Inspecção-Geral da Saúde quer saber como o Hospital VFX deixou fugir utente Fernando Miguens

Organismos de fiscalização estão a apertar o cerco ao hospital gerido pela equipa de Carlos Andrade Costa, querendo perceber o que correu mal para Fernando Miguens, doente com Alzheimer de Benavente, ter fugido da unidade a pé até ser encontrado em Arruda dos Vinhos. Família já tinha pedido justiça e um apuramento das responsabilidades.
Depois de em Abril a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) ter confirmado a O MIRANTE que está em curso um processo de avaliação ao Hospital Vila Franca de Xira, agora é a vez da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) anunciar que vai também averiguar o que correu mal no Hospital de Vila Franca de Xira para ter deixado fugir Fernando Miguens, de Benavente, doente com Alzheimer de 74 anos. Em comunicado a IGAS anunciou que, por despacho do seu director-geral, assinado a 18 de Junho, foi instaurado um processo de esclarecimento ao hospital liderado pela equipa de Carlos Andrade Costa para apurar as circunstâncias em que Fernando Miguens fugiu do serviço de urgência depois dos familiares terem sido impedidos de ficar com ele e a quem a Unidade Local de Saúde (ULS) Estuário do Tejo perdeu o rasto na manhã de 8 de Abril. Tanto a IGAS como a ERS vão assim ao encontro da vontade dos familiares do utente, que exigiram um apuramento das responsabilidades por não se conformarem com a actuação e atitude demonstrada pelo hospital e o seu conselho de administração.
No caso da Entidade Reguladora da Saúde, recorde-se, pode mesmo estar em causa o incumprimento de um alerta de supervisão dirigido em Março do ano passado pela ERS a todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, visando o direito ao acompanhamento de pessoas com deficiência ou em situação de dependência ou estado final de vida. Nesse alerta lê-se que os hospitais devem garantir em permanência, entre outros, o acompanhamento dos utentes, sendo que, em situações excepcionais em que não ocorra o acompanhamento dos utentes, deve ser garantida a existência de procedimentos internos para assegurar que as pessoas dependentes sejam devidamente monitorizadas e acompanhadas. Caso se venha a provar que o Hospital VFX não cumpriu com essas indicações da ERS, pode incorrer numa coima que vai dos mil aos 44.891 euros.
No último ano deram entrada na ERS 1.642 reclamações a nível nacional relacionadas com o acompanhamento durante a prestação de cuidados de saúde, sendo que 930 foram em contexto de serviço de urgência.
Uma experiência tenebrosa
Tal como O MIRANTE já tinha noticiado, os familiares de Fernando Miguens dizem ter passado por uma experiência tenebrosa e não têm dúvidas: houve muitas falhas nos protocolos do hospital para que o utente tenha desaparecido da unidade de saúde sem que ninguém o tenha travado. Os familiares foram impedidos pelo hospital de continuar a acompanhar o idoso quando este passou para uma sala de observação e, na manhã seguinte, ao regressarem à unidade de saúde, perceberam que o hospital tinha deixado de saber onde estava Fernando Miguens.
O idoso caminhou durante 20 quilómetros, desorientado, sem água nem documentos e com um cateter espetado no braço, até ser encontrado por populares no vizinho concelho de Arruda dos Vinhos. Questionado pelo nosso jornal, o hospital liderado por Carlos Andrade Costa remeteu-se ao silêncio. “Foi um drama. O que aconteceu não é aceitável. Foi uma experiência tenebrosa e o dia mais horrível da minha vida. Estamos a falar de uma pessoa que ficou a cargo de uma instituição, um serviço de saúde, que tem obrigação de zelar pelos doentes. O acompanhante foi posto na rua e sabemos que ele hoje está vivo por milagre”, criticou Teresa Miguens ao nosso jornal.
E este não foi caso único naquele hospital desde que a actual administração tomou conta da gestão da unidade. Uma outra situação aconteceu em Dezembro de 2022, quando Casimiro Pereira, utente de 95 anos que estava desorientado e internado no hospital, saiu do piso 3 da unidade de saúde, atravessou todo o edifício e andou perdido pela cidade, descalço, sem que ninguém desse por nada. Foi encontrado por populares ainda com a roupa do hospital. A família exigiu um pedido público de desculpas da administração que nunca foi dado. Na altura o hospital abriu um inquérito interno que acabou arquivado.
Sistema informático gera queixas
A introdução de alterações no sistema informático do Hospital VFX, mudança obrigatória para uniformizar os sistemas da unidade de saúde com os sistemas informáticos do Serviço Nacional de Saúde, está a gerar queixas em doentes e médicos e a provocar constrangimentos durante algumas consultas aos profissionais de saúde. Vários lamentos chegaram na última semana a O MIRANTE sobre o problema, sobretudo pela forma como tem sido feita a migração dos conteúdos entre os sistemas, com clínicos a ter de consultar dois sistemas informáticos diferentes até que a migração esteja concluída. Em alguns casos, referem, já terá havido perda de alguma informação e historial clínico, o que provoca atrasos nas consultas obrigando os médicos a preencher novamente todo o historial clínico do utente. A administração da unidade já veio reconhecer o problema e garante que a mudança de sistema está na fase de conclusão e a ser feita em articulação com o Ministério da Saúde.