Benavente reage aos números da obesidade com aulas práticas de culinária nas escolas

A Câmara de Benavente lançou um projecto inovador que leva uma cozinha móvel às escolas para ensinar alunos do 5.º ao 12.º ano a cozinhar e a fazer escolhas alimentares mais saudáveis. A iniciativa já envolve cerca de 400 alunos e visa combater a obesidade infantil.
A educação alimentar ganhou um novo sabor nas escolas de Benavente com o Mobile Kitchen Lab (MoKi-Lab), um projecto-piloto promovido pela Câmara de Benavente que transforma a cozinha numa sala de aula onde se aprende, experimenta e cozinha para uma dieta mais saudável. A iniciativa, que conta com o apoio do Fundo Ambiental e envolve os agrupamentos de escolas de Benavente e Samora Correia, dirige-se a alunos do 5.º ao 12.º ano e pretende desenvolver competências alimentares e culinárias fundamentais para a saúde e o bem-estar das crianças e jovens do concelho.
Ao longo do ano lectivo de 2024/2025, 22 turmas, num total de cerca de 400 alunos, participaram em sessões mensais de 120 minutos que combinam teoria e prática. As aulas são dinamizadas por nutricionistas e contam com a participação de chefs locais convidados. Os conteúdos vão desde as técnicas básicas de corte e preparação de alimentos, à confecção de refeições completas, passando por temas como a higiene alimentar, a sustentabilidade, a leitura de rótulos e planeamento de menus equilibrados. O equipamento utilizado é uma cozinha móvel, composta por cinco bancadas com fogões, fornos e lava-loiças. As aulas decorrem nos refeitórios escolares, fora do horário das refeições.
Mais do que ensinar a cozinhar, o MoKi-Lab quer mudar comportamentos. A evidência científica aponta que a falta de competências culinárias é uma das principais barreiras a uma alimentação saudável. “As crianças e adolescentes têm hoje menos oportunidades de aprender a cozinhar em casa, devido a mudanças sociais e à falta de tempo das famílias”, alertam as nutricionistas do município Catarina Jacinto Soares e Rute Espanhol.
Mais de 35% dos adolescentes com excesso de peso
Em Benavente, os dados são preocupantes uma vez que 35,6% dos adolescentes têm excesso de peso e 13,4% são obesos. Rute Espanhol explica que o concelho enfrenta uma “elevada prevalência de obesidade infantil”, problema que motivou a criação de uma resposta educativa prática baseada na culinária e integrando várias disciplinas, como Cidadania, Matemática e Ciência. “Não tivemos um único aluno contrariado. Todos participaram com entusiasmo e pedem sempre pela próxima aula”, afirma a nutricionista, sublinhando que o projecto “não substitui a teoria, mas vem colmatar a falta de prática”.
Para reforçar a ligação entre escola e família, o projecto inclui ainda uma iniciativa especial: o “MoKi-lab Convida: Um Jantar Especial, preparado pelos alunos para os seus pais”. Nessa actividade, os jovens cozinham um jantar completo para os familiares, demonstrando as competências adquiridas e incentivando a partilha de responsabilidades culinárias em casa.
O projecto tem também um cariz de investigação. Para avaliar o seu impacto, está a ser feita uma comparação entre os agrupamentos de Benavente e de Samora Correia, com o objectivo de produzir evidência científica sobre os efeitos da adesão ao padrão alimentar mediterrânico na redução da obesidade infantil e apresentar os resultados ao Ministério da Educação.
Dieta mediterrânica em declínio
A nível nacional, metade dos jovens portugueses apresenta padrões alimentares inadequados. Prevê-se que, em 2030, os maus hábitos alimentares sejam responsáveis por quase 14% das mortes. A dieta mediterrânica, considerada uma das mais saudáveis do mundo, está em declínio, substituída por alimentos ultraprocessados e refeições pré-preparadas.