Sociedade | 31-05-2025 15:00

Campeões a fazer filhos contra a baixa natalidade

Em 2024 nasceram em Portugal 84.650 bebés, menos 1,2% que no ano anterior, e os números não são piores por causa da imigração, já que um terço são filhos de mães com naturalidade estrangeira, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística.

A taxa de natalidade em 2023 era de 1,44 filhos por mulher. Segundo a Pordata, em 2023 houve 8,1 nascimentos por mil habitantes, sendo que o país ocupa o 17º lugar nos 27 países da União Europeia. A propósito do Dia da Família, que se assinalou a 15 de Maio, fomos conhecer dois casais que contrariam as tendências da sociedade. Isabel e Tomás estão à espera do nono filho e vivem no concelho de Santarém; Leonel e Maria são do concelho de Almeirim e têm cinco filhos. Nos dois territórios a taxa de natalidade foi próxima da nacional com 7,9 nascimentos.

Isabel e Tomás estão à espera do nono filho

Isabel e Tomás conheceram-se a caminho da beatificação de João Paulo II e já vão para o nono filho

Isabel e Tomás, ambos de apelido Castro Pernas, de 38 anos, são casados há 12 e têm o nono filho a caminho, que poderá não ser o último, uma vez que não definiram um limite. Ele de Caxias, ela de Oeiras, mudaram-se para Azoia de Cima, concelho de Santarém, há três anos e meio. Viviam numa casa alugada e em Lisboa era difícil arranjar uma habitação com a dimensão de que precisam ao preço que podem pagar.
Roque é o mais novo com um ano e Joaquim o mais velho com 11, num total de cinco rapazes e três meninas – Joaquim, Sancha, Estêvão, Francisco, Tomás, Pureza, Mafalda, Roque – sendo que o próximo filho, que se sabe ser um rapaz, ainda não tem nome. “Eu quero ter mais”, diz um dos filhos que assiste à conversa, empoleirado no sofá. Isabel revela que embora já tenha ouvido que é injusto para os outros a vinda de mais um filho, devido à atenção e partilha poderem não ser as mesmas, as crianças ficaram eufóricas quando souberam. E apesar de não haver um tempo estipulado para brincar, a atenção é dada no meio da rotina e às vezes brincam todos juntos às famílias e profissões.
Formada em Turismo, Isabel só deixou de trabalhar na área da renegociação de dívidas de crédito após ter o quinto filho. O marido é comercial na Olá e responsável pela zona da Grande Lisboa, não podendo estar presente no dia da entrevista. “Há mães abusadoras que dizem que o filho está doente, metem logo baixa quando estão à espera de bebé e paga o justo pelo pecador. É um rótulo com que ficamos”, defende.
Foi numa viagem de caravana para a beatificação do Papa João Paulo II que conheceu o marido, amigo de um primo seu. O companheiro é o quinto de 12 irmãos e da parte do pai de Isabel são 13. “Não é uma realidade nova. Somos católicos e temos a ideia de não pôr entraves aos planos de Deus”, afirma enquanto vai chamando à atenção de Sancha, que faz ginástica na sala. Não dá mama porque sabe que influencia a sua disposição e refere que em Santarém encontrou profissionais de saúde mais empáticos que respeitaram a sua decisão, assim como as suas dores, não desvalorizadas pelo facto de já ter tido filhos.
Isabel admite que tem de ser tudo ponderado na hora de gastar dinheiro, com os únicos apoios a serem os abonos de família. Há melhorias na casa que gostariam de fazer, nomeadamente no sótão para distribuir mais as crianças, bem como uma viagem a Madrid. Antes de ser mãe, já era uma mulher simples e a única coisa que estranhou com a vinda para Santarém, onde só vive uma tia do marido, foram as noites de sexta-feira passarem a ser iguais às outras, isto porque se querem ir jantar fora têm de incluir o valor de uma babysitter.
O tempo a dois fica para depois das 21h00, quando as crianças, que acordam às 07h30, já dormem. Veste os três mais novos de manhã e os outros vestem-se sozinhos. Em 40 minutos estão despachados. O marido leva dois para a escola em Santarém, dois vão à boleia de conhecidos e Isabel leva os restantes quatro para o lado oposto. Quando estão na escola, aproveita para ir às compras e em casa todos comem o mesmo. Nas férias têm um mapa de tarefas e durante o ano quem estiver disponível ajuda a pôr a mesa, tirar a loiça da máquina e estão a aprender a fazer a cama.
A maioria dos rapazes é atleta do Rugby Clube de Santarém e Sancha anda na acrodance da Phil’s Place Santarém. Vivem sem telemóveis e a consola só é ligada ao fim-de-semana “para protegê-los de tudo aquilo a que um telemóvel dá acesso”. No Verão, as crianças brincam na piscina de um casal septuagenário a quem fazem companhia, além de terem um enorme espaço exterior em casa. Isabel procura transmitir valores como a fé e a partilha, preocupando-a algumas ideologias que possam desviá-los. “Ao contrário do que a sociedade nos vende, não temos de procurar prazeres imediatos”, termina.

