Sociedade | 09-06-2025 10:00

Problemas no Hospital Vila Franca de Xira continuam graves e causam indignação

Problemas no Hospital Vila Franca de Xira continuam graves e causam indignação
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
Na última semana houve doentes a esperar toda a noite nas urgências do Hospital Vila Franca de Xira para conseguirem ser atendidos - foto arquivo O MIRANTE

Queixas de quem precisa de ir ao Hospital Vila Franca de Xira continuam a fazer-se ouvir. Na última semana uma doente no leito de morte foi impedida de se despedir dos familiares. Várias famílias foram impedidas de ver os doentes no serviço de observação e uma moradora do Forte da Casa passou mais de 10 horas nas urgências à espera com dores, depois de referenciada pela linha SNS24.

Foi mais uma semana de queixas e revolta no Hospital Vila Franca de Xira, com vários utentes a acusar a unidade hospitalar liderada por Carlos Andrade Costa de ter proibido visitas aos doentes internados no Serviço de Observação (SO) e de o hospital não assegurar um atendimento rápido a quem estava nas urgências.
O primeiro caso envolveu uma mulher de 75 anos com cancro terminal que morreu no hospital sem que os familiares a pudessem ver para se despedir dela, depois da unidade de saúde ter proibido visitas num momento em que, diz, estava com elevado fluxo de doentes. Num momento em que a doente apenas precisava de amor e conforto, nas suas últimas horas de vida, só recebeu abandono, queixou-se o filho, Pedro Frade. Apesar de os familiares terem insistido com os seguranças e os responsáveis no local para poderem ver a doente uma última vez – um dos familiares veio propositadamente de Londres – foram barrados e proibidos de entrar. Relatou Pedro Frade que durante 13 dias de internamento só conseguiu ver a mãe três vezes e que nesse tempo nunca o hospital deu qualquer informação clínica aos familiares, por indisponibilidade do médico de serviço. “A administração agiu mal, só pensou no serviço e esqueceu a parte humana”, criticou o familiar aos jornalistas.
A doente estava internada no Serviço de Observação (SO) das urgências, que funciona numa antiga garagem do edifício por falta de espaço. Nesse mesmo SO esteve outro utente, de Santo Estêvão, Benavente, com os familiares a darem conta a O MIRANTE do seu desespero por não conseguirem ter notícias do homem, de 76 anos, que estava internado há oito dias. Criticam a administração da unidade de saúde por terem sido impedidos em vários dias de visitar o familiar. “Fechavam a porta do SO durante vários dias e só ultimamente abriam meia hora rápida ao fim do dia para uma pessoa o poder ver. Mas nem sempre”, lamenta uma familiar a O MIRANTE. O nosso jornal tentou entrar no SO juntamente com os familiares de um outro doente que ali estava internado e comprovou que as visitas estavam a ser barradas.

Esperou horas para ser atendido
No dia 27 de Maio, Manuel Martins, residente no Forte da Casa, sentiu na pele o caos que se vive nas urgências do hospital. A esposa, de 69 anos, sofreu um inchaço numa perna e após contacto com a linha SNS24 foi-lhe indicado que fosse às urgências. O casal chegou à unidade às 19h30. Por volta da uma da manhã a mulher ainda não tinha sido atendida e o casal decidiu desistir e voltar para casa, cansado, revoltado e incrédulo. “Vi as coisas muito complicadas, caos completo, diziam-nos que o sistema estava em baixo e não conseguimos esperar mais e fomos para casa”, relata Manuel Martins a O MIRANTE. No dia seguinte, às 09h00, foi novamente às urgências com a esposa e só foi atendido ao meio dia. “O médico medicou-a, passou um exame mas disse-nos que tínhamos de ir a outro hospital porque em VFX não o faziam às quartas-feiras”, critica.
Manuel Martins recorda um cenário em que muita gente exigiu falar com a administração da unidade, indignada com o que se estava a passar. “Quando voltámos na quarta de manhã ainda lá estavam pessoas que passaram a noite inteira à espera. Vi gente desesperada que se exaltou ainda mais quando o hospital, em vez de chamar mais médicos para dar resposta, decidiu chamar mais polícias para acalmar as pessoas”, critica. Para o cidadão, a situação tem de ser denunciada para que alguém possa agir e mudar o estado de coisas. “Quem sofre com estas coisas são os utentes. Mas alguém é culpado disto. Quando o hospital era parceria público-privada sempre fomos bem atendidos. Fiquei chocado com o que vi. Nunca vi o hospital neste estado. Não é normal e não nos podemos calar”, critica.
Questionado por O MIRANTE a ULS Estuário do Tejo explica que as visitas a doentes que se encontram no serviço de urgência são condicionadas, em todos os hospitais, de forma a garantir a segurança clínica e o bem-estar de todos os doentes. “Os registos, quer médicos quer de enfermagem, do atendimento aos dois utentes mencionados indicam que foram prestados os cuidados de saúde mais adequados às respectivas situações”, defende. Garante ainda que procura sempre manter as famílias informadas do estado de saúde dos utentes internados. No entanto, sobre a proibição das visitas, o hospital já tinha respondido a outros meios de comunicação social confirmando uma grande afluência aos serviços do hospital, o que obrigou a aumentar as restrições e, “consequentemente, a restringir as visitas” aos doentes.

À margem/Opinião

Assobiar para o lado

À medida que o ano vai avançando, apesar das páginas e páginas de relatos feitos por utentes do Hospital Vila Franca de Xira sobre o estado do serviço, seja em O MIRANTE seja noutros órgãos de informação, não há forma de os problemas serem resolvidos ou a actual administração da unidade chamada à responsabilidade pelo que está a acontecer na unidade de saúde que, em tempos, já foi das melhores e desceu do céu ao inferno num par de anos. Depois dos casos dos doentes internados em macas nos corredores da urgência, do SO que funciona numa antiga garagem do edifício, passando pelo triste caso de o hospital ter perdido o rasto a dois doentes com Alzheimer em dois anos e dos enfermeiros com centenas de horas de descanso por gozar, começa a ser aflitivo não se ver da tutela uma mão de ferro para com quem tem a responsabilidade de gerir o hospital. Será este o espelho da sociedade em que vivemos, onde se assobia para o lado e se espera que os problemas milagrosamente desapareçam?.

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