Sociedade | 15-07-2025 12:00

Gravidez de risco implica acompanhamento diferenciado mas não é sinónimo de baixa

Gravidez de risco implica acompanhamento diferenciado mas não é sinónimo de baixa
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Mariana Panaro, médica ginecologista-obstetra nos hospitais CUF Santarém e CUF Descobertas - foto O MIRANTE

Os partos devem ocorrer em meio hospitalar, que garante segurança para a mãe e para o bebé, principalmente se a gravidez for considerada de risco. O conselho é de Mariana Panaro, ginecologista-obstetra nos hospitais CUF Santarém e CUF Descobertas, alertando que uma gravidez de risco implica uma vigilância e cuidados diferenciados com a saúde da mãe e do bebé. O que é garantido pela estratégia da CUF em oferecer um acompanhamento multidisciplinar, com profissionais de várias especialidades.

A idade é um dos factores que aumenta o risco na gravidez, seja por as mulheres serem ainda muito novas, com menos de 17 anos, seja por terem mais de 35 anos, e actualmente assiste-se ao facto de haver uma tendência para as portuguesas terem filhos mais tarde. Situação que se associa a um maior risco de doenças, como diabetes e hipertensão, e de problemas durante a gestação. É por isso que o acompanhamento médico multidisciplinar, que é uma bandeira da CUF, ao longo de toda a gravidez e no parto, é fundamental para reduzir o risco de complicações.
As grávidas da região de Santarém têm beneficiado no Hospital CUF Santarém de uma articulação dos cuidados de saúde em rede, que permite assegurar um seguimento contínuo e diferenciado, não só durante a gestação, como também no nascimento do bebé. Uma estratégia que tem contribuído para aumentar o número de mulheres acima dos 35 anos que chegam ao fim da gravidez com sucesso.

As mulheres portuguesas tendem a ter filhos cada vez mais tarde. Que influência isto tem na questão da gravidez? Uma mulher que tem uma gravidez mais tarde, ela tem um ovócito (célula germinal que se gera nos ovários) com a mesma idade que dela. Portanto, tem uma menor qualidade do que um de uma mulher de vinte e poucos anos. Uma mulher que pense engravidar deve fazer um planeamento, independentemente da idade, fazer análises, exames de citologia, ecografia… para se ver o funcionamento do organismo, se tem alguma doença que não foi diagnosticada, avaliar o peso, os hábitos alimentares, o consumo de álcool, o tabaco.
A gravidez em mulheres mais novas, adolescentes por exemplo, também é de risco? É considerada gravidez de risco em menores de 17 anos. O risco aumenta a partir dos 35 e abaixo dos 17. Mas também há outras situações para além da idade, como o facto de a mulher ser diabética apesar de estar numa idade que não é de risco. É importante haver um planeamento e as pessoas estão mais atentas a isso. No planeamento primeiro vou investigar o estilo de vida do casal, o que faz profissionalmente, o uso de medicamentos, por exemplo, psiquiátrico, mas não só, além de exames clínicos. Os homens podem e devem fazer um espermograma e na consulta também pergunto sobre a saúde dele.
Porque é que uma gravidez na adolescência é considerada de risco? Porque ainda não têm os órgãos bem definidos Ainda não têm o desenvolvimento completo, não atingiram a fase adulta.
Há profissões que têm influência na questão da gravidez? Quem mexe com determinados fármacos ou quem tem contacto com químicos, ou quem, por exemplo, é técnica de radiologia, tem sempre um risco acrescido. O que se tenta fazer é que a mulher mude de funções. Não é imperioso que a grávida deixe de trabalhar, desde que seja possível mudar algumas tarefas. Até porque nem deve deixar de fazer tudo porque isso até agrava alguns riscos, quanto mais não seja pela questão psicológica.
Em relação aos hábitos de vida. Uma mulher que fume pode continuar a fumar quando está grávida? Não deve fumar. Existe um mito que é propagado pelas senhoras que fumam de que não se deve deixar de fumar, só reduzir a quantidade. Isso, na verdade, não é o correto, porque a nicotina é prejudicial para o bebé, para a placenta, e pode dar um risco de restrição do crescimento do bebé. Também há as que deixam de fumar, mas ficam ao lado do marido que fuma e estão a inalar fumo na mesma
Em que medida os hábitos alimentares têm influência numa gravidez? Se a mulher se alimenta de comida processada, de comida rápida, a gravidez não será saudável, porque a alimentação deve ter frutas, verduras, legumes, proteína A… Os maus hábitos alimentares podem aumentar o risco de diabetes gestacional e isso repercute-se no feto que tem um sério risco de vir a desenvolver diabetes na vida adulta. Tive um caso em que a grávida não vigiava nada e o bebé morreu logo a seguir ao parto porque o coração dele não funcionou.
Quais são as vantagens do acompanhamento multidisciplinar para a grávida, para o parto? Uma grávida que tenha uma cardiopatia, por exemplo, tem que ser sempre seguida com o apoio do cardiologista, que também pode dizer qual é a melhor via de parto. Também é importante ser acompanhada num hospital que funcione em rede como é a CUF, em que uma grávida do Hospital CUF Santarém pode fazer o parto no Hospital CUF Descobertas.
Uma gravidez de risco é por si só motivo para um parto por cesariana? Se estiver tudo bem controlado, a grávida pode ter um parto vaginal. Ainda existem alguns medos em relação ao parto vaginal, o que pode estar relacionado com a preparação para o parto. Há ainda muitos mitos em relação aos partos e muitas mulheres não têm noção que uma cesariana é uma cirurgia, que tem sempre alguns riscos associados. Numa cesariana abrem-se uma série de camadas para chegar ao bebé. Por isso é importante também que a grávida esteja bem informada. Tive uma senhora que pediu para fazer uma cesariana, perguntei-lhe os motivos, esclareci-a e acabou por fazer o parto natural.
As mulheres que decidem ter partos em casa, ou dentro de água estão a correr riscos? É muito importante que as pessoas sejam acompanhadas por profissionais que as orientem, que avaliem o benefício daquilo que elas querem ou não, que elucide os riscos, porque as pessoas é que fazem as suas escolhas e têm de assumir os riscos inerentes a determinadas práticas que vêem noutras realidades. Por exemplo na Suécia uma grávida pode optar por ter um parto em casa, por exemplo, mas tem uma ambulância disponível muito mais próxima do que em Portugal. A grávida tem o direito de escolher, mas deve estar consciente dos riscos e das condições para fazer determinado parto.
Portanto, não aconselha qualquer parto fora do meio hospitalar… Para fazer um parto fora de um hospital por opção, a mulher deve ter profissionais a acompanhá-la no parto, médicos, enfermeiros, etc, deve estar perto de um hospital e ter meios de socorro rápidos se houver necessidade. Mas mesmo com acompanhamento, considero que o melhor é ter sempre o bebé em meio hospitalar. Não estou a dizer que a mulher não pode fazer um parto em casa, mas enquanto médica não sou a favor. É preciso a mulher ter um acompanhamento multidisciplinar, como ter também um pediatra no momento do parto.
O parto em meio hospitalar é uma garantia de segurança… Há histórias muito tristes que acontecem e acho que é importante estar num ambiente seguro para a mãe e para o bebé, porque nós não cuidamos só da mãe, cuidamos também do bebé. Todas as decisões médicas do acompanhamento da gravidez e as relacionadas com o nascimento têm que ser para os dois, não podemos só pensar em um. Toda a equipa tem que estar a pensar na felicidade que é o momento do nascimento e nos pais que têm as expectativas de um final feliz, com a mãe e o bebé saudáveis e felizes.

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