Leonel e Maria partilham a vida há quatro décadas e são pais de cinco filhos

Leonel casou aos 16 anos já Maria estava grávida do primeiro de cinco filhos

Leonel Conceição e Maria Helena Cardoso enamoraram-se da convivência de vizinhança no lugar da Tapada, Almeirim, e da relação de amor de quatro décadas nasceram cinco filhos, quatro deles gerados em nove anos. O único rapaz tem 36 anos e a filha mais nova tem uma diferença de 23 anos em relação à mais velha. O casal, que não esperou pela idade adulta para contribuir para a natalidade, considera que criou uma família feliz e que a quantidade de filhos nunca foi nem é um problema, mas um desafio.
Naquele tempo quem engravidava a namorada tinha que casar com ela e Leonel, 56 anos, um ano mais novo que a mulher, não tinha sequer idade para isso e teve de esperar fazer os 16 anos para poder casar, mediante autorização dos pais. Ele já trabalhava desde os 12 anos e ela andava a tirar um curso de bordados. A primeira casa que tiveram foi em casa dos pais dela.
A ele chamam-lhe o pai Néu, nome que deu ao restaurante que explora na Tapada, porque para além dos filhos, é uma espécie de pai para os filhos de outros, levantando-se de noite para fazer comida quando regressavam das discotecas e a precisar de aconchegar a barriga. Leonel, que trabalhou como cortador de carnes no mercado de Santarém, adaptou-se à vida e hoje é cozinheiro, cria galinhas, galos, coelhos, cabras, ovelhas e novilhos que mata e desmancha para comer e dar aos filhos.
Depois do estágio em casa dos pais de Maria Helena, arrendaram uma casa na Tapada e nunca mais saíram do pequeno lugar perto do Tejo, com cerca de 261 eleitores. Ela trabalhou no campo e não se queixa da dureza do trabalho, tal como não se queixa de trabalhar no restaurante. A trabalhar e com filhos, eram os avós que iam buscar os filhos à escola. Criaram-se todos da mesma forma e todos interagem numa base da amizade. A filha mais nova, Mariana, apareceu na fase da menopausa.
Maria Helena recorda que aquando do nascimento da primeira filha, Liliana, 40 anos, emigrada em França, era a atracção do Hospital de Santarém. Vários médicos foram vê-la porque eram muito novos ofereceram-lhes chocolates. O parto da mais nova foi o mais difícil, porque a bebé estava atravessada. A mãe ainda está a ver o médico a dizer que já tinha tido quatro filhos e que não era uma “pirralha”, que ia obrigar a fazer uma cesariana. E não foi mesmo necessário. O filho, João Pedro, e a mais nova, moram na Tapada. Ana Margarida, 37 anos, mãe de três filhos, impulsiva e bem-disposta, mora do outro lado do rio, na Ribeira de Santarém, mas todos os dias da semana atravessa a ponte D. Luís para servir à mesa no Pai Néu.
Além dos três netos de Ana Margarida, a mais velha deu-lhes quatro, João Pedro um e Joana, de 31 anos, deu-lhes mais um neto. Leonel Conceição e Maria Helena Cardoso consideram-se um casal lutador e quando lhes perguntam que tipo de família são, respondem: “uma família feliz”.

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