Concurso escolar revela talento para a escrita dos jovens de Vialonga

O concurso Escrita sem Limites envolveu 690 alunos da Escola Básica e Secundária de Vialonga. A iniciativa teve como objectivo despertar o gosto pela escrita e revelou talentos inesperados. Emojis, abreviaturas e expressões informais entram nas aulas de Português, mas há também vantagens no uso das novas ferramentas. Os professores procuram equilibrar estes dois mundos.
Participaram na primeira edição do concurso Escrita sem Limites 690 alunos da Escola Básica e Secundária de Vialonga, do 7.º ao 12.º ano de escolaridade. O objectivo da iniciativa, que faz parte do plano de actividades anual da disciplina de Português, foi motivar o gosto pela escrita e estimular a criatividade. Os alunos foram desafiados a escrever textos, em qualquer género literário, subordinado a um tema. Para os do 7.º ano, o tema era “Da minha janela eu vi”; para o 8.º ano, “Cores da diversidade”; para os jovens do 9.º ano, “A magia das palavras”; e os alunos do secundário escreveram textos sobre “Pontes para o Mundo”.
Os vencedores de cada ano de escolaridade receberam um livro, gomas, uma caneta personalizada e um diploma. As professoras de Português ficaram surpreendidas, pela positiva, com a qualidade dos textos. “Quando lancei o desafio, os alunos não sabiam bem que tópicos abordar, mas depois surpreenderam-me. Eles lêem pouco, no geral, e por isso, às vezes, falta-lhes imaginação. Por isso mesmo, estou a desenvolver com eles a escrita criativa”, disse a O MIRANTE a professora Filipa Machado.
A sua aluna vencedora do concurso, Luna Varela, de 16 anos, do Curso Profissional de Ourivesaria, costuma ler e escrever, mas ainda assim não estava à espera de ganhar. “Escrevo desde o quinto ano e vi o concurso como uma oportunidade de me mostrar. Escrevo em casa, mas costumo guardar para mim, por medo de me julgarem”, conta.
Ensino de Português adaptou-se aos telemóveis e Internet
Com as redes sociais, a tecnologia e a Inteligência Artificial, o ensino da Língua Portuguesa teve de se adaptar. O uso dos famosos emojis e das abreviaturas utilizadas pelos alunos em contextos informais é, muitas vezes, transferido para os testes e actividades dentro da sala de aula. Nos alunos mais novos, Filipa Machado refere um uso excessivo de preposições, influenciado pelo português do Brasil, enquanto nos mais crescidos se notam erros na construção frásica.
Mas também existem aspectos positivos no uso dos telemóveis. Paula Almeida, coordenadora do grupo de Português do 3.º ciclo e do ensino secundário profissional, considera que se trata de uma ferramenta essencial. “As aplicações digitais que fazem as correcções automáticas das palavras ajudam a detectar erros — não é tudo mau. Os erros mais comuns são expressões como o ‘tá’. Depois, os alunos até são criativos, mas têm dificuldade em exprimir essa criatividade no papel”, relata.
A pesquisa de artigos e conteúdos em livros, em contexto de biblioteca, caiu em desuso. Para além dos motores de pesquisa da Internet, a Inteligência Artificial é também um aliado. “O que digo sempre é que o ChatGPT é óptimo para dar ideias e uma ferramenta útil para os alunos. Podem utilizá-lo como inspiração para as ideias que têm de desenvolver por eles mesmos”, defende Filipa Machado. A professora Paula Almeida partilha da opinião, até porque admite que os docentes têm de aprender a conviver com a IA.
Jovens premiados pela criatividade literária ficaram surpreendidos
Maria do Mar Rodrigues, de 14 anos, aluna da professora de Português Maria Fonseca, sempre gostou de escrever. O facto de ter feito teatro musical deu-lhe uma ajuda e, por isso, começou a aprimorar o vocabulário logo aos seis anos. Na escola, era frequentemente elogiada pela professora nos exercícios que envolviam escrita. No concurso “Escrita sem Limites” escreveu em prosa.
“Tinha o tema da diversidade, e para mim ser diferente é ser distinto. Em vez de estarmos sempre a falar do ‘ser diferente’, quis colocar a pergunta: e se fôssemos todos iguais, qual seria a graça? Se fôssemos todos da mesma cultura, qual seria a piada de visitar outros países?”, explica à nossa reportagem. O futuro poderá passar pela medicina, de mão dada com a escrita e com o desejo de um dia escrever um livro.
Aos 13 anos, Jéssica Pinheiro, aluna da docente Conceição Ramos, não estava à espera de vencer o concurso com a sua poesia, apesar de escrever e ler em casa desde os sete anos, incentivada pelos pais. “Faço histórias em que mostro as emoções das personagens e tento melhorar sempre. Não tenho a certeza do que quero ser no futuro, mas gostava de ser escritora. Gosto de comprar livros para me entreter, não fico no telemóvel”, afirma.
João Gonçalves, 14 anos, redigiu um texto sobre uma caneta mágica, na qual tudo o que se escrevia se tornava realidade. Como prefere Matemática e Educação Física, ficou surpreendido com a vitória no concurso. “Não estava à espera, mas não dou muitos erros de gramática, coloco sempre os acentos e as vírgulas. Em relação aos meus colegas, escrevo bem e estou sempre a corrigi-los”, reitera.