No Agrupamento Alexandre Herculano os alunos migrantes são recebidos de braços abertos

A integração de alunos e famílias migrantes é um desafio cada vez mais presente no ensino em Portugal. No Agrupamento de Escola Alexandre Herculano, em Santarém, iniciativas como o lanche multicultural, que se realizou no dia 27 de Maio, são exemplos a seguir.
Uma mesa farta de comida é sempre um bom sinal em terras portuguesas. Era assim que estava a mesa do lanche multicultural na Escola Básica de 2.º e 3.º Ciclos Alexandre Herculano, em Santarém. Para além dos muitos doces tradicionais portugueses, encheram o olho a quem espreitava os pratos típicos que cada uma das famílias de migrantes preparou para partilhar numa tarde de convívio. Rashmiben Lad, 37 anos, é mãe de Janvi Lad e Param Lad, de 14 e seis anos, alunos do Agrupamento. Na tarde de 27 de Maio a família indiana foi até à Escola Básica de 2.º e 3.º Ciclos Alexandre Herculano participar no lanche multicultural organizado pela Equipa de Acolhimento a Migrantes do agrupamento. Na conversa em inglês com O MIRANTE, solta algumas palavras em português, língua que os filhos falam cada vez melhor.
Rashmiben Lad está em Portugal e em Santarém há dois anos e admite gostar cada vez mais da cidade. A maior dificuldade dos filhos é a adaptação à comida da cantina da escola, muito distinta daquilo a que estão habituados. Para Rashmiben Lad, iniciativas como o lanche multicultural são sempre bem-vindas, já que tem a oportunidade de conhecer outras famílias e estreitar relações com os docentes e comunidade escolar.
Conhecer a cultura e hábitos portugueses tem sido uma experiência agradável para Janvi Lad, aluna do agrupamento de escolas que se interessa particularmente pela disciplina de História. A aluna foi responsável por fazer a tradução de português para inglês da apresentação da iniciativa aos participantes. As aulas da disciplina de Português Língua Não Materna foram essenciais para a sua adaptação ao país e à escola e actualmente já consegue falar português fluente. A experiência de Janvi Lad em Portugal fá-la considerar que o melhor do país são os portugueses, que considera pessoas gentis e prestáveis e que não julgam pela raça ou tom de pele.
Gabrielli Medeiros tem 17 anos e é natural de Paraíba, no Brasil. Está em solo português há três anos e frequenta o 9.º ano no Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano. Depois de ter vivido alguns anos em França, veio com a família para Santarém. No ensino secundário quer estudar na área das ciências para se tornar bióloga um dia. Emiliia Mieshkova é a melhor amiga de Gabrielli e com ela frequenta o 9.º ano. A jovem ucraniana veio para Portugal ainda antes do eclodir da Guerra na Ucrânia, com a mãe e a avó. É graças a elas que hoje consegue falar português, afirma, confessando que a incentivaram bastante a aprender a língua. Emillia Mieshkova gosta de viver no presente e por isso não sabe ao certo em que área profissional gostava de trabalhar no futuro. “Talvez ser diplomata”, atira.
Uma escola para todos
Cátia Sales, mediadora linguística e cultural na escola, afirma que actividades como o lanche multicultural são um espaço de facilitação do diálogo entre a escola e as famílias. O lanche incluiu um pequeno exercício com quatro perguntas a que as famílias foram convidadas a responder sobre as maiores dificuldades que enfrentam na integração dos filhos para que o corpo docente possa responder a essas necessidades. Cátia Sales explica que a língua não é a única barreira no contacto com a família e que a mediação de conceitos é muito importante em todo o processo.
O Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano tem mais de 400 alunos de origem estrangeira, cerca de 30% do total de alunos. A inclusão de crianças e jovens oriundas das mais variadas culturas não é tarefa fácil, mas é algo que a directora do agrupamento, Margarida Franca, encara de frente. Há certas práticas que, independente da cultura, não são aceitáveis na escola, explica. A directora e professora condena a propagação de ideias pré-concebidas sobre os migrantes e dá o exemplo dos migrantes provenientes de países asiáticos, como o Paquistão ou a Índia, muitas vezes definidos como problemáticos. Ano após ano, as experiências que tem tido com alunos e respectivas famílias fá-la contar uma história diferente. “As crianças não têm problemas umas com as outras por serem diferentes. Os problemas são criados lá fora, baseados em mentiras”, afirma.
