Sociedade | 15-06-2025 12:00

Falta formação, professores e materiais para lidar com crianças com autismo

Falta formação, professores e materiais para lidar com crianças com autismo
A educadora social Inês Ferreira, Vanessa Nalha, coordenadora do Projeto CLDS-5G, e o professor António Portelada - foto O MIRANTE

Alpiarça recebeu o primeiro fórum sobre como comunicar com crianças com autismo. Os participantes puderam conhecer melhor a perturbação e o que desencadeia as crises de ansiedade nas crianças autistas.

Aprender a comunicar com crianças com autismo e entender este transtorno foi o tema do primeiro fórum no âmbito do Projecto CLDS-5G Alpiarça “Incluir+”, uma iniciativa do município de Alpiarça em parceria com a rede social. O fórum foi conduzido por António Portelada, docente do Politécnico de Santarém que tem desenvolvido uma carreira sólida na investigação sobre inclusão, necessidades educativas especiais e formação de professores. Durante o fórum foi realçada a importância de trabalhar os conteúdos curriculares através dos gostos específicos da criança e acreditar nas suas capacidades. “Estamos a lutar muito por esta educação inclusiva, mas ao pé-coxinho. Sem materiais, sem professores, sem estrutura”, disse o professor.
Seis anos após a entrada em vigor do decreto-lei que estabelece o regime jurídico da educação inclusiva em Portugal, continuam a faltar docentes de educação especial, técnicos especializados, assistentes operacionais, designadamente com formação para a exigente actividade que deverão desenvolver, mas também espaços físicos e materiais específicos, revelou a FENPROF - Federação Nacional dos Professores em Janeiro deste ano. António Portelada defende formações pagas para quem lida diariamente com o autismo, que descreveu como uma perturbação do neuro-desenvolvimento que se caracteriza por um espectro de comportamentos anormais que incluem défice marcado da interacção social e da comunicação, juntamente com padrões de interesses e actividades restritos, repetitivos e estereotipados.
Em Portugal existe apenas um estudo realizado em 2005 que apontava para uma prevalência de autismo estimada de cerca de uma em cada mil crianças em idade escolar. Os dados mais recentes divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) referem uma em cada 100 crianças. Este crescimento pode, em parte, ser resultado de uma maior consciencialização relativamente ao autismo, das mudanças nos critérios de diagnóstico e do facto de as crianças serem diagnosticadas cada vez mais cedo, de acordo com a Federação Portuguesa de Autismo.
Os sinais e características da perturbação mencionados por António Portelada são a falta de resposta a atitudes afectivas; dificuldades em interpretar sinais (expressões faciais, verbais), em compartilhar momentos e situações com os outros; em partilhar, mostrar empatia e confortar; e preferência de brincar com objectos e animais ao invés de pessoas. Verifica-se um défice básico na capacidade de utilizar linguagem verbal como meio de comunicação; dificuldade na aquisição do sistema linguístico e sua utilização; recusa em comunicar, utilização de outros como ferramentas (para chegar a um objecto, tocar em outros…); quando existe linguagem verbal, apresentam alguns problemas, desde alterações do timbre, ênfase, velocidade, ritmo e entoação, entre outras.
Ao nível da perturbação do comportamento, podem revelar ansiedade perante mudanças de ambiente e de rotinas; rituais/rotinas compulsivas, por exemplo na entrada e saída da sala ou hora de refeições; vinculação a determinados objectos, como pedras, cordas, levando-os para todo o lado; interesses muito restritos e estereotipados, como dinossauros, comboios, natureza, desenhos animados; e maneirismos motores estereotipados e repetitivos.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Médio Tejo
    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Lezíria Tejo
    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Vale Tejo