Sociedade | 04-07-2025 12:00

Arménio Gomes é um cidadão do mundo que escreveu um livro sobre a história do Vale de Santarém

Arménio Gomes é um cidadão do mundo que escreveu um livro sobre a história do Vale de Santarém
Arménio Gomes começou por investigar a sua própria árvore genealógica conseguindo recuar até 1.500 Antes de Cristo - foto O MIRANTE

Com uma carreira internacional construída entre empresas de grande dimensão como a General Electric e a 3M, Arménio Gomes vive no México, lidera equipas em quatro continentes e desenvolve soluções tecnológicas de alto impacto na área financeira. Mas é ao Vale de Santarém que continua a regressar, pelas memórias, pela história e pelo compromisso com a identidade local. Investigador autodidata, lançou recentemente um livro – já esgotado - sobre as personalidades históricas da terra onde cresceu.

Apaixonado pela história desde pequeno, Arménio Gomes é um exemplo de como se pode ser um cidadão global sem nunca perder a ligação ao lugar onde cresceu. Nascido em Santarém em 1983 e criado no Vale de Santarém até 2001, onde foi responsável da catequese e deputado na assembleia de freguesia, Arménio Gomes manteve sempre um vínculo activo à sua terra natal, mesmo depois da sua vida profissional o levar para fora do país. O seu trabalho é focado nas finanças empresariais no estrangeiro mas é a descobrir as particularidades da sua terra, nos tempos livres, que realmente o fascina, tendo lançado recentemente o livro “Personalidades Históricas no Vale de Santarém”.
A sua carreira começou em Portugal no sector bancário, onde cedo se deparou com os desafios da precariedade. “Comecei no BES e passado um ano ele caiu. Fui para o Montepio, estive lá dois anos e quando iam passar-me a efectivo compraram outro banco e não passaram ninguém. Depois, no BBVA, pagavam-me a dias, tive contratos de dois dias para não me pagarem feriados”, explica a O MIRANTE. Acabou por tirar um mestrado em economia das empresas pelo ISCTE e através de uma associação internacional de estudantes encontrou uma vaga numa empresa no México que decidiu aceitar. Foi no México que a General Electric o contratou. Os primeiros anos foram intensos e desafiantes, com responsabilidades que atravessavam fronteiras. “Estive muito relacionado com o Brasil nos primeiros anos, fiz a migração de toda a contabilidade da empresa no Brasil — a parte de químicos de água, transportes, aviação, tudo. Sou um apaixonado por automatização e ao fim de pouco tempo estava a criar robôs para facilitar tarefas complexas. Desenvolvi robôs para fazer o pagamento de impostos no Brasil e articular os diferentes impostos a pagar entre fronteiras municipais, estaduais e federais. Fiz um robô que automatiza os pagamentos. Sou uma pessoa incapaz de estar parada, gosto de desafios”, partilha.
A sua criatividade e capacidade de estruturação fizeram com que, após nove anos na GE - “um monstro industrial”, fosse recrutado pela 3M, outra empresa de grande dimensão e que tem hoje mais de 100 mil colaboradores a nível mundial. Foi contratado para ser gestor global de tesouraria, tratando de todas as políticas de pagamentos em mais de 60 mil produtos vendidos globalmente. Arménio lidera quatro equipas espalhadas pelo mundo - na Costa Rica, Polónia, Manila e Índia - enfrentando o desafio diário de gerir pessoas à distância. Para ele, liderança é sinónimo de organização, embora sempre defendendo que deve haver um equilíbrio entre a vida empresarial e a pessoal.

Livro de O MIRANTE ajudou na pesquisa
Apesar da agitada vida profissional, Arménio Gomes nunca deixou de se interessar pela história do Vale de Santarém, dando o exemplo de nomes como Hermínio Martinho, Joaquim Veríssimo Serrão ou José Miguel Noras. “A história é um bichinho que sempre tive. Os jovens precisam de referências e de ser estimulados”, defende. Começou por investigar a sua própria árvore genealógica, conseguindo recuar até 1500 Antes de Cristo. Mas na sua pesquisa para o novo livro deparou-se com uma quebra significativa nos registos causada pelas invasões francesas. Foi então que o livro “O Vale de Santarém”, de Aurélio Lopes, publicado nos anos 90 por O MIRANTE, lhe deu pistas importantes para continuar o seu trabalho de investigação. “Foi muito importante para dar referências para a base de investigação”, avança. Consultou centenas de documentos na Torre do Tombo e trouxe à luz personagens menos conhecidas mas profundamente relevantes na história do Vale de Santarém: Soeiro Trincão, Rodrigo Garcia de Paiva, os irmãos Vicente, Brás e Isabel Sodré (esta última, mãe de Vasco da Gama e nascida no Vale), Margarida Lopes, Henrique de Menezes, Leonor da Câmara, Miguel António de Melo, Joaquim Marecos, Vitorino Soares Serrão, Firmo Marecos e o padre Manoel Joaquim Marques. Entre os casos curiosos contados no livro destaca o de um cavaleiro do século XIII, figura da inquisição e protagonista de uma cantiga de maldizer por gostar “de moças e moços”.
“Moro no México mas sou um cidadão global. Fui escrevendo o livro aos poucos pelo mundo e durante um ano. Comecei com o livro de O MIRANTE e fui explorando. Fiquei muito surpreendido pela reação das pessoas quando o livro foi apresentado”, refere. Editado pela Associação Cultural do Vale de Santarém, o livro está esgotado e vai agora para uma segunda edição. De fora das suas páginas ficou propositadamente Almeida Garrett, precisamente por já estar bastante estudado ao longo dos anos. “Ver a casa do Garrett completamente destruída e ao abandono é um crime”, lamenta.
Arménio Gomes é também professor catedrático na Universidad Internacional de Liderazgo y Desarrollo (México) desde 2014. A sua história é a de alguém que construiu um percurso internacional esforçado sem nunca deixar de olhar para trás, não por nostalgia, mas por convicção. “Sou um cidadão do mundo que andou a desenterrar as histórias das figuras que passaram pelo Vale de Santarém”, admite. Porque para construir o futuro, diz, é preciso saber de onde se veio.

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