Sociedade | 03-07-2025 12:00

Grande parte do legado de Veríssimo Serrão está disponível para consulta no antigo presídio de Santarém

Grande parte do legado de Veríssimo Serrão está disponível para consulta no antigo presídio de Santarém

O Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão nasceu do legado deixado pelo historiador ao município de Santarém, cidade onde nasceu e morreu. Num espaço emblemático, onde muitos estiveram privados de liberdade, há hoje onze salas repletas de livros e outros documentos para consulta. À margem dos olhares curiosos continua parte da correspondência privada do académico.

Mais de 30 mil livros e cerca de 300 caixas com documentos e correspondência legados pelo historiador Joaquim Veríssimo Serrão à câmara municipal do concelho onde nasceu, Santarém, deram origem e corpo ao Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão (CIJVS), que recentemente comemorou 13 anos e continua ancorado na Casa de Portugal e de Camões, no antigo presídio militar. Ao longo de onze salas estendem-se prateleiras recheadas com o espólio do académico que nasceu em Santarém em 8 de Julho de 1925 e faleceu na mesma cidade, em 31 de Julho de 2020. Há ainda peças de arte, condecorações e objectos pessoais do patrono do centro.

As obras estão disponíveis para consulta no local, bem como parte da correspondência que Veríssimo Serrão trocou com figuras do seu tempo, entre elas Marcello Caetano, o último líder de Governo do Estado Novo. Outra parte da correspondência está vedada aos olhares de investigadores e outros curiosos, por decisão do conselho consultivo do CIJVS. Por se considerar que tem conteúdo mais sensível, a consulta só será possível quando estiverem cumpridos 50 anos sobre a morte do historiador. Trata-se de uma salvaguarda, prevista na lei, que protege os documentos que contenham dados pessoais que não sejam públicos, ou dados de outra índole que possa afectar a segurança das pessoas, a sua honra ou a intimidade da sua vida privada e familiar.

Três funcionárias pertencentes ao quadro da Câmara Municipal de Santarém – Mónica Estrela, Susana Duarte e Vanda Marques - gerem outras tantas secções e garantem o funcionamento do CIJVS no dia a dia. O destacamento das profissionais decorre ao abrigo de um protocolo estabelecido com o município. Há ainda académicos que colaboram voluntariamente com o centro sem ganhar um cêntimo, tal como o seu director, Martinho Vicente Rodrigues.

Para além do legado de Veríssimo Serrão, há um fundo novo, composto por 1600 livros, manuscritos e bens artísticos e culturai doados por autores e entidades várias. A catalogação que tem vindo a ser executada é fundamental para se aceder rapidamente ao que se procura. As instalações no antigo presídio militar estão abertas a todos os que as procurem e estejam interessados em investigar e aprofundar conhecimentos sobre a vida e obra de Veríssimo Serrão e não só. Basta tocar à campainha e dizer ao que se vai. Na manhã em que O MIRANTE visitou as instalações, encontravam-se em trabalho de consulta estudantes da Escola Superior de Educação de Santarém e da Escola Secundária Ginestal Machado. Recebem também por ano à volta de uma dezena de estagiários de escolas da cidade. A interacção com a comunidade educativa é regular e existem protocolos firmados com diversos estabelecimentos de ensino, de diferentes graus, não só de Santarém mas também de outros pontos do país e até do estrangeiro.

O CIJVS, vocacionado para a investigação e estudo nas áreas das ciências sociais e humanas e das ciências e tecnologias, conta com mais de mil membros e protocolos estabelecidos com cerca de três dezenas de entidades. É procurado anualmente, presencialmente ou por outros meios, por centenas de pessoas, entre investigadores, estudantes e outros interessados. Para além dos livros que edita, de diversos autores, nos últimos anos reeditou quatro obras de Joaquim Veríssimo Serrão, estando para breve a segunda edição da obra A Historiografia Portuguesa, em três volumes, escrita pelo historiador em Paris, entre 1971 e 1973. E estão previstas outras reedições. O centro publica ainda, anualmente, as revistas Mátria e Mátria Digital e organiza conferências com frequência.

Director com sucessor dentro de um ou dois anos

O professor aposentado e historiador Martinho Vicente Rodrigues é o director do CIJVS desde a sua fundação e, questionado por O MIRANTE, revela que a sua sucessão está a ser preparada para dentro de “um ou dois anos”. Não abre o livro sobre a identidade de quem se perfila para ocupar o lugar, dizendo apenas tratar-se de uma pessoa que não é natural de Santarém mas reside na cidade. Adianta também que, depois de deixar a direcção, pretende continuar ligado ao centro como elemento do conselho consultivo. Para além do filho e da filha de Joaquim Veríssimo Serrão - Vítor Serrão e Adriana Veríssimo Serrão -, estão ligados ao CIJVS outras figuras da academia, como Maria de Fátima Reis, Maria José Azevedo Santos ou José Manuel Garcia, bem como o presidente da Câmara de Santarém, João Leite, que integra o conselho consultivo.

O director do CIJVS destaca a “solidariedade intelectual” que se vive no seio da instituição e menciona nomes de outras personalidades que colaboram regularmente com artigos para as revistas do centro, como Guilherme d’Oliveira Martins ou o constitucionalista Jorge de Miranda, entre outras. “Veríssimo Serrão não podia ficar apenas entre as muralhas de Santarém”, diz Martinho Vicente Rodrigues, quando lhe perguntamos se a cidade tem sabido honrar a memória e o legado do historiador.

Mudança para a Casa das Palmeiras continua na agenda

O Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão (CIJVS) tem mudança de instalações prevista a médio prazo, assim que for remodelada e adaptada a casa apalaçada doada pela benemérita Maria de Lurdes Fino ao município. O imóvel está localizado na Avenida 5 de Outubro, nas proximidades do emblemático Jardim das Portas do Sol.

O vereador com o pelouro da Cultura, Nuno Domingos, explicou a O MIRANTE que houve alguns problemas relacionados com procedimentos jurídicos e com arqueologia e condições geológicas do terreno onde foi construído o imóvel que acabam por justificar alguma morosidade no processo. O projecto de adaptação da chamada Casa das Palmeiras, da autoria do arquitecto Carlos Guedes de Amorim, vai permitir acolher o CIJVS e o seu acervo. O CIJVS tem funcionado no antigo presídio militar desde a sua criação.

A Câmara de Santarém apresentou à população, em Julho de 2023, a casa e o jardim doados ao município. Vários oradores, entre autarcas e especialistas de diversas áreas, deram a conhecer a história do edifício e de quem o habitou e do que se pretende para o futuro num momento muito participado que constituiu também um tributo à benemérita, falecida em 26 de Janeiro de 2021. O imóvel tinha um valor patrimonial de 216.438 euros.

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