A obesidade é um dos maiores desafios de saúde pública deste século

Uma em cada três crianças sofre de excesso de peso ou obesidade, doença que resulta em vários outros problemas que conduzem à morte. O município do Cartaxo escolheu a temática da obesidade infantil para abordar numa conferência aberta à comunidade.
A obesidade infantil atinge já uma dimensão tão avassaladora que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o problema como um dos mais sérios desafios de saúde pública do século XXI. Uma em cada três crianças vive com excesso de peso ou obesidade, condição que atinge também 50% dos adultos, segundo o Serviço Nacional de Saúde (SNS). O município do Cartaxo escolheu a temática da obesidade infantil para abordar numa conferência online na Semana da Saúde e Bem-estar, convidando médicos, nutricionistas e outros profissionais de saúde para a iniciativa aberta à população.
Inês Tomada, nutricionista, explicou que se a obesidade não for tratada de forma atempada e assertiva, as crianças serão adolescentes e adultos com obesidade e cidadãos com menor qualidade de vida, com tendência para viver menos tempo. Nas crianças, a estratégia de combate à obesidade passa por quatro pilares: alimentação saudável; estímulo à actividade física; ensinar o que são os alimentos da rotina e da excepção; e ensinar pelo exemplo, o que implica os pais comerem também alimentos saudáveis.
“O que herdamos não é a obesidade, é uma maior vulnerabilidade para ganhar peso”, esclareceu Inês Tomada. Referiu ainda que o regulamento relativo aos produtos que não podem ser vendidos nas escolas é contornado pelo que as crianças levam de casa e pela compra de refrigerantes, gomas e folhados nos intervalos.
Marília Cravo, gastroenterologista, explicou que “a obesidade não é um problema estético, é uma doença e está associada a outras doenças”, disse, exemplificando com a diabetes, hipertensão, colesterol alto e vários tipos de cancro, da mama, do útero, do fígado, do pâncreas, entre outros. A médica defendeu que as principais causas de morte das sociedades modernas teriam muito menos impacto com a prevenção da obesidade.
Carlos Oliveira, presidente da direcção da Associação Portuguesa de Pessoas que vivem com Obesidade (ADEXO), alertou para os estigmas associados à obesidade, sejam eles visual, em que a pessoa classifica o indivíduo pelo que está a ver; social, em que o culpa por aquilo que é; da tribo ou familiar, em que a família entende e ajuda a resolver o problema ou desestabiliza mais o doente.
De acordo com Carlos Oliveira, a obesidade é uma doença biológica e as pessoas com obesidade não são gordas porque querem. “Mais de 90% das pessoas com obesidade são resistentes à leptina, uma hormona que diz ao cérebro a quantidade de energia que está armazenada no corpo”, clarificou. O dirigente reforçou que deve ser adoptada uma alimentação para a vida, que sacie e que a pessoa goste, porque a dieta temporária vai falhar. Assim como não resulta fazer exercício físico só com o objectivo de perder peso, porque a massa muscular ao ser mais pesada do que a gordura vai resultar num aumento de peso.
Carlos Oliveira lamentou as poucas unidades de tratamento de crianças com obesidade no país, o que obriga a grandes deslocações. “A obesidade mata de várias formas, pelo incremento de outras doenças, e é preciso que as pessoas tenham noção de que 80% dos diabéticos tipo 2 em Portugal são pessoas com obesidade. Na associação temos muitas cruzes por causa de pessoas que não conseguiram tratamento por causa das listas de espera e que, entretanto, com uma das doenças associadas faleceram”, declarou.
Mais atenção à alimentação nas escolas
Elisabete Fragoso, que integra a equipa de saúde escolar do Cartaxo, diz-se preocupada com o uso de bebidas energéticas devido ao açúcar e cafeína que causam hiperactividade e desatenção nas aulas. Essa realidade já foi introduzida como tema a abordar com os jovens a partir do 7º ano, revelando que à pergunta de quantos beberam bebidas energéticas na última semana, só um ou dois não levanta a mão.
A vereadora da Educação da Câmara do Cartaxo, Fátima Vinagre, mencionou algumas medidas implementadas para combater a obesidade infantil, como reforçar a educação alimentar desde o pré-escolar, envolvendo, por exemplo, os alunos dos cursos profissionais de restauração e saúde na promoção de refeições e bebidas saudáveis nas escolas; nos refeitórios, a aposta em refeições pautadas pela dieta mediterrânea; ou o cumprimento do regulamento da Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, que permite apenas a venda de produtos com baixo teor de sal, açúcar e gorduras nas escolas. A autarca acrescentou as medidas de apoio da nutricionista a crianças e jovens sinalizados, promoção e apoio ao desporto escolar, capacitação de trabalhadores do município para adopção de hábitos saudáveis.