Sociedade | 10-06-2025 12:00

No Agrupamento Alexandre Herculano os alunos migrantes são recebidos de braços abertos

No Agrupamento Alexandre Herculano os alunos migrantes são recebidos de braços abertos
Equipa de Acolhimento a Migrantes do Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano

A integração de alunos e famílias migrantes é um desafio cada vez mais presente no ensino em Portugal. No Agrupamento de Escola Alexandre Herculano, em Santarém, iniciativas como o lanche multicultural, que se realizou no dia 27 de Maio, são exemplos a seguir.

Uma mesa farta de comida é sempre um bom sinal em terras portuguesas. Era assim que estava a mesa do lanche multicultural na Escola Básica de 2.º e 3.º Ciclos Alexandre Herculano, em Santarém. Para além dos muitos doces tradicionais portugueses, encheram o olho a quem espreitava os pratos típicos que cada uma das famílias de migrantes preparou para partilhar numa tarde de convívio. Rashmiben Lad, 37 anos, é mãe de Janvi Lad e Param Lad, de 14 e seis anos, alunos do Agrupamento. Na tarde de 27 de Maio a família indiana foi até à Escola Básica de 2.º e 3.º Ciclos Alexandre Herculano participar no lanche multicultural organizado pela Equipa de Acolhimento a Migrantes do agrupamento. Na conversa em inglês com O MIRANTE, solta algumas palavras em português, língua que os filhos falam cada vez melhor.
Rashmiben Lad está em Portugal e em Santarém há dois anos e admite gostar cada vez mais da cidade. A maior dificuldade dos filhos é a adaptação à comida da cantina da escola, muito distinta daquilo a que estão habituados. Para Rashmiben Lad, iniciativas como o lanche multicultural são sempre bem-vindas, já que tem a oportunidade de conhecer outras famílias e estreitar relações com os docentes e comunidade escolar.
Conhecer a cultura e hábitos portugueses tem sido uma experiência agradável para Janvi Lad, aluna do agrupamento de escolas que se interessa particularmente pela disciplina de História. A aluna foi responsável por fazer a tradução de português para inglês da apresentação da iniciativa aos participantes. As aulas da disciplina de Português Língua Não Materna foram essenciais para a sua adaptação ao país e à escola e actualmente já consegue falar português fluente. A experiência de Janvi Lad em Portugal fá-la considerar que o melhor do país são os portugueses, que considera pessoas gentis e prestáveis e que não julgam pela raça ou tom de pele.
Gabrielli Medeiros tem 17 anos e é natural de Paraíba, no Brasil. Está em solo português há três anos e frequenta o 9.º ano no Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano. Depois de ter vivido alguns anos em França, veio com a família para Santarém. No ensino secundário quer estudar na área das ciências para se tornar bióloga um dia. Emiliia Mieshkova é a melhor amiga de Gabrielli e com ela frequenta o 9.º ano. A jovem ucraniana veio para Portugal ainda antes do eclodir da Guerra na Ucrânia, com a mãe e a avó. É graças a elas que hoje consegue falar português, afirma, confessando que a incentivaram bastante a aprender a língua. Emillia Mieshkova gosta de viver no presente e por isso não sabe ao certo em que área profissional gostava de trabalhar no futuro. “Talvez ser diplomata”, atira.

Uma escola para todos
Cátia Sales, mediadora linguística e cultural na escola, afirma que actividades como o lanche multicultural são um espaço de facilitação do diálogo entre a escola e as famílias. O lanche incluiu um pequeno exercício com quatro perguntas a que as famílias foram convidadas a responder sobre as maiores dificuldades que enfrentam na integração dos filhos para que o corpo docente possa responder a essas necessidades. Cátia Sales explica que a língua não é a única barreira no contacto com a família e que a mediação de conceitos é muito importante em todo o processo.
O Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano tem mais de 400 alunos de origem estrangeira, cerca de 30% do total de alunos. A inclusão de crianças e jovens oriundas das mais variadas culturas não é tarefa fácil, mas é algo que a directora do agrupamento, Margarida Franca, encara de frente. Há certas práticas que, independente da cultura, não são aceitáveis na escola, explica. A directora e professora condena a propagação de ideias pré-concebidas sobre os migrantes e dá o exemplo dos migrantes provenientes de países asiáticos, como o Paquistão ou a Índia, muitas vezes definidos como problemáticos. Ano após ano, as experiências que tem tido com alunos e respectivas famílias fá-la contar uma história diferente. “As crianças não têm problemas umas com as outras por serem diferentes. Os problemas são criados lá fora, baseados em mentiras”, afirma.

Família Lad vive em Santarém há dois anos e cada vez gosta mais da cidade que os acolheu. - fotos O MIRANTE

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