Sociedade | 25-06-2025 10:00

As memórias de Susete Avelar que escreveu um diário e o destruiu quando casou

As memórias de Susete Avelar que escreveu um diário e o destruiu quando casou
Susete Avelar relata a sua vida em livro, que foi escrito no lar da Sta. Casa da Misericórdia de Pernes - foto O MIRANTE

Susete Avelar é a autora de “Vida depois de vida”, o mais recente livro da colectânea da Santa Casa da Misericórdia de Pernes, que já conta com sete obras. A utente falou com O MIRANTE sobre a sua experiência no lar e de como é bom viver a vida a agradecer todos os dias.

A Igreja da Misericórdia de Pernes encheu na tarde de 23 de Maio. Na primeira fila senta-se ligeiramente curvada Susete Avelar. Aos 84 anos de idade, Susete Avelar prepara-se para lançar um livro, o seu primeiro, aquele que nunca pensou escrever. Família, amigos, utentes do lar da Santa Casa da Misericórdia de Pernes e funcionários aguardam expectantes para a ouvir falar sobre o que escreveu. Mulher de poucas palavras, Susete aconselha as pessoas a ler o livro para conhecerem mais sobre a sua vida. No final, são muitos os que se juntam para receber um autógrafo e uma dedicatória, que a autora faz questão de personalizar. Alice Rodrigues, directora do lar e principal impulsionadora do livro, define a obra como um acto de bondade, pela forma como Susete escreve sobre cada dia e cada vivência no lar. “Não há uma entrada de diário em que se leia uma queixa ou uma crítica, a Susete escreve como quem agradece todos os dias pela vida que tem”, partilhou, emocionada, na apresentação.
Susete Avelar nasceu em Pernes em 1941. Filha única, estudou no Colégio Andaluz, em Santarém, onde não chegou a terminar o curso de auxiliar de enfermagem por causa de um erro cometido na administração de medicamentos a dois doentes durante o seu estágio. “Podia nem ter dito nada, como faziam as minhas colegas, mas não conseguia viver comigo se não fosse verdadeira”, explica a O MIRANTE Susete Avelar. Foi esta constante procura pela verdade e honestidade que a norteou durante a sua vida. Depois de sair do curso de auxiliar de enfermagem ingressou num curso de inglês no Instituto Britânico em Lisboa. Todas as terças e quintas, Susete apanhava o autocarro rumo à capital para aprender a língua que mais tarde ensinou, dando explicações no liceu. Casou aos 35 anos e com o marido mudou-se para a localidade de Laranjeiro, em Almada, quando este foi trabalhar para o estaleiro naval de Alfeite. Susete é uma mulher de fé cristã e foi catequista durante mais de 20 anos, tanto na paróquia de Pernes como de Laranjeiro. Dar testemunho da sua fé e de Jesus Cristo é para si uma missão, que muito prazer lhe dá e um esteio na sua vida. Foi essa mesma fé que a fez dedicar grande parte do seu tempo a cuidar e educar os filhos em casa, enquanto o marido trabalhava no estaleiro naval. Nesses anos já se notava o jeito de Susete para contar histórias. “Contava muitas histórias aos meus filhos e a maioria delas eram inventadas por mim”, confessa entre risos.

Um livro de memórias
A escrita sempre a acompanhou e durante muitos anos manteve um diário que acabou por destruir depois de casar, com receio que o marido o lesse. “Há coisas que são só nossas”, justifica. Ainda hoje guarda um poema que lhe escreveu, mas que nunca lhe entregou. O marido de Susete faleceu a 21 de Dezembro de 2022, dois dias depois de Susete se mudar para o lar da Santa Casa da Misericórdia de Pernes, onde esperava que o marido se juntasse. Os primeiros tempos no lar não foram fáceis, acabara de perder o companheiro e o seu dia-a-dia era agora num lugar novo, com pessoas novas. O desafio que Alice Rodrigues lhe lançou de escrever sobre a sua experiência no lar foi remédio santo, confessa ao nosso jornal.
Susete Avelar passou de escrever algumas linhas de vez em quando para se sentar na sua secretária todas as noites e deixar o seu dia gravado em palavras. “Só à noite é que sei como foi o dia”, explica. A maior surpresa veio mais tarde, quando a directora lhe propôs publicar os seus textos em livro. Foi a própria Susete que transcreveu o diário para o computador, sentada na recepção do lar. Este foi mais um desafio, já que teve de aprender a escrever no computador. Nos intervalos da transcrição tinha ainda tempo para receber as encomendas dos correios e convidados do lar. “Uma verdadeira recepcionista”, afirma Alice Rodrigues.
A escolha do título levou o seu tempo. A autora pensou em “Vida depois da vida”, mas depois de algum tempo a maturar, mudou de ideias. “Vida depois da vida não me soava bem, parecia que já tinha morrido”, explica Susete. Foi então que escolheu “Vida depois de vida”, retirando o artigo definido e dando um novo significado: dentro de uma vida podem existir várias vidas e nunca é tarde para começar uma vida nova.

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