária do projecto, recusando-se a fazer o registo legal do alvará por este não respeitar várias condicionantes como a Reserva Ecológica Nacional e uma servidão aeronáutica.
O principal promotor da urbanização era José Maria Duarte Júnior (já falecido), que quando soube da decisão da CCDR, em 2003, já tinha avançado com vários trabalhos de arruamentos e infraestruturas. Ao mesmo tempo dezenas de construtores e particulares empataram dinheiro em lotes onde, até hoje, não podem construir. À data alguns lotes custaram à volta de 100 mil euros. O processo continua a arrastar-se e já atravessou vários executivos camarários.

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