Sociedade | 08-06-2025 12:00

Fumar continua a ser a principal causa de morte evitável

Fumar continua a ser a principal causa de morte evitável
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
A médica Carolina Almeida e os utentes Maria Lopes e Pedro Fontinha, mãe e filho que recorreram à consulta de cessação tabágica - foto O MIRANTE

Cerca de um em cada cinco adultos portugueses fuma, observando-se actualmente um ligeiro aumento entre os jovens devido aos novos produtos de tabaco, como vapes e cigarros electrónicos.

Os malefícios do tabaco são diversos, como cancros, enfartes, AVC, infertilidade e até complicações na gravidez. Por ocasião do Dia Mundial Sem Tabaco, O MIRANTE conversou com Carolina Almeida, a única médica que dá consultas de cessação tabágica no Centro Hospitalar do Médio Tejo.

O tabaco mata mais de oito milhões de pessoas por ano. Em Portugal, cerca de um em cada cinco adultos fuma, existindo uma prevalência maior entre os homens. O tabaco é composto por 7.000 substâncias químicas, sendo que 70 são cancerígenas. Os malefícios associados ao consumo de tabaco são diversos, como cancro, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), enfartes e AVC, infertilidade e impotência, complicações na gravidez e envelhecimento precoce. Por ocasião do Dia Mundial Sem Tabaco, O MIRANTE esteve no Hospital Rainha Santa Isabel, em Torres Novas, e conversou com Carolina Almeida, a única médica que dá consultas de Cessação Tabágica no Centro Hospitalar do Médio Tejo.
Em conversa com O MIRANTE, Carolina Almeida, 44 anos, médica há 20 anos, especialista em medicina geral e familiar, com formação em cessação tabágica, menciona que actualmente tem-se assistido a um ligeiro aumento no consumo de tabaco entre os jovens, sobretudo devido aos novos produtos, como cigarros electrónicos e vapes. “Os vapes estão a criar uma nova geração de dependentes da nicotina, é uma armadilha camuflada, com sabor a morango, a chocolate, a mentol, e de facto é um perigo, porque são vendidos como sendo menos prejudiciais, mas contêm nicotina e outras substâncias igualmente tóxicas, é um fenómeno que está a crescer entre os adolescentes e que nos preocupa muito”, sublinha.
Carolina Almeida refere que, para além disso, tem sido feito um marketing muito agressivo a esses produtos, através das redes sociais e dos influenciadores. “Os vapes trazem muitos perigos para os jovens, desde logo a dependência da nicotina e todos os malefícios associados ao tabaco”, reforça a médica, que dá consultas de cessação tabágica no Hospital de Torres Novas todas as terças-feiras. Sobre os doentes que recebe, explica que há pessoas que vão porque estiveram internadas ou apanharam algum susto de saúde, percebendo que era hora de deixar de fumar, e outras que vão por iniciativa própria.
“Por mês são cerca de 25 a 30 novas pessoas que entram nestas consultas, no total acompanho cerca de 60 pessoas. Ultimamente quem nos tem procurado mais têm sido adultos jovens”, indica a médica. As consultas são realizadas com periodicidade mensal, havendo ainda reforço para evitar recaídas, sendo que o ideal é que uma pessoa seja acompanhada durante um ano. Carolina Almeida explica que inicialmente é avaliada a motivação da pessoa e o grau de dependência de tabaco através da aplicação de testes em forma de inquéritos, sendo depois estabelecido um plano terapêutico para cada doente.
“A chave para a cessação tabágica é a motivação. Se as pessoas chegam com um estado de motivação que não é o ideal, dificilmente conseguirão. Sozinhas, então, é muito difícil”, realça. Relativamente à taxa de sucesso da cessação tabágica, apenas 3 a 5% das pessoas conseguem deixar de fumar sozinhas, enquanto que com ajuda médica a percentagem aumenta para 25 a 30% ao fim de um ano. “Felizmente aqui na minha consulta temos tido muitos casos de sucesso”, diz Carolina Almeida.
Para ajudar no processo, são muitas vezes utilizadas terapêuticas farmacológicas. “Já temos dois fármacos comercializados para a cessação tabágica, o que ajuda também imenso a que as pessoas tenham mais esse empurrão”, afirma. Relativamente aos benefícios de parar de fumar, começam logo nos primeiros 20 minutos. Após um ano, o risco de enfarte reduz para metade e após 10 anos o risco de cancro do pulmão também. “Fumar continua a ser a principal causa de morte evitável”, vinca a médica. A acessibilidade às consultas é muito simples, não sendo necessário o médico de família fazer referenciação, bastando apenas a pessoa ir por sua iniciativa.

Mãe e filho lutam para deixar de fumar

O MIRANTE aproveitou a visita ao consultório da doutora Carolina Almeida para conversar com dois utentes. Maria Lopes, 61 anos, e Pedro Fontinha, 24 anos, são mãe e filho e estão, juntos, a lutar para deixar de fumar. Maria Lopes, reformada, começou a frequentar as consultas em Fevereiro deste ano. “Comecei a vir às consultas porque estive internada aqui, tive uma pneumonia daquelas já muito fortes”, conta. Actualmente já não fuma e as melhorias, diz, são evidentes. “Sinto tantas diferenças! Não me canso, como muito melhor, o comer sabe muito melhor, não tem nada a ver… Aconselho toda a gente a deixar de fumar”, realça sorridente.
Maria Lopes convenceu o filho a frequentar também as consultas. Pedro Fontinha, desempregado, foi à consulta de Carolina Almeida pela segunda vez. Fumava desde os 15 anos, cerca de 15 a 20 cigarros por dia. “Comecei a vir às consultas por causa de saúde e do dinheiro também. Tudo ajuda. O tabaco é uma grande despesa, é uma renda, basicamente”, refere. Ainda não deixou de fumar por completo, mas já fuma menos, e o objectivo é parar totalmente. “Já noto diferença, ao acordar não tenho aquela tosse seca e não me sinto tão cansado”, conclui.

